[funchal 56] Estas palavras decorrem de um trabalho de mapeamento fotográfico das áreas destruídas pelo fogo no município do Funchal. Este trabalho está enquadrado no estudo abrangente, sobre toda a cidade, que está a ser desenvolvido pelo Gabinete da Cidade. A fotografia joga um papel ambíguo na medida em que pode fazer imagens apelativas do horror. Não se trata de uma estetização da destruição, mas do fascínio que qualquer aspeto da realidade visível pode exercer sobre quem a observa e, ocasionalmente, se liberta de condições morais decorrentes da vida em sociedade. Um registo desta natureza toma, inevitavelmente, opções; é o apontar a câmara em determinada direção e não noutra, é a exclusão, consciente ou inconsciente, de elementos do campo de captura da imagem. Não há olhares neutros nem leituras objetivas, há aproximações a realidades múltiplas, complexas e esquivas. Na medida em que foram percorridos os espaço públicos afetados pelos incêndios, estas fotografias pretendem, por um lado, ser um documento extensivo do que foi destruído pelo fogo, por outro lado fixar a memória deste momento para que sobre situações futuras se possa intervir de modo mais preparado e esclarecido. Na segunda viagem, em maio passado já encontramos uma outra cidade. É esta a dinâmica imparável de uma cidade viva que recusa a imobilidade e a derrota.
Funchal, 2017 |
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