[pst 021] É como que uma interpretação construída da paisagem alentejana. Sofreu no fim do século XIX profundas mutilações quando se tentou adaptar a casa a funções agrícolas. É uma manifestação da arte mudéjar e um exemplar raro da casa senhorial rural do século XVI português. Não se conhece a origem do nome, mas é anterior ao palácio, pois este seria edificado por D. Afonso de Portugal, arcebispo de Évora, na herdade da Sempre-Noiva. É atribuído ao local o cenário da novela Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
Casa das Torres
[pst 020] O solar minhoto, símbolo da nobreza rural do Norte, representa uma tradição de edificar baseada na utilização de elementos construtivos de raiz erudita e outros de origem local, o que confere a esta arquitetura uma série de variantes e de singularidades. A Casa das Torres, setecentista, adota uma estrutura arquitetónica assente na planta em U, trazida para Portugal no século XVII. A sua volumetria imponente tem como elementos fundamentais os dois torreões e uma escadaria central de acesso ao andar nobre da residência. São dois dos elementos de síntese da casa barroca do Minho.
19. Casa das Torres — Facha. Ponte de Lima. 7 de outubro de 1996. |
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Construção e gesto
[ronda 06] Mas, depois, há a construção civilizacional. E essa construção é feita de gestos individuais que se somam num número ilimitado. E o sentido da vida, poderá ser esse, a edificação de uma casa humana, a luta pelo afastamento de um lugar de origem, de incerteza, de medo. O passado, as mais avassaladoras descobertas científicas do presente, dizem-nos que o mundo é um lugar aberto e indeterminado. Aparentemente as possibilidades são cada vez mais vastas no futuro, a liberdade é cada vez maior.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Ouguela
[pst 019] D. Dinis concede-lhe foral em 1298 e ordena a reedificação do seu castelo em 1310. Ouguela, não longe de Campo Maior, situa-se num morro elevado na margem direita da ribeira de Abrilongo, próximo da sua confluência com o rio Xévora, afluente do Guadiana. É uma pequena aldeia rodeada de muralhas, que se desenvolve em redor de uma antiga praça de armas. Talvez transmitido pela dimensão cósmica da vasta planície, é um exemplo notável de ordem espacial e da dignidade da arquitetura alentejana.
18. Ouguela. Campo Maior. 20 de março de 1996. |
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Chafariz das Portas de Moura
[pst 018] No ano de 1960 Jaime Cortesão responde ao convite de um amigo para visitar algumas regiões do Sul, seduzido "pela necessidade de interpretar a história à luz direta da geografia". Sai de Lisboa por Vila Franca, atravessa o Tejo e a Lezíria, cruza o território alentejano. "E de súbito Évora, sob o tenebroso meteoro, aparece e desdobra-se numa visão que acentua e transcende o real. A cidade caiada de fresco, como é de hábito às vésperas de S. João, radia a sua brancura de espectro milenário. Ressalta nitente de alvura, contra a massa de treva que a envolve. Ganha relevo luminoso e táctil, que confunde e ofusca a vista. O olhar abre-se com pasmo delicado. Será sonho ou realidade? Ilusão dos olhos cansados de aridez? Miragem de charneca? Mas não; o que temos em frente é o próprio espírito revelado da cidade, graças ao acaso daquela hora inefável." (Jaime Cortesão, Portugal - a Terra e o Homem).
17. Chafariz das Portas de Moura — Évora. 4 de abril de 1996. |
terça-feira, 23 de junho de 2015
Rio Tejo
[pst 022] É o maior rio da Península Ibérica e, pela sua posição, o mais importante na estruturação do seu vasto território. Em 1978 dá-se uma das suas maiores cheias e, em Fevereiro do ano seguinte, a maior até hoje registada no Ribatejo, quando o rio subiu quase até aos nove metros em Santarém. Toda a Lezíria ficou submersa. As cheias do Tejo, pelos nateiros que as suas águas transportam e que se depositam na superfície alagada, contribuem poderosamente para o aumento da fertilidade dos campos do vale, já celebrada por Estrabão.
21. Rio Tejo — Santarém. 12 de janeiro de 1996. |
Lugar. Morte
[ronda 07] A vida é um lugar fabuloso onde todo o imaginável conflui. E não há limites. Mesmo a morte, que nos espreita a toda a hora, é um estímulo para a pacificarmos, para a ludibriarmos, para construirmos uma casa onde ela entre, serena, e saia mais completa.
Vida. Evolução. Sentido
[ronda 05] Não se consegue explicar com precisão como começou a vida na Terra. Há várias teorias, mas é provável que nunca se saiba ao certo o modo como tudo começou. Sabe-se que o decurso do tempo levou ao desenvolvimento de formas de vida cada vez mais complexas. Numa sucessão de milhões de anos aconteceram inovações extraordinárias na adaptação a um ambiente sempre em mudança. A consciência, que de resto muitos animais possuem, e a linguagem simbólica, apenas existente nos humanos, são o último passo evolutivo de uma espécie cujo sucesso a levou a povoar todo o planeta num período de tempo relativamente curto. A vida poderá não ter outro sentido que não a adaptação, sobrevivência e a passagem dos genes que nos constituem para a geração seguinte.
Largo da Sé
[pst 017] A escolha de um lugar para habitar tinha um valor fundamental no mundo antigo. Os sítios eram governados pelo genius loci — o espírito do lugar —, e antes de construir celebrava-se um pacto com a divindade local. São inúmeras as situações em que se percebe uma estreita relação entre o objeto arquitetónico e o local onde é edificado. Encontram-se pedras afeiçoadas, da época romana, no embasamento da Sé Catedral de Viseu e é provável que existam no subsolo outros vestígios de povoamentos anteriores. A cidade é edificada numa elevação, centro de um extenso planalto, território granítico da Beira-Alta. É um local de cruzamento de vias de comunicação. No cume, em torno de um largo, erguem-se os edifícios mais significativos.
16. Largo da Sé — Viseu. 13 de abril de 1996. |
terça-feira, 16 de junho de 2015
Regresso sistemático
[ronda 04] Há um regresso sistemático a reflexões anteriores, tentativa de aprofundar, pela palavra, leituras do mundo, de um específica condição humana de diálogo com o visível, consciência de si. Desenho de um mapa.
sábado, 13 de junho de 2015
Terreiro do Paço
[pst 016] Em 1755, a terra estremece violentamente e Lisboa é uma das cidades mais afetadas pelo terramoto. Estava-se no reinado de D. José. Por iniciativa do Marquês de Pombal, a baixa lisboeta é reconstruida segundo uma malha regular e ortogonal, sendo os seus edifícios erguidos de acordo com os mais inovadores e esclarecidos modos de edificar da época. Era, não apenas mais um passo na afirmação de Lisboa como capital de um país, à volta da qual se desenvolve a consciência de Nação, mas também a edificação de um símbolo, que é o da última das cidades mediterrânicas virada para o Atlântico, centro de encruzilhada de grandes rotas marítimas.
15. Terreiro do Paço — Lisboa. 8 de dezembro de 1996. |
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Penhascos
[ronda 03] Na caminhada solitária sobre penhascos debruçados sobre o mar revolto, não podemos deixar de ter a noção da nossa fragilidade, do risco nos nossos passos. Quando vivemos intensamente, a morte parece não existir, não ser possível.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
Porto
[pst 015] Não longe do mar, sob um céu cinzento e húmido, nasce do Douro e desenvolve-se em torno de um morro, em cujo sopé se atravessa o rio. A cidade do Porto ostenta uma singular dignidade, poderosa e profundamente enraizada no seu solo acidentado. É a cidade das revoltas populares do século XVIII, de liberais e burgueses no século XIX, de democratas contra o demorado regime de Salazar, no século XX.
14. Porto. 22 de outubro de 1989. |
quarta-feira, 10 de junho de 2015
Universidade
[pst 014] Em 1941 Portugal é visitado pela exposição itinerante "Moderna Arquitetura Alemã", ou a arquitectura do III Reich. Mostrava-se a estética monumental da arquitetura nazi, dos grandes parques, alamedas, estádios, em espaços que simbolizavam o poder numa dimensão atemporal. Numa altura em que poucas notícias vinham do exterior, os arquitetos portugueses são marcados por este movimento. Na alta de Coimbra procede-se a uma das mais vastas demolições de um centro histórico antigo para, em seu lugar, se construir a Universidade. É a imagem portuguesa de uma monumentalidade forçada e do desrespeito pelo património histórico mais venerável. É paradoxal que os testemunhos do passado tenham sido destruídos para no seu lugar construir um monumento à transmissão do saber académico.
13. Universidade — Coimbra. 2 de maio de 1996. |
terça-feira, 9 de junho de 2015
Um dia
[ronda 02] As notas que se seguem partiram de uma viagem de apenas um dia, mas também de aproximações que duraram anos, a um lugar. O local em si não é significativo, mas é-o o processo. O encontro de uma montanha com o mar, fotografias feitas ao longo de mais de duas décadas. Porto de embarque para rotas desconexas.
1992. |
2015. |
Monte Abraão
[pst 013] A urbe desenvolve-se com o abandono do nomadismo, no período Neolítico, através de pequenos povoados e teve um processo de evolução descontinuo no espaço e no tempo. É por essência o espaço dos homens, ou a concretização do sonho de habitar o cosmos por oposição ao caos, ao mundo natural, à natureza violenta e hostil. No entanto, a paisagem urbana mudou, e o conceito de cidade foi, ou está a ser, alterado. O núcleo urbano, compacto e claramente delimitado, adquire outro sentido. Hoje fala-se em regiões urbanizadas. Atualmente, pensar a cidade e possíveis formas de agir sobre ela, tem que partir do entendimento de uma realidade que inclui a noção de degradamento progressivo.
12. Monte Abraão — Queluz. Sintra. 11 de fevereiro de 1991. |
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Escola Superior de Comunicação Social
[pst 012] De um modo geral, as discussões em torno da cultura portuguesa atual não passam pela recente produção do espaço arquitetónico. É estranho que isso aconteça num país de tão marcados problemas de ordenamento territorial. Apenas a defesa do património histórico liga arquitectos e outros intelectuais. À ausência de uma pedagogia generalizada sobre a feitura da arquitetura contemporânea sucumbem os próprios arquitetos. Poucos e em gestos dispersos procuram o espaço de invenção, a utopia, ou uma ideia de Paraíso.
11. Escola Superior de Comunicação Social — Lisboa. 6 de dezembro de 1996. |
domingo, 7 de junho de 2015
Ponte D. Luís I
[pst 011] A história da Cidade Invicta é também a das suas pontes, da travessia do Douro. A Ponte das Barcas foi destruída durante a fuga da população portuense às tropas francesas, em 1809. Morreram centenas de pessoas. Em 1843 é construída a Ponte Pênsil, sendo ainda visível na margem direita do rio, parte da sua estrutura. Veio a seguir a ponte ferroviária de D. Maria, obra sublime da engenharia do ferro. A Ponte D. Luís foi inaugurada em 31 de Outubro de 1886. Em aço, é formada por dois arcos de curvas parabólicas divergentes e por dois tabuleiros, um superior, que liga a Serra do Pilar ao morro da Sé, e outro inferior, unindo a Ribeira do Porto às caves do vinho generoso de Vila Nova de Gaia. Durante a cheia de 1909, o nível da água esteve a meio metro do tabuleiro inferior, o que voltaria a acontecer em Janeiro de 1962. Foram os momentos mais críticos da vida da Ponte. Mais tarde seria construída a Ponte da Arrábida, depois a Ponte São João, ferroviária, e recentemente a Ponte do Freixo.
sábado, 6 de junho de 2015
Auto Estrada nº1
[pst 010] A partir do final da década de 1950 inicia-se um processo de movimentações sociais, que provocará alterações muito significativas num ritmo secular de desenvolvimento. Embora tivessem existido no passado outros fluxos migratórios, é a partir desse período que se dá uma emigração massiva das áreas de Interior, estagnadas, para os países mais desenvolvidos da Europa e Estados Unidos. Mais tarde, um novo movimento traz muita gente para a periferia das grandes cidades, que acolhem também as populações vindas, em 1975, do Império desfeito. Rompendo com os tradicionais conceitos de espaço regional, desenvolvem-se as regiões dinâmicas à volta de Lisboa e do Porto e ainda o eixo sub-litoral entre Setúbal e Braga.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Ponte sobre o Tejo
[pst 009] Denominada inicialmente Ponte Salazar, essa designação é alterada, após a Revolução dos Cravos, para Ponte 25 de Abril. Todos a conhecem como Ponte sobre o Tejo. Obra-símbolo do poder e do regime do Estado Novo, representa o ponto culminante da engenharia do ferro do século XX português. Inaugurada em 1966, irá provocar profundas alterações na Área Metropolitana de Lisboa, dando início a uma urbanização desmedida e descontrolada da Península de Setúbal.
8. Ponte sobre o Tejo. Almada. 3 de setembro de 1996. |
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Central eólica - Serra do Poio
[pst 008] Constituem uma versão desenvolvida dos moinhos que outrora marcavam o cume dos montes em determinadas áreas do país. Utilizam também a força do vento, não para moer cereais, mas para produzir energia elétrica. Estes delicados gigantes eólicos são fruto da pesquisa de energias alternativas e não deixam na paisagem as pesadas marcas das barragens, nem o ar poluído das centrais termoelétricas.
7. Central Eólica — Serra do Poio. Lamego. 4 de outubro de 1996. |
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Serra do Espinhaço de Cão
[pst 007] Desde tempos imemoriais que as deslocações entre lugares eram feitas a pé ou de burro. O uso do tempo disponível era outro e homens e mulheres andavam por toda a parte. Os caminhos mais longos passavam por povoações, albergues e tabernas. A construção do caminho de ferro não viria a alterar muito esta situação: eram apenas postas em contacto as cidades do Reino. Com o desenvolvimento da rede de estradas, tardiamente construída após a Segunda Grande Guerra, todas as povoações vão ficando ligadas entre si. Deixam de se utilizar os caminhos velhos e muitos lugares tornam-se inacessíveis. Opera-se uma profunda mutação na organização do território.
6. Serra do Espinhaço de Cão. Aljezur. 27 de abril de 1996. |
terça-feira, 2 de junho de 2015
Rio Douro
[pst 006] Orlando Ribeiro escreve em Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: "No Douro, em encostas que até aí só davam mato bravio, começou, no séc. XVII, a levantar-se a escadaria dos geios ou socalcos destinados a suster a terra, em parte criada com a rocha moída, lodos do rio e cabazadas de estrume — a mais vasta e imponente obra humana do território português. Um porto de estuário, um rio navegável, um mercado externo (Inglaterra, Brasil, depois outros países do Norte da Europa) desenvolveram a produção de um afamado vinho licoroso, tratado nos enormes armazéns de Vila Nova de Gaia, onde envelhece; a cidade fronteira deu o nome ao porto e domina a produção".
5. Rio Douro — S. Leonardo de Galafura. Peso da Régua. 19 de maio de 1996. |
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Oliveiras
[pst 005] É difícil de precisar se foram os Romanos que trouxeram a oliveira das margens do Mediterrâneo, ou se já a teriam encontrado na Península Ibérica. Sabe-se que foi dos Romanos que os Visigodos a herdaram. Dela se extrai o azeite. Vive em solos pobres, sob um clima quente de estios demorados e é, com a sua estrutura meã, o seu verde seco e perene, um dos símbolos do Mediterrâneo.
4. Oliveiras — Monte de Sete Vais. Fronteira. 19 de março de 1996. |
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