sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O vazio significante

Serra do Gerês. 2012
[Gerês 57] Não há procura de transcendência neste mundo distante, mas próximo. Talvez se procure apenas um vazio significante e desvinculado, ou o entendimento de uma posição no Universo. (Aqui terminam os textos relativos a uma viagem ao Gerês, realizada em agosto de 2012).

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Arquitetura maior

Serra do Gerês. 2012
[Gerês 56] Este é o retrato de uma arquitetura maior, a margem impossível de objetivar de uma montanha, os caminhos em que a fotografia quer ser labirinto, espaço virtualmente real por representar lugares palpáveis e por os recrear em objetos de leitura, interpretações. Arquiteturas vagas, sítios imaginários como os que encontramos nas páginas de um livro, de uma qualquer publicação ou num arquivo fotográfico onde esteja plasmado o desejo de fixação dos lugares humanos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A câmara e a terra

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 55] Estas viagens têm uma dimensão interior, uma vivência exacerbada, excedida, uma incontida relação de fascínio pela natureza dos lugares, uma relação animal com a terra, arcaica, incontrolada. Tudo mediado por uma câmara fotográfica, um elemento de contemporaneidade que agarra uma realidade imediata. A câmara é um objeto determinante do viajar. Quando se procura o sentido deste movimento não pode deixar de ser questionada a presença da câmara, como elemento constituinte da essência de tudo isto, do documentalismo procurado.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Código de vida

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 54] Há nestas fotografias uma busca continuada e persistente que já conta mais de vinte e cinco anos. Há como que um permanente regresso à condição de fugitivo. Há momentos em que parece atingirmos um ponto de equilíbrio, uma luz fugaz e breve num oceano distante. Mas o espaço contínuo, o território que pisamos, é sobretudo um mar de esforço e de luta para não parar, para enfrentar todas as adversidades de um caminho tortuoso e íngreme que se sobe, que se desce. Mas há uma pulsão vital em tudo isto que se prende, talvez, a um movimento evolutivo inscrito, seguramente, numa genética que muito transcende a própria natureza humana, mas que estará presente no código da vida de todos os seres vivos, terrenos.
Serra do Gerês.1991

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O paraíso não

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 53] Há espaços que procuramos, há lugares que, não sabendo se existem, são como que a persecução de um sonho, um pouco como a ideia de paraíso, ou de uma terra prometida, a construção ao longo de gerações de um imaginário, talvez de uma eterna inexistência. Essa procura tem aqui duas frentes: uma é no terreno, no exercício da captura fotográfica; outra é na construção de um enorme arquivo fotográfico. São as teias quase intermináveis e complexas que se estabelecem entre as fotografias, entre os lugares representados, uma realidade imaginária.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ondas reflexas

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 52] Este, como afirmado no texto "desenhar caminhos" (Gerês 13 - 27 de setembro de 2012), não foi o relato de uma viagem ou a descrição de um itinerário percorrido, foram as ondas reflexas de pensamento, na ambiguidade entre o visível e um universo imaginário. Há um mundo material sobre o qual repousa o nosso olhar, objeto de descodificação humana, e há uma estranha virtualidade, ou um infindável deambular pelos pensamentos que geram pensamentos que, em momentos breves, emergem à superfície de um caos de alietoriedade, momento em que podem ser fixados em palavra. É a procura da lucidez, a clareza de um conceito espacio-temporal, a verdade talvez, uma vivência interior e a tentativa de descodificação dos lugares atravessados. A fotografia é a expressão mais pura e intuitiva de uma relação com a paisagem e esta escrita tenta perceber as imagens depois do tempo da sua captura, num mergulhar cada vez mais fundo nos passos que se deram, num passado colado a este presente, mas com uma duração por vezes de várias décadas. A fotografia é uma forma de expressão de pensamento, mas estas palavras querem com ela estabelecer uma relação de complexidade, um novelo operativo que condiciona os dois fazeres no decurso do tempo.
Serra do Gerês. 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Virtual, abstrato

Serra do Gerês. 1991

[Gerês 51] As fotografias são aqui como pensamento, como algo que se estimula a si próprio para a criação de um discurso que por um lado é lúdico, mas por outro, tenta criar lugar e espaço de habitar de singular virtualidade. Um jogo interminável, continuo, num espaço-tempo inventado, de momentos de elevada complexidade e abstração.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Lealdade

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 50] Um pacto de lealdade com a montanha, a montanha que nos mostra a força extraordinária da Natureza. Estamos num lugar limite da condição de habitar, um lugar onde os invernos são de uma dureza extrema, e mesmo no verão por vezes somos surpreendidos por uma violenta oscilação térmica, por uma chuva pesada inesperada ou por um nevoeiro denso que nos isola da paisagem envolvente. Nas noites temos o imenso cosmos em frente dos nossos olhos. No alto das montanhas estamos mais próximos desse cosmos longínquo, de todos os mundos misteriosos, de uma imaginária vida diversa, tremenda e invariavelmente diferente. Há, na montanha, qualquer coisa que nos chama para uma essencialidade despojada, há um clima e um isolamento que não permitem os passos levianos de ambientes urbanos.
Serra do Gerês. 1991

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Montanha espelho

Serra do Gerês. 2012
[Gerês 49] O Gerês revela como que a dimensão interminável do espaço português é um lugar quase desconhecido, de uma enorme grandiosidade. Com as suas reduzidas dimensões, quando comparadas com outros países, Portugal revela uma extraordinária diversidade paisagística e, consequentemente, de povoamento humano. Este é um dos seus principais caracteres distintivos no contexto do que poderia ser uma oferta turística em que os visitantes, incluindo os nacionais, não precisariam de se deslocar grandes distâncias, para se confrontarem com o espanto da diversidade de um território, que ao longo de séculos revelou formas únicas de como as populações se adaptaram e construíram uma identidade vincada na relação e no compromisso com a terra.
Serra do Gerês. 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um país enorme

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 48] Talvez mais do que qualquer outra coisa quer-se aqui mostrar que Portugal é uma país imenso, que uma investigação cuidada sobre as suas paisagens se depara, creio que invariavelmente, com uma sensação de infinitude. Então nascem aí novas viagens, novos itinerários construídos sobre a impossibilidade de tudo percorrer quando se está num movimento como este aqui descrito. Este caminhar é uma saída da estrada. Se aproximarmos o olhar da terra, encontramos micro-paisagens, que são a saída dos caminhos e quase como penetrar numa realidade completamente nova que nega a possibilidade de um documentalismo fotográfico exaustivo. A fotografia abeira-se de um mundo quântico, onde as leis conhecidas, um tradicional mundo sensorial, deixa de fazer sentido. É perdida a nossa capacidade de entendimento de um universo fratal.
Serra do Gerês. 2012

Serra do Gerês. 2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A face da Terra

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 47] Como nenhum outro espaço em Portugal, a serra do Gerês, pelo seu isolamento e inacessibilidade, mostra-nos a pele de um planeta que nos precedeu como espécie, a força da Natureza, próxima, onde podemos imaginar uma condição intocada.

sábado, 3 de novembro de 2012

A batalha abandonada

Minas do Borrageiro. Serra do Gerês. 2012
[Gerês 46] Não há, não pode haver, o anular de todo o espaço-tempo que ficou para trás, mas o Gerês revela-nos uma dimensão nacional, talvez planetária, singular. Mostra-nos as marcas precárias de um processo civilizacional, com séculos de existência, que não desenvolveu uma estratégia humana evolutiva. Pelo contrário, pelo seu isolamento e por um ambiente económico, humano, que lhe é completamente estranho, prepara-se para a devolução à Natureza, de uma batalha perdida.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O significado do Gerês

Serrado Gerês. 2012

[Gerês 45] No Gerês não estamos a falar de territórios insulares não povoados ou de dimensão reduzida, como as Formigas, nos Açores, ou as Desertas, na Madeira. Trata-se de uma área continental suficientemente extensa para nos questionarmos sobre algumas leituras generalistas que por vezes se fazem do espaço português, que querem tomar a parte pelo todo. Se algo há de comum nos espaços urbanos, ou numa franja de solo próxima do Atlântico, entre Setúbal e Braga, há também uma quantidade de terra que foge a qualquer tentativa de classificação. Há paisagens significantes que não são visíveis da estrada. A área da serra do Gerês é, talvez, o dobro da área ocupada pela cidade de Lisboa. A serra não é habitada por milhões de pessoas e está muito longe de ser um interminável labirinto urbano, mas a sua extensão terá de ser tida em conta quando se faz uma análise do espaço português, da sua enorme complexidade. Acaba por ser uma paisagem completamente marginal que não é aquilo a que se convencionou chamar Minho, ou Trás-os-Montes, é uma montanha de uma grande singularidade e autonomia simbólica.
Serrado Gerês. 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mais, menos ciência

Serra do Gerês. 2012

[Gerês 44] Mais do que estudos científicos sobre aspetos particulares da geomorfologia da serra do Gerês, da sua geografia física ou humana, antropologia ou etnografia, biologia ou outros ramos da ciência, qual é o significado desta montanha no espaço português, ou numa determinada condição de habitar a terra, em que a inacessibilidade parece ser uma das marcas mais evidentes?