sexta-feira, 20 de junho de 2025

Entropia em exercício

[velocidade_utopia-4/9] O pensamento das cidades é como caminhar, desenhar, escrever, construir. O princípio e o fim, simultâneo, de um desejo de povoamento. Entropia em exercício e, nesse sentido, uma vertiginosa viagem que percorre hoje, todos os tempos da vida, da história, do lampejo de um planeta raro. Aceleração desintegradora, fértil ou mortal, do viajante mais ousado. Espreitar abismos incógnitos com sonhos de regresso. Escrever um relato de impossibilidades. Uma peça de arte, poema, sobre os escombros velados da mais antiga cidade, sob os nossos pés. Chão denso, lido pelo ideário da liberdade.

Valença, 2024

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Devassa

[velocidade_utopia-3/9] Há dureza neste exercício, uma certa devassa de territórios alheios. Entramos dentro de mundos estranhos, que não se revelam diretamente. Espaços domésticos, não sendo de intimidade, não são visitados por estranhos. Esta é uma viagem que desvela o avesso dos lugares. Ora descuidados, ora em frentes desenhadas. A ordem que procuramos já não é aquela que nos mostram os nossos olhos quando percorremos as mais recentes e periféricas ruas, numa cada vez maior densidade toponímica, como outra camada de urbanidade.

Viana do Castelo, 2024

 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Deixar de ser imagem

[velocidade_utopia-2/9] Há o desejo de estar, de conhecer, de fotografar todas as cidades. Mas o que nos devolve esse movimento sobre cada cidade contínua e ilimitada? Há um conjunto de imagens cada vez maior. Há um arquivo que cresce, que deseja ser o espelho, tornar acessível uma visualidade multidimensional tão difícil de captar. Criar novas camadas de realidade, quando a fotografia deixa de ser imagem para integrar o fluxo do espaço-tempo.

Penafiel, 2024

 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Qualquer cidade

[velocidade_utopia-1/9] Percorremos as ruas de uma qualquer cidade portuguesa. Há edifícios de várias épocas históricas. Fazemos fotografias do espaço e do tempo. Não é fácil interpretar a realidade. Há evidentes contradições, paradoxos espaciais. É importante, creio,  alhearmo-nos de juízos de valor, de qualificações, de procurar adjetivos que façam distinções supérfluas sobre as arquiteturas. Do solo emana a permanência. Há um desenho urbano que fica desde a origem da cidade. Os edifícios vão sendo intervencionados, abandonados, derruídos, reconstruídos, mas no solo permanece o vazio das linhas de comunicação que uniam todas as construções. Na descodificação dessas linhas, tão difíceis de interpretar pela fotografia,  está a ponte que nos liga a um passado muito recuado. Aí fica a maior singularidade das cidades, a sua marca identitária, o aconchego de humanidade a uma topografia pré-existente. É o princípio da utopia.

Portimão, 2024

 

sábado, 21 de dezembro de 2024

Ficha técnica (do mapeamento fotográfico)

[Lugares livres 53] 154 sessões/dias de campo em território do município de Viseu, entre os dias 21 de fevereiro de 1996 e 8 de julho de 2023. Foram feitas mais de 116.044 fotografias (num arquivo com 2.049.976 de fotografias este é o espaço com uma maior extensão de fotografias feitas de um único local, representando 5,66% do total das fotografias em arquivo). A listagem que a seguir se dispõe representa as 154 sessões, dias de campo, que constituiu a base deste trabalho. Cada unidade contém cinco indicadores: número de ordem, data (com ano, mês e dia), os números das fotografias/ficheiros em arquivo, o número de fotografias realizadas e o lugar, ou lugares, fotografados. [Esta é a última publicação da série Lugares Livres, relativa ao livro com o mesmo título editado pelo Museu da Paisagem].


 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Urbe fictícia

[Lugares livres 52] Como se na simulação de uma urbe fictícia encontrasse a terra, perfeita, que toda a vida procurara. Como se no fim, depois da última viagem por mínimos lugares ao redor, dentro de casa, encontrasse apenas um rosto, sereno. Nessa face, o desenho de um mapa, a decifração do Universo. No fim de todas as lutas do quotidiano, descobrir, no inexistente reflexo de um espelho, todo o sentido da ausência, enfim, a integração num fluxo cósmico. A ordem plena antes da mais indizível explosão.

Parque Urbano da Aguieira, Viseu, 2010

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Hesitantes caminhos

[Lugares livres 51] Encontrar tudo o que não foi expresso por desenhos, palavras ou fotografias, a dimensão não revelada de passos hesitantes, caminhos falhados, erros transformados em arquitetura de possibilidades. A vida em imparável movimento.

Esculca, Viseu, 2023