sábado, 13 de janeiro de 2024

Passagem

[Fotografia-conhecimento 6/6] Fixar a efemeridade da passagem, da visualidade das viagens em fuga. Reencontramos, breve, o movimento em campo, na tentativa de tudo fotografar, em que já não é só a luz que se dilui na direção da noite, é também a capacidade física do fazedor, do fotógrafo, que se esgota. Vemos partir algo que já não temos possibilidade de agarrar. Não há a angústia da perda. Serenamente, procuram-se outras soluções para continuar. Quando uma linha se perde, há outras geometrias que surgem. Somos fragmentos em movimento aleatório pelo Universo. A vida é o movimento da matéria em busca de um sentido inexistente.
 
Praia da Luz, Lagos, 2023

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

Múltiplos saberes

Fotografia-conhecimento 4/6] As fotografias conduzem-nos a um processo de aprendizagem do olhar, da observação. Somos transportados ao conhecimento do mundo, à possibilidade de cruzarmos múltiplos saberes. Ensaiamos formas gráficas de tradução da memória e linguagem que se erguem do caminhar, das fontes, reais e imaginárias, onde fazemos pausas na permanente viagem da vida. Mapas, quadros, diagramas. O que fica para lá das imagens fotográficas, pictóricas. Desenhos dinâmicos a que somos transportados pelo pensamento, pelo desejo de uma síntese clara da condição, individual e simultaneamente coletiva, ancorada na contemporaneidade que habitamos.

Praia da Luz, Lagos, 2023

 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Expressão, tradução

[Fotografia-conhecimento 3/6] O trabalho de mapeamento fotográfico do território, da paisagem e da arquitetura, desenvolve-se, não raras vezes, em exaustão física. A grande quantidade de imagens produzidas resulta da ansiedade de tudo querer fotografar, de não perder nada, tudo registar, quando, simultaneamente, tudo foge, se escapa, como a água que tentamos reter nas nossas mãos. Paradoxalmente, não há um sentimento de perda, tal é o envolvimento, a integração num universo significante, afastado dessa sim, ânsia de resposta a códigos sociais. Habitar, momentaneamente, uma indizível liberdade. Estas palavras são uma aproximação a essa procura, à expressão, à tradução, de uma realidade noutra diferente, mediada.
 
Praia da Luz, Lagos, 2023

 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Sedimentos, memória

[Fotografia-conhecimento 2/6] O exercício de uma recolha fotográfica extensiva de um determinado lugar, seja ele natural, rural ou urbano, é, aqui, entendido como um movimento performativo sobre a terra. A marca que deixa é um conjunto de imagens. Há uma experiência de vida, intensa, de concentração, de foco pleno. Ao mesmo tempo é ausência de um quotidiano funcional, de múltiplas respostas a solicitações concretas. Um trabalho disruptivo, contaminado por pensamentos dispersos que abarcam todo o passado vivido, o presente e a projeção do futuro breve. Cada viagem, cada caminhada, é diferente de todas as outras. Há sucessivos sedimentos de memória que dialogam entre si.
 
Praia da Luz, Lagos, 2023

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Milimétrico visível

[Fotografia-conhecimento 5/6] Este trabalho fotográfico opera num território híbrido. Por um lado o levantamento, o registo visual do espaço e do tempo dos lugares. Por outro lado há um olhar que não é neutro, apesar de um desejo de objetividade. Nada é absolutamente concreto. A fotografia opera seleções do visível, por vezes milimétricas, na alteração de um ponto de vista, que altera drasticamente a significação, a leitura da imagem. Fazer arquitetura com as fotografias, um espaço referencial de partilha e de conhecimento da realidade, para o mundo. A arquitetura assume o carácter simbólico, a súmula de uma condição humana. É o assumir de um passo evolutivo determinante, a construção de um habitat complexo, o corte progressivo com uma natureza intacta, dura, violenta, hostil. No coração de uma cidade, encontramos a força telúrica dos elementos em diálogo, estranhos e poderosos, de um planeta inteiro, de uma casa comum. Na impermanência, na beleza evolutiva dos equilíbrios pontuais de todas as formas da vida, encontramos matéria para continuar.

Luz, prox., Lagos, 2023


 

Imagens-metáfora

[Fotografia-conhecimento 1/6] Caminhar com uma câmara fotográfica, com o desejo simultâneo de conhecer a terra, a geologia, o coberto vegetal, as marcas, das mais simples às mais variadas e complexas, do povoamento humano. Criar um registo visual, imagético, da maior quantidade possível de elementos, sabendo que é sempre limitada essa capacidade de tudo fotografar. Mas ficarão imagens-metáfora, simbólicas, representativas da realidade visível. Como janelas de infinito que questionam quem sobre elas se debruça, que causam, eventualmente, inquietação, que estimulam formas mais ricas e informadas de interpretar a nossa condição de seres biológicos inseridos numa biosfera de extrema diversidade.
 
Luz, prox., Lagos, 2023

 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Porto Novo

[pst 488] Na Praia do Porto Novo desembarcaram as tropas inglesas, em Agosto de 1808, que viriam a contribuir para a derrota do contingente francês na batalha do Vimeiro. Junto ao mar, no sopé de uma elevação que separa a praia do Porto Novo da praia de Santa Rita, situa-se o lugar piscatório de Porto Novo. Os pescadores procuraram um ponto alto para implantar as antenas de televisão.

Antena — Porto Novo. Torres Vedras. 9 de maio de 1996