[Lugares livres 49] A arte é um lugar onde podemos chegar na interminável caminhada que herdámos dos nossos antepassados, de toda a humanidade, em fragmentos descontínuos. O belo é uma forma de inquietação gerada pela sua estranheza. Representações de uma luta, biológica, intemporal. O enigmático sentido da violência disfuncional e, simultaneamente, convite, sedução. Uma síntese do entendimento da vida, na sua indizível sofisticação, na evidência de estarmos em confronto com situações, interpretações, contraditórias, insanáveis. Procuramos um possível significado da palavra habitar. Encontramos a arte como racionalização de um combate e de uma impermanência, proposta de entendimento do Universo. Profunda utilidade, existência em ensaio de si própria. A arte é desenvolvimento e evolução antropológica. É a procura de soluções sobreviventes. A continuidade no espaço-tempo, o deixar raízes, criar memória, propor formas diferentes, tentativas de observação do futuro. É estarmos perante a construção da ordem, arquitetura, face ao imparável avanço da entropia. Talvez o caos não exista, mas apenas a incapacidade de lidar com o excesso de informação gerada pela própria vida no seu irredutível desejo de imortalidade.
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Espuma dos Dias (2018), detalhe de escultura de Liliana Velho, Viseu, 2023 |