quinta-feira, 29 de novembro de 2018

São Gens

[procurar um país 148] É o universo religioso com as suas múltiplas criações de figuras mitológicas reflexo de um tempo concreto. O branco da cal e a policromia em representações esquecidas, que falam para o vazio de um território em abandono. É o transporte a um um tempo antigo de cores que se perderam. Tourém, 1988, capela de São Gens, um dos locais mais a norte desta região, uma “península” que avança por terras espanholas. Mundo rural limite.

132. Capela de São Gens. Tourém. Montalegre. 1988

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Agripina

[procurar um país 147] Um nome, Agripina Minor. Hoje uma mulher imortalizada, mármore branco. Histórias, literatura, narrativas para a invenção de um futuro breve. Cabelos em caracóis mínimos, de detalhe estranhamente belo, revelam um quotidiano perdido em milénios. É uma mulher que nos transporta ao presente, que nos mostra um salto no tempo de que perdemos as pedras do caminho. A delicadeza inquietante de uma obra de arte. O inexplicável de um fazer, de um gesto tentado, conseguido.

131. Agripina Minor. Museu de Faro. 2004

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Ídolo

[procurar um país 146] Figuras de tempos antigos que nos interrogam. Fontes urbanas em lugares ocultos. Cidades maiores. Braga foi uma importante cidade do Império Romano, na Península Ibérica. Hoje, a descoberto, são poucos os vestígios deixados por esse período civilizacional. A Fonte do Ídolo permanece, com as suas figuras que hoje parecem interrogar-nos, como que num diálogo de silêncio, entre seres de tempos distantes, de línguas desconhecidas. O espanto de parecer sermos os mesmos.

130. Fonte do Ídolo. Braga. 1995

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Santa Clara-a-Velha

[procurar um país 145] Há qualquer coisa cinematográfico nalgumas situações, nalgumas fotografias. Há um imaginário que parece querer ter associado o movimento, a narrativa, a passagem do tempo. Estranheza como modo de habitar. Jogo da vida em lugar inusitado.

129. Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Coimbra. 1988

domingo, 25 de novembro de 2018

Rio Côa

[procurar um país 144] Viajar com amigos, partilhar as experiências, no momento, em comunidade, muitas vezes no silêncio do espanto. Parar. Contemplar um planeta fascinante. Lugares imensos onde nos leva o grande rio da vida. São as memórias fixadas em fotografias que se encontram muitos anos mais tarde quando as luzes dos povoados humanos parecem refletir o cosmos estrelado.

128. Rio Côa. Algodres. Figueira de Castelo Rodrigo. 1996

sábado, 24 de novembro de 2018

Noites Frias

[procurar um país 143] O espanto das noites frias, de luar, de visibilidade densa e cristalina. As longas exposições fotográficas, a continuidade do trabalho pela noite, a procura de uma luz sempre diferente, porque a procura do belo, a representação de um fascínio que permanece, é muito essa insaciedade, continuidade na procura.

127. São Gabriel. Vila Nova de Foz Côa. 1995

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Amarela

[procurar um país 142] As caminhadas antigas. O encantamento dos lugares pela primeira vez. Quando tudo era arcaico relativo a todo o tempo e espaço que entretanto passaram, quando tudo era vivido pela primeira vez.

126. Serra Amarela. Terras de Bouro. 1987

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Gerês

[procurar um país 141] O desejo de continuar a caminhar, de voltar ao terreno, de sentir o respirar da terra. Há a noite que se anuncia. Procuramos um lugar pernoita. Um trilho, como se a noite nos levasse em contínua caminhada. Não é possível parar.

125. Serra do Gerês. Montalegre. 2012

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Castelo de Vide

[procurar um país 140] Um auto retrato como quem procura aquilo que nunca vê, uma imagem de si próprio. A consciência de um corpo que se desloca, de matéria viva de relação com os outros seres vivos, com o solo, dimensão geológica, com a meteorologia, com o cosmos revelado na noite. Somos imagens reflexas em máquinas do tempo que nos transportam. Somos vertigem em afastamento da natureza.

124. Castelo de Vide. 2011

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Sombra

[procurar um país 139] Uma sombra como quem procura uma imagem de si próprio, dados para a fixação de uma identidade fugidia. Forma de nos representarmos nas próprias paisagens. Esta é, no fundo, a imagem final que procuramos. Temos a companhia solitária de nós próprios. Consciência momentânea de, apenas, sermos. Primeira e última imagem. Mistério dos passos na consciência de si.

123. Serra do Gerês. Montalegre. 2014

domingo, 18 de novembro de 2018

Rio Sabor

[procurar um país 138] Os elementos estruturais de um planeta, a repetição de um caminhar milenar. Um rio como uma barreira impossível de atravessar. Como se procurasse recursos de sobrevivência. Na impossibilidade, ou recusa, talvez, de nos representarmos a nós próprios, ficam os objetos que nos acompanham em caminhada.

122. Rio Sabor. Torre de Moncorvo. 1999


sábado, 17 de novembro de 2018

Mapa antigo

[procurar um país 137] Um mapa antigo desenhado com os seus imensos detalhes e toda uma imensa toponímia. Os mapas são as tentativas desenhadas, sempre em evolução, para a representação dos territórios, para o conhecimento da terra. Desenho de algo que se procura e que constantemente nos escapa, o nosso próprio mundo de sonhos, reflexo ímpar do tempo e da face dos seus criadores

121. Mapa. Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2008

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Vilarinho das Furnas

[procurar um país 136] Vilarinho das Furnas é como uma cidade antiga transformada em mapa, esvaziada de todo o seu detalhe de quotidiano, de habitantes dispersos pelo mundo. Em 1971 foi concluída a barragem de Vilarinho das Furnas. Começou então o enchimento da albufeira. Os últimos habitantes do lugar teriam que ser retirados compulsivamente pela Guarda Nacional Republicana. Hoje é uma albufeira que esconde um lugar fantasma que raramente se torna visível.

120. Vilarinho das Furnas. Terras de Bouro. 1989

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Curalha

[procurar um país 135] Ramos para queima num fogo de inverno que, momentaneamente, são linguagem, como que origem de escrita. Desenho.

119. Curalha. Chaves. 1996

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Fonte Arcada


[procurar um país 134] Concavidades alinhadas, desenho breve de um mapa imaginário. Jogo antigo, primitivo, inscrito no tempo longo de um mineral. Infância deixada na imortalidade de uma pedra, no adro e uma igreja. Pontos, também, para um imaginário de viagens.



118. Fonte Arcada. Sernancelhe. 1996

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Praia do Tonel


[procurar um país 133] Pedras que são mapas, que são desenhos. Um ponto de paragem para leitura da paisagem. Seguir outro caminho, inicialmente não previsto. Conhecimento que flete face aos novos dados que se encontram. Este é o mapa de todas as viagens, de todos os tempos, mas também o fragmento dessa interminável viagem desenhada em múltiplas superfícies.

117. Praia do Tonel. Odemira. 2014

sábado, 10 de novembro de 2018

Pedra Cobra

[procurar um país 132] A pedra da Lufinha é um labirinto desenhado numa rocha, a céu aberto, que chega até hoje como um enigma a resolver. Foi esculpido antes da escrita, foi, talvez, um passo evolutivo que conduziu à palavra. São já representações simbólicas do mundo. A “palavra” representa uma conquista que foi sendo sucessivamente aperfeiçoada ao longo de milénios.

116. Pedra Cobra. Lufinha. Viseu. 1996

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Cabo Mondego


[procurar um país 131] A nomeação dos lugares. Os topónimos para sempre perdidos. Que nome vamos dar a esta terra? Procuramos desenhos, mapas, que nos indiquem caminhos, que nos abram horizontes de possibilidades novas de conhecimento, de sobrevivência à voracidade do tempo que passa.

115. Fóssil. Cabo Mondego. Figueira da Foz. 2014

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Ribeira de Piscos

[procurar um país 130] Os mais antigos desenhos, traços sobre as pedras, voltados para o rio. Primeiras representações conhecidas de um processo de apreensão do mundo. É este um dos fascínios maiores da gravuras do Côa. São desenhos como mapas, linhas, representações, literais, do mundo, mas também simbólicas. Metáfora de uma construção a partir do visível, edificação, depois, de uma realidade paralela.

114. Gravura rupestre. Ribeira de Piscos. Vila Nova de Foz Côa. 1996

A Fábrica Confiança

As antigas instalações da Fábrica Confiança, em Braga representam o último edifício industrial de um conjunto de outras unidades fabris que integravam a malha urbana da cidade e que, aos longo de tempos recentes, têm vindo a ser demolidos. Este complexo é atualmente propriedade da Câmara Municipal. Mas está marcada uma hasta pública para a alienação do imóvel e a entrega a privados. O destino não será difícil de imaginar: deverá ser preservada a fachada, ou parte dela, e todo o resto demolido para a conversão, provável, em habitação e comércio.
O que está em jogo é o desaparecimento de uma memória significativa da cidade de Braga. O património industrial é de uma enorme fragilidade. Os poderes políticos, nomeadamente os autárquicos, têm dificuldade em compreender este legado. Não será suficientemente antigo, não apresenta os traços de erudição de outras arquiteturas. Mas o património industrial conta-nos uma história. Essa história é a da fundação das cidades tal como hoje as conhecemos, mais, é a fundação do modelo social de que todos fazemos parte, no mundo ocidental.
As cidades têm uma fundação muito antiga, que remonta aos alvores do Neolítico, com a fixação das primeiras comunidades humanas. Em traços muito genéricos, com o Renascimento e com o processo de globalização iniciado com os navegadores dos séculos XV, começa a haver um maior distanciamento à ruralidade, a uma excessiva dependência do que a terra dá. O comércio dá origem a uma sociedade em transformação. Mas será só no século XIX, com a primeira Revolução Industrial, que se vai operar uma transformação profunda das cidades e da própria sociedade. É fundada a contemporaneidade. A Revolução Francesa é o símbolo maior desta fratura. Emerge a classe média. Uma sociedade mais justa e igualitária começa a ser desenhada.
Regressamos à Fábrica Confiança. O eminente risco da sua perda é o apagamento de uma memória de lutas pela justiça e pela igualdade tão bem expressa na malha urbana das cidades. A manutenção prometida de uma fachada apenas poderá ser o símbolo de uma cultura de falsidade e de incompreensão face ao significado da arquitetura. É a estrutura do edifício que evoca a sua memória. A fachada não pode ser apenas um postal ilustrado. A descaracterização do complexo Confiança é criar em Braga um vazio na leitura de uma linha temporal com mais de dois milénios de história. É empobrecer irremediavelmente um processo urbano admirável, mesmo que não isento de erros, que ainda hoje tem continuidade e que faz de Braga uma cidade de grande vitalidade.
Não há nenhuma fotografia, nenhum plano bidimensional, que substitua a vivência do espaço. Não se pode musealizar todos os edifícios do passado. Quando apenas resta um, com todas as condições para a conversão em programas de uso que serão bem mais úteis, para o futuro, do que encaixe de euros imediatos, teremos que pensar no gesto seguinte. Quando quisermos explicar as cidades aos nossos filhos não vamos dar saltos, branquear momentos que, muitas vezes, foram de dor e sofrimento. É o conhecimento do passado que nos pode libertar para um futuro de desenho mais sublime. Defendamos a Confiança.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Convento de Cristo

[procurar um país 129] O Convento de Cristo, em Tomar, é um dos mais significativos conjuntos de toda a arquitetura portuguesa. É como que significado da arquitetura, uma desejada intemporalidade. Marca forte de uma cultura que se construiu a partir de uma interpretação da ideia de Deus e que se foi adaptando ao correr dos séculos, de todos os tempos.

113. Convento de Cristo. Tomar. 2007

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Mosteiro dos Jerónimos


[procurar um país 128] O teto da Igreja do Mosteiro de Santa Maria dos Jerónimos, que se ergue a uma altura significativa, é um rendilhado que, apoiado em enormes colunas, substitui o céu.

112. Mosteiro dos Jerónimos. Lisboa. 2007

Os touros e a liberdade

Numa viagem recente atravessei Portugal de norte a sul. Já em terras alentejanas paro o carro para fotografar animais a pastar. Quando me aproximo da cerca, as vacas e os bois levantam a cabeça e olham-me fixamente. Por breves momentos como que se estabeleceu ali um diálogo entre duas espécies biológicas diferentes. Fiz algumas fotografias. Haveria de recordar, mais tarde, outros encontros com animais, outras imagens, num percurso mental pelo meu arquivo fotográfico.
Não posso negar que tenho dificuldade em compreender que espetáculo é esse em que se amputa a principal arma de defesa de um animal, os seus chifres, e se o empurra para o centro de uma arena, onde, do alto de um cavalo leve, rápido e ágil, é proporcionada ao cavaleiro a posição dominante e segura para espetar bandarilhas no seu dorso. O sangue não tardará a escorrer pelo seu corpo negro, musculado e pujante. O animal, longe dos horizontes vastos em que cresceu, vai revelar um sofrimento crescente.
As touradas são a exibição pública de um confronto entre duas espécies em que há uma que sai sempre derrotada. A aparente manifestação de bravura dos toureiros é o símbolo arcaico de sociedades desiguais em que um macho dominante simbolizava a defesa contra os inimigos da comunidade, fossem eles de tribos rivais ou as próprias intempéries vindas do céu ou os abalos da terra.
O mundo mudou. Terá passado o tempo em que as touradas eram elogiadas em páginas de bela literatura. Hoje há enormes problemas ambientais com a que a humanidade se defronta. É o aquecimento global ou a extinção acelerada de numerosas espécies. Está em risco um equilíbrio planetário do qual dependemos para a nossa própria sobrevivência. Poderá parecer que as touradas nenhuma relação têm com os problemas ambientais com que nos deparamos na atualidade, mas têm tudo em comum. É a continuidade de uma atitude arrogante perante a Natureza. Assumamos a nossa condição animal. Será quando nos soubermos reintegrar, regressar, em certa medida, à Natureza, respeitar as outras espécies que connosco partilham esta casa comum, a Terra, que daremos um passo em frente num processo civilizacional que não tem regresso.
Há muitas coisas que estão mal na nossa sociedade, há tradições profundamente nefastas que urge ultrapassar. Uma tomada de consciência sobre aquilo que realmente podemos ser como espécie biológica, no contexto desta contemporaneidade, poderá conduzir-nos a uma sociedade mais livre, justa e igualitária.
Talvez apenas o conhecimento nos transporte a estados clarividentes de consciência de tempo, de espaço, de vida. O conhecimento do mundo baseado nessa fascinante narrativa que a ciência nos tem vindo a desvendar, tão sabiamente acompanhada pelas leituras da arte, da poesia, das intuições disruptivas, é uma estrada fascinante. Olhemos longe o horizonte. Projetemos viagens que não signifiquem a anulação, a destruição do outro, seja ele humano ou não. Já nos podemos libertar dessa cruel e bárbara dimensão que ao longo de milénios fez de nós a mais poderosa máquina de sobrevivência e destruição. A extinção das touradas será bom sinal para uma humanidade mais livre, para um mundo melhor.

Serra do Gerês. 1991

domingo, 4 de novembro de 2018

Sempre-Noiva

[procurar um país 127] O palácio da Sempre Noiva terá sido construído na transição dos século xv para o século xvI. No local já existiria um torreão anterior a essa data e foram mesmo encontrados vestígios da presença romana. O edifício foi tendo obras ao longo do tempo, algumas das quais, durante o século XIX, terão causado uma descaracterização considerável da sua primitiva traça renascentista. Numa das salas uma enorme aranha parece estar fixada ao teto, a estruturar a sua sustentação, a definir uma cobertura. Lugar enigmático, forte, inquietante.

111. Palácio da Sempre-Noiva. Arraiolos. 1992

sábado, 3 de novembro de 2018

Águas Livres


[procurar um país 126] Aqueduto das águas livres, um túnel para o transporte da água. As grandes arquiteturas, construções, lineares, que atravessam paisagens distantes. Na cidade de Lisboa será uma monumental homenagem ao significado da água em toda e qualquer civilização.



110. Aqueduto das Águas Livres. Belas. Sintra. 1992

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Estádio Municipal de Braga


[procurar um país 125] Os desenhos sublimes da contemporaneidade da arquitetura portuguesa. Numa antiga pedreira desativada, nos arredores de Braga, foi construído um estádio.



109. Estádio Municipal de Braga. Braga. 2005

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Oliva

[procurar um país 124] A arqueologia industrial em funcionamento, um conjunto de máquinas pesadas, o ferro na sua expressão mais contundente. Ambiente sombrio, mundo, então, à beira do seu próprio fim. Não era pela sua arquitetura que a fábrica da Oliva era conhecida. Quando a fotografei, em 1998, era uma das mais antigas fundições em laboração.

108. Fábrica Oliva. São João da Madeira. São João da Madeira. 1998