segunda-feira, 30 de março de 2015

Morfologia

[Jesus Cristo 17] O trabalho não procurou ser representativo desta tipologia escultórica, Jesus crucificado, pois muitas das fotografias feitas, de mais de duas centenas de cruzeiros semelhantes morfologicamente, não puderam aqui ser incluídas por diversos motivos, quer técnicos, muitas vezes relacionados com a iluminação pouco favorável com que foi feita a fotografia, quer conceptuais, por não se enquadrarem no principio norteador desta edição que foi sendo definido.
Santuário de Nossa Senhora do Viso, Fontes. Santa Marta de Peneguião, Vila Real.
10.06.2003

Afife. Viana do Castelo. 19.06.2002

Lage, Âncora. Caminha, Viana do Castelo. 19.06.2002





domingo, 29 de março de 2015

Completar e continuar

[arquivar 23] Período 8. Regressar à terra para completar, ou continuar, levantamentos específicos, visitar lugares onde, por vários motivos, não fora possível ir no passado. Ainda novos lugares de que entretanto se teve conhecimento. Viagem contínua pelo indeterminado. O arquivo cresce, acompanha o universo fotográfico pessoal em expansão.

sábado, 28 de março de 2015

Acontecer no devir

[Jesus Cristo 16] Como na história humana, aqui tudo foi acontecendo no devir. Foi depois de alinhado o trabalho, que fui apercebendo da sua possibilidade. Um exemplo disso foi a implantação destes cruzeiros em cartografia. Havia o pressentimento que eram quase sempre em meio rural e localizados no Alto Minho. Assim se confirmou, mas a sua disposição de penetração nos vales dos rios Minho e Cávado, foi uma surpresa.
Penedo, Estoril. Cascais, Lisboa. 04.03.2003

Aguiar da Beira. Guarda. 07.10.2003

Antas. Esposende, Braga. 10.09.2003




sexta-feira, 27 de março de 2015

Contributos de margem

[arquivar 22] Período 7. Continuação do desenvolvimento de trabalhos específicos, da mais diferente natureza, que vão aumentando, consideravelmente, o arquivo. Vários desses trabalhos assentam numa base de algumas dezenas de milhar de imagens. A evolução tecnológica associada à fotografia vai potenciar esse número cada vez mais elevado de fotografias, bem como uma consciência cada vez mais viva do ilimitado do real que se quer fixar. 


quinta-feira, 26 de março de 2015

Ser humano

[Jesus Cristo 15] Encontrava também, nesta evidente descontextualização de fotografias de objetos sobre fundo neutro, a criação de novas formas de relação entre diferentes seres reunidos numa única criatura, ou o sentido da ubiquidade, como numa fuga da realidade que quer ganhar distância, ou afastamento, com o intuito de uma observação límpida e clarividente. Aqui reunidas, talvez não estejam apenas as faces diferentes que nos mostram estas peças esculpidas, mas as interpretações da construção de um mundo, que parte de uma célula base e dela se vai afastando num processo evolutivo imparável. Conforme o lugar, conforme cada artífice da pedra, assim vai a interpretação de uma face, de uma expressão cultural, de uma identidade coletiva.
Cabração. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 21.07.2002

Valongo. Porto. 22.08.2002

Portuzelo. Viana do Castelo. 8.06.2002





Digitalizar o passado

[arquivar 21] Período 6. Digitalização de toda a produção fotográfica anterior, feita em película. Foi uma tarefa morosa que terá durado, aproximadamente, dois anos. Foram digitalizados mais de cinco mil filmes. A par deste 'serviço', mantive a atividade de recolha fotográfica associada a projetos específicos, já integralmente desenvolvidos em suporte digital. 


quarta-feira, 25 de março de 2015

Dar sentido

[Jesus Cristo 14] Estas fotografias dão sentido a um conjunto vasto, são como um ponto referencial da representação humana, dentro de um enorme arquivo fotográfico de humanos quase ausentes, aqui despojada das contingências de um retrato de carne e osso, mas apenas de uma espécie de essência do humano.
Perre. Viana do Castelo. 18.06.2002

Cruzeiro de Santo Amaro, Reboreda. Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo. 24.06.2002

Loivo. Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo. 24.06.2002





terça-feira, 24 de março de 2015

Fotografia torrencial

[arquivar 20] Período 5. O projeto Portugal Património, desenvolvido já numa era digital, mas numa altura em que trabalhava com os dois modos, mesmo tendo já, praticamente, abandonado o filme de 35 mm, vai dar origem a um número torrencial de imagens, mais de seis centenas de milhar. É neste momento, verdadeiramente, que se desenvolve uma organização de arquivo, e referenciação aos lugares, que é absolutamente fundamental. O não-registo de um lugar de uma fotografia significa, quase sempre, a inutilidade dessa fotografia num determinado contexto, como era aquele em que era desenvolvida aquela obra. Não identificar um lugar é ter que regressar ao campo aberto na sua procura.


Revelação e sombra

[Jesus Cristo 13] Agora, num conjunto de fotografias, como que encontrava o retrato de um ser que procurava. De alguém de incontida complexidade. Não era o retrato de trivialidades ou jogos de revelação e sombras que encontramos em olhares desconhecidos, nas poses dissimuladoras de outros seres; esta era a face de todos nós, o despojamento do ser, a petrificação de uma condição humana mutável, impossível de fixar.
Serdedelo. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 22.08.2001

Oura. Chaves, Vila Real. 26.06.2003

Freixo, Vila Verde. Alijó, Vila Real. 04.07.2003




segunda-feira, 23 de março de 2015

Dispersos vários

[arquivar 19] Período 4. Trabalhos dispersos, quase sempre feitos com uma Hasselblad 503 CX. Daqui decorre a consciência, de modo claro, que as fotografias feitas num determinado contexto poderão, mais tarde vir a ser utilizadas em situações completamente diferentes em relação às quais foram produzidas de início. Este facto também decorre de outra questão base deste trabalho: a realização, quase sempre, de um número bastante elevado de imagens, proporcionalmente àquele que vai ser utilizado no trabalho que o motiva.




A latência

[Jesus Cristo 12] Há uma latência, é disso que também nos fala um arquivo fotográfico. Os seus conteúdos desprendem-se, progressivamente, da realidade fotografada. Há uma reinvenção, ou uma rescrita da memória, há a construção do passado inscrito no dinamismo evolutivo das ideias e do pensamento humano. Nesta imponderabilidade que, por vezes, adquirem as imagens do passado, não há, necessariamente, a interpretação de um objeto; poderá acontecer um mergulhar dentro de nós mesmos.
Venade. Caminha, Viana do Castelo. 25.06.2002

Lanheses. Viana do Castelo. 24.08.2001

Curvos. Esposende, Braga. 10.09.2003




sábado, 21 de março de 2015

Unidade de numeração

[arquivar 18] Cada filme era entendido como uma unidade, de numeração, sendo que, o número de cada fotografia estava associado a esse filme. Após este trabalho, Portugal - O Sabor da Terra, é praticamente abandonado o 35mm e a Leica M6, passando esse extenso arquivo monocromático, a constituir, então, a fatia mais significativa do conjunto de todas as fotografias. A fotografia digital estava a avançar de um modo que não se podia recusar o que trazia de novo, sob muitos pontos de vista.




Contornar o humano

[Jesus Cristo 11] Ao longo da meu percurso na fotografia tenho contornado a representação humana. Talvez por pensar a fotografia demasiado intrusiva, deixo o meu trabalho evoluir sobre os lugares, sobre a procura de uma face humana refletida nos seus próprios fazeres, deixados nas paisagens, nas cidades. Ou, noutras situações, numa Natureza intocada, desenho o imaginário de um espaço pela primeira vez olhado por uma consciência humana, como se quisesse penetrar no inacessível mistério de um muito remoto passado que já não nos é acessível, que nos revelaria os traços primordiais de um desígnio de liberdade, ou o começo de uma inquietante experiência de afastamento de um conforto irrecusável, ou talvez o oposto disso, a fuga de todos os perigos, dos temporais, das feras, da fome e da sede. Talvez apenas a sucessão de gestos de adaptação a um meio envolvente em permanente transformação, como um jogo em que as regras são subtilmente alteradas a cada jogada, num processo sem fim e sem destino.
Torrão, Anais. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 22.08.2001

Barral, Friastelas. Ponte de Lima, Braga. 22.08.2001

Santa Maria de Geraz do Lima. Viana do Castelo. 23.08.2001




sexta-feira, 20 de março de 2015

Sabor da t.

[arquivar 17] Período 3. Desenvolvimento de projeto Portugal - O Sabor da Terra. Realização de cerca de 1.500 filmes de 36 exposições, em preto-e-branco, filme Kodak Tmax 400, quase sempre. Pela primeira vez me defronto, de forma muito clara, com a necessidade de uma organização eficaz das fotografias recolhidas. Esta premência é trabalhada mesmo antes da partida para o campo, com a numeração dos filmes, na própria emulsão para, após a revelação e secagem dos filmes, feita por mim próprio, conseguir rapidamente ordená-los, produzir provas de contacto (os filmes eram negativos, a preto-e-branco) e arquivá-los. Posteriormente seriam escolhidas fotografias para o conjunto de exposições e livros que estavam em preparação.


Faces de Jesus

[Jesus Cristo 10] Estas fotografias das faces de Jesus, são como fotografias de fotografias. Representações da representação, afastamento e aproximação, caminhos sobre a tangente do movimento, redundância abstrata de destino imprevisível, em deslocação contínua. No quotidiano entre gestos repetidos, incongruências, circularidades, erros, desencontros, há momentos de iluminação, por vezes breve, em que observamos o sentido da nossa própria temporalidade, quando factos aparentemente desconexos definem a coerência de um tempo uno. Como percorrer uma paisagem, fotografar como quem regista um ponto luminoso num mundo de sombras difusas. Estas fotografias são a devolução de um olhar, são o encontro com o ser que está ausente em quase todas as minhas imagens, são o lado revelado de uma humanidade e de uma condição ética que procuro no meu trabalho.
Oliveira. Póvoa de Lanhoso, Braga. 27.05.2003

Guimarães. Braga. 06.06.2001

Vila de Punhe. Viana do Castelo. 17.06.2002





quinta-feira, 19 de março de 2015

Projetos sobre lugar

[arquivar 16] Período 2. Desenvolvimento de projetos sobre lugar, particularmente relacionados com literatura. De qualquer modo, um desses primeiros projetos foi sobre o quintal da casa dos meus avós, em Vila do Conde (O Jardim do Senhor Marques), e uma certa ideia de infinito que emanava de um espaço muito limitado, entre muros.

O fim de dois movimentos

[Jesus Cristo 09] Do primeiro movimento, do trabalho de recolha fotográfica, decorrido em mais de cinco anos, ficou uma latência, uma espera. Só quando terminado o segundo movimento, dentro do arquivo, é que um crivo mais apertado de escolha de fotografias começou a tornar nítida esta face que avançava da terra envolvente e adquiria autonomia. Lembro a analogia da própria escultura em pedra, em que, dentro de um bloco informe, vamos retirando a matéria de desperdício que envolve a peça que finalmente encontramos. Aqui, num arquivo grande de imagens, também foi pela decantação de matéria adjacente, que chegámos a um corpo de representações, de uma figuração emergente.
Alvarães. Viana do Castelo. 10.09.2003

Arcos. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 24.08.2001

Padrão, Alvarães. Viana do Castelo. 10.09.2003