sábado, 21 de dezembro de 2024

Ficha técnica (do mapeamento fotográfico)

[Lugares livres 53] 154 sessões/dias de campo em território do município de Viseu, entre os dias 21 de fevereiro de 1996 e 8 de julho de 2023. Foram feitas mais de 116.044 fotografias (num arquivo com 2.049.976 de fotografias este é o espaço com uma maior extensão de fotografias feitas de um único local, representando 5,66% do total das fotografias em arquivo). A listagem que a seguir se dispõe representa as 154 sessões, dias de campo, que constituiu a base deste trabalho. Cada unidade contém cinco indicadores: número de ordem, data (com ano, mês e dia), os números das fotografias/ficheiros em arquivo, o número de fotografias realizadas e o lugar, ou lugares, fotografados. [Esta é a última publicação da série Lugares Livres, relativa ao livro com o mesmo título editado pelo Museu da Paisagem].


 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Urbe fictícia

[Lugares livres 52] Como se na simulação de uma urbe fictícia encontrasse a terra, perfeita, que toda a vida procurara. Como se no fim, depois da última viagem por mínimos lugares ao redor, dentro de casa, encontrasse apenas um rosto, sereno. Nessa face, o desenho de um mapa, a decifração do Universo. No fim de todas as lutas do quotidiano, descobrir, no inexistente reflexo de um espelho, todo o sentido da ausência, enfim, a integração num fluxo cósmico. A ordem plena antes da mais indizível explosão.

Parque Urbano da Aguieira, Viseu, 2010

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Hesitantes caminhos

[Lugares livres 51] Encontrar tudo o que não foi expresso por desenhos, palavras ou fotografias, a dimensão não revelada de passos hesitantes, caminhos falhados, erros transformados em arquitetura de possibilidades. A vida em imparável movimento.

Esculca, Viseu, 2023


 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Não atravessado

[Lugares livres 50] Em Liliana Velho há um movimento primordial, como se viesse de um tempo muito antigo, de uma origem, e não tivesse sido corrompido por milénios de lutas sem tréguas. Como se não tivesse atravessado o território da maior cidade. Há aqui uma alegria revigorante que nos contamina, que nos transporta. No caminho, deixar registado o espaço e o tempo da duração de uma vida inteira. Foi, é, o permanente desenho de uma casa.

Os Cardos do Meu Verão (2023), escultura de Liliana Velho, Viseu, 2023


 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Luta biológica intemporal

[Lugares livres 49] A arte é um lugar onde podemos chegar na interminável caminhada que herdámos dos nossos antepassados, de toda a humanidade, em fragmentos descontínuos. O belo é uma forma de inquietação gerada pela sua estranheza. Representações de uma luta, biológica, intemporal. O enigmático sentido da violência disfuncional e, simultaneamente, convite, sedução. Uma síntese do entendimento da vida, na sua indizível sofisticação, na evidência de estarmos em confronto com situações, interpretações, contraditórias, insanáveis. Procuramos um possível significado da palavra habitar. Encontramos a arte como racionalização de um combate e de uma impermanência, proposta de entendimento do Universo. Profunda utilidade, existência em ensaio de si própria. A arte é desenvolvimento e evolução antropológica. É a procura de soluções sobreviventes. A continuidade no espaço-tempo, o deixar raízes, criar memória, propor formas diferentes, tentativas de observação do futuro. É estarmos perante a construção da ordem, arquitetura, face ao imparável avanço da entropia. Talvez o caos não exista, mas apenas a incapacidade de lidar com o excesso de informação gerada pela própria vida no seu irredutível desejo de imortalidade.

Espuma dos Dias (2018), detalhe de escultura de Liliana Velho, Viseu, 2023

 

domingo, 1 de dezembro de 2024

Seres que emergem da terra (Escultura em cerâmica de Liliana Velho)

[Lugares livres 48] No trabalho de Liliana Velho há seres que emergem da terra, do barro moldado pelas suas mãos, como se nos revelasse do que somos feitos. Como se uma natureza misteriosa atuasse sobre si própria e nos mostrasse o reflexo límpido do que somos. Com cinco séculos depois de Vasco Fernandes, encontramos estas paisagens manuais, fabricadas, tão fascinantes quanto reais. Olhares mediados, ensaios de futuro. Aqui chegamos a um porto, de abrigo e encontro, no decurso do longo caminhar humano. Encontro entre estes dois olhares, uma cidade profundamente diferente, com todo o tempo de afastamento entre si. Arte e humanidade para ler a terra, a fuga a convenções e salto de fronteiras. Espaços livres, o equilíbrio pontual de um interminável trilho que resume todos os lugares por onde passámos, todos os rostos que fazem parte de nós. Uma nova condição de pacificação.

A Cabra (2022), escultura de Liliana Velho, Viseu, 2023