quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tempo humano

Tomar. 2007


[Entrevista JEF 07] A fixação do espaço e do tempo é como a imortalização de um momento, a que podemos regressar indefinidamente. É este um dos maiores poderes da imagem fotográfica. A qualidade de fixação do tempo que tem a imagem fotográfica não se pode comparar ao cinema, à imagem animada. Esta é talvez a sua maior singularidade. A leitura da imagem em movimento exige demora por parte de quem a lê, a fotografia pode ser lida num ápice de segundo. Há uma fixação do espaço-tempo, uma relação de proximidade que estabelece connosco, que não é acessível ao cinema. O cinema é narrativa, é tempo longo e continuo, a fotografia é fragmento, tempo para sempre parado, leitura do nosso próprio tempo, tempo humano

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A imortalidade

[Entrevista JEF 06] José Eduardo Franco: Tem procurado afirmar a fotografia como uma forma privilegiada de criação, mas também de intervenção e de reflexão intelectual. Entende que a fotografia sobreviverá nesta nossa era de crescente de tecnicização do Cosmos, em que se desenvolve e se democratiza uma tecnologia que permite obter e disponibilizar momentaneamente registos de imagem animadas e híper-animadas? Qual o futuro e o lugar a fotografia no universo das artes e das ciências humanas?

No meio de tantos discursos catrastofistas, creio que o papel da fotografia não está posto em causa, não se vislumbra o seu fim. O livro já foi várias vezes dado como condenado a um desaparecimento breve, suplantado por dispositivos eletrónicos, mas o que aconteceu foi o contrário: uma procura crescente desse suporte. A fotografia não só revolucionou a leitura que fazemos do mundo envolvente, condicionando muitos outros fazeres, como a pintura e a gravura, como originou algo de absolutamente novo ao seu tempo: a criação de uma realidade autónoma que emanava das imagens. Houve um universo de pessoas, acontecimentos, lugares, que passaram a ser observados de forma intermediada. A fotografia cria uma realidade própria que se desvincula daquilo que ela representa. Tal como a cidade que se desenvolve definitivamente a partir da Revolução Industrial, a fotografia, durante esse período, torna o nosso mundo progressivamente mais complexo. Este processo ainda não terminou e o advento da imagem digital reafirma inequivocamente o poder da imagem fotográfica, na sociedade contemporânea.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Expressão de Comunicação

Castelo Melhor. Vila Nova de Foz Côa. 1995

[Entrevista JEF 05] Sem dúvida que a fotografia é uma arte, uma técnica, e um poderoso meio de registo científico. Talvez não a considere uma ciência, como o são as ciências exatas, que procuram formular através de expressões matemáticas os princípios que regem a vida, a matéria ou os movimentos celestes. A fotografia coloca-se numa margem de pertença a muitos fazeres humanos. Ela veicula realidade, mas também a interpretação do olhar inquieto e reflexo de uma consciência que se interroga a si própria. Na ausência de muitas respostas que nos colocamos, num universo de conhecimento que se torna cada vez mais complexo, à medida que se vão desvendando alguns dos seus segredos, a fotografia, com a plasticidade da sua linguagem, responde com a singularidade do olhar dos seus operadores. Há a transformação dessas interrogações em matéria visível. A fotografia intui o futuro.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Inscrever

Gravuras do Côa. 1995
[Entrevista JEF 04] 
Não é fácil definir o que é a Arte Fotográfica, nem creio que seja possível definir Arte. Há uma multiplicidade de fazeres, de olhares, de interpretações que tornam essa definição fugidia. Arte é um conceito que flui no tempo; a expressão e ambiguidade dos fazeres humanos, é uma constância desde as mais remotas pinturas inscritas pelo homem paleolítico nas paredes de cavernas.

Gravuras do Côa. 1995

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Iniciar Portugal

Guadiana. 1986

[Entrevista JEF 03] Quatro anos mais tarde, em 1986, começo a percorrer Portugal. Nesse Verão descia a pé, com um grupo de amigos, o rio Guadiana, entre Serpa e Mértola. Foi a viagem inaugural dos percursos por Portugal, que não mais abandonaria. Só mais tarde, já em contexto de projetos concretos, viria a tornar sistemático o registo do espaço português. Voltava ocasionalmente aos lugares da minha infância, as casas e os lugares que habitei com os meus pais e com os meus irmãos. Era o regresso a Vila do Conde, era a praia da Consolação, era a casa de Queluz. Era a fixação de um universo que eu próprio habitava e que me levaria por um caminho de expressão paralelo ao levantamento fotográfico do património cultural e natural, em sítio, de Portugal.

Guadiana. 1986

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Percurso

Vila do Conde. 1982
[Entrevista JEF 02] José Eduardo Franco: Como se foi desenvolvendo, ao longo do seu percurso de formação e de reflexão, a paixão pela fotografia? Como define a Arte Fotográfica? A fotografia será mais uma arte, uma técnica ou mesmo uma ciência?

A fotografia começou para mim em 1982. Estava em Vila do Conde, onde viviam os meus avós maternos, quando peguei numa Voigntlander Vito CD, de minha mãe, e fui para a linha de mar fazer algumas fotografias a preto-e-branco. Já na altura sentia um forte fascínio pela imagem fotográfica, pelo seu poder de fixação das paisagens. A partir daí, não mais parei de fotografar e de acompanhar esse desejo com a aprendizagem da técnica da fotografia, que na altura fiz através de leituras, pois a informalidade com que me dedicava a este fazer, não me levou a procurar uma formação académica na área. Em 1986 fui estudar arquitetura para o Porto, sem nunca ter abandonado a fotografia a que me ia dedicando com uma intensidade cada vez maior. Foi pela formação em arquitetura que apreendi e aprofundei o olhar sobre a paisagem e sobre a própria arquitetura. A fotografia era a forma de registar o fascínio pelos lugares, pela sua extraordinária diversidade, pelo modo como os humanos vão construíndo um território específico.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Entrevista


[Entrevista JEF 01] No nº5 da revista Letras com Vida, dirigida por Miguel Real e Annabela Rita, na rubrica Quinteto, José Eduardo Franco coloca-me cinco questões que se desdobram em várias respostas. Reproduzirei aqui, na Cidade Infinita, a totalidade dessa entrevista. Trata-se de um olhar abrangente sobre uma vivência dentro da fotografia, dentro das fotografias.

domingo, 19 de maio de 2013

Corpo

Côa. 1995

[Viagens. Paisagens 33] Esta fotografia é o registo de um corpo que caminha.
Este é o último apontamento da série Viagens. Paisagens.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Universo Visual

Praia do Guincho. 2013
[Viagens. Paisagens 32] A complexidade do universo visual foi aumentando à medida que o tempo evoluiu, que o número de espécies aumentou, que tudo se tornou mais colorido. Há um mundo que se torna cada vez mais atrativo, cada vez mais rico de cor, texturas, todas as diversidades táteis. Há uma relação direta entre a evolução biológica e o aumento da complexidade do mundo visual.
Sicó. 2013

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A imagem fotográfica

Viseu. 2012
[Viagens. Paisagens 31] O que é a imagem fotográfica? Como representar o mundo sem imagens? O facto da imagem fotográfica não ter código, significa que ela própria é aquilo que representa? Porque queremos apreender as imagens? Que diálogo estabelecem as imagens entre os diferentes tempos de habitar que coexistem em nós?

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A claridade

Céu sobre Sicó. 2013
[Viagens. Paisagens 30] A fotografia é o diálogo com a claridade, com uma ideia de verdade, dentro de uma ética  em construção, de entendimento do humano, da sua relação com o espaço, com a sua dimensão ecológica abrangente - de alguma forma natural e urbana, fundada em valores de pesquisa, mas também de aleatoriadade.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Observador

Praia do Guincho. 2013
[Viagens. Paisagens 29] O que nomeia a fotografia? Que que ela nos pode mostrar e o que oculta? O que é possível representar com a fotografia? Que relação estabelece entre o que representa e o imaginário de quem observa as imagens?

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O desenho em fotografia

Praia do Guincho. 2013
[Viagens. Paisagens 28] Um desenho para lá das aparências da paisagem. Aí deve, ou pode, aspirar um trabalho fotográfico sobre a paisagem. Definição de um povo, de uma cultura, mas também de elementos que, em início de viagem de espécie emergente, terão condicionado decisivamente o carácter de uma sociedade.