[Entrevista JEF 06] José Eduardo Franco: Tem procurado afirmar a fotografia como uma forma privilegiada de criação, mas também de intervenção e de reflexão intelectual. Entende que a fotografia sobreviverá nesta nossa era de crescente de tecnicização do Cosmos, em que se desenvolve e se democratiza uma tecnologia que permite obter e disponibilizar momentaneamente registos de imagem animadas e híper-animadas? Qual o futuro e o lugar a fotografia no universo das artes e das ciências humanas?
No meio de tantos discursos catrastofistas, creio que o papel da fotografia não está posto em causa, não se vislumbra o seu fim. O livro já foi várias vezes dado como condenado a um desaparecimento breve, suplantado por dispositivos eletrónicos, mas o que aconteceu foi o contrário: uma procura crescente desse suporte. A fotografia não só revolucionou a leitura que fazemos do mundo envolvente, condicionando muitos outros fazeres, como a pintura e a gravura, como originou algo de absolutamente novo ao seu tempo: a criação de uma realidade autónoma que emanava das imagens. Houve um universo de pessoas, acontecimentos, lugares, que passaram a ser observados de forma intermediada. A fotografia cria uma realidade própria que se desvincula daquilo que ela representa. Tal como a cidade que se desenvolve definitivamente a partir da Revolução Industrial, a fotografia, durante esse período, torna o nosso mundo progressivamente mais complexo. Este processo ainda não terminou e o advento da imagem digital reafirma inequivocamente o poder da imagem fotográfica, na sociedade contemporânea.