Aparições: A fotografia de Gérard Castllo-Lopes 1956-2007 |
Gérard Castello-Lopes começou o seu percurso fotográfico submerso, inebriado com o mundo de silêncio do fundo do mar e com a imponderabilidade. Agora, no ano da sua morte, somos convidados a voar sobre o seu universo visual, como se nós próprios adquiríssemos a ausência de peso que muitas vezes o seu trabalho nos sugere. As fotografias feitas a partir de pontos elevados, com uma perspetiva de 'olho de pássaro', são marcantes no seu trabalho, mas o seu olhar de nível, mostra-nos, com surpresa, o deambular de um observador curioso que sempre se deixou surpreender por um inesgotável e renovado sentido do tempo e da geometria.
Um fotógrafo faz, quase sempre, um número muito mais elevado de fotografias do que aquelas que virá a expor ou editar, em diversos suportes. Nesta exposição, ao ser apresentado um conjunto significativo de imagens inéditas, mergulhamos no modo de ver e de trabalhar do fotógrafo, das suas opções, sobre aquilo que em determinados momentos foi excluído. Esta exposição toca essa singularidade da captura e do arquivo da imagem fotográfica. No decurso do tempo, cada vez que nos debruçamos sobre um leque de opções na selecção de imagens, fazemos, invariavelmente, diferentes escolhas. As fotografias são as mesmas, nós é que nos transformamos em processo contínuo. Se a materialidade de uma fotografia representa a fixação de um hiato temporal breve, a sua leitura, ou interpretação, não deixa de estar vinculada à diversidade de olhares contempladores que a tocam num dado momento histórico.
Outra particularidade do mundo da fotografia é a impressão, a partir de uma mesma matriz, de imagens em diversos formatos. Também agora podemos ver, lado a lado, imagens de variadas dimensões, que, por isso, assumem diversas significações. Não é o único na exposição, mas um exemplo notável é a fotografia da 'pedra', feita no Guincho em 1987, em que nos são apresentadas cinco diferentes impressões desta imagem enigmática. Um enorme rochedo parece flutuar sobre as ondas. Esta fotografia é uma síntese do trabalho de Gérard Castello-Lopes, do mundo que procurou e que aqui nos deixou plasmado numa única fotografia. Um enorme penedo como que se eleva do mundo subaquático, onde ele próprio fizera as primeiras fotografias. Uma reflexão sobre a imponderabilidade, sobre a ilusão do olhar que a fotografia tão bem explicita, talvez mesmo uma metáfora sobre o sentido de Portugal, a sua existência como Estado-Nação - a relação com o mar de que, ao mesmo tempo, nos queremos aproximar e fugir.
Aparições: A fotografia de Gérard Castllo-Lopes 1956-2007
Curadoria: Jorge Calado
BES, Arte & Finança, Praça Marquês de Pombal, nº 3 Lisboa