domingo, 4 de setembro de 2011

Horizonte Portugal - Diário imaginário em dias de Verão (VII)


Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011
Noite em trabalho de campo, para o projecto Território em Espera. 2005

A morosidade e monotonia de algumas tarefas é o ângulo mais agudo deste e de outros trabalhos que desenvolvo e com os quais estabeleço uma luta contínua para não desistir. São tarefas por mim criadas sempre com um objectivo de otimização. São metodologias desenvolvidas não num 'orgulhosamente só', mas, na maior parte dos casos, num 'inevitavelmente só', num jogo que é um ensaio de trabalho, mas também de vida, de autodeterminação com as implicações e o risco de uma liberdade ousada. A 'crise' que vivemos é, porventura, aquela em que quase sempre vivi. Aqui sei não estar sozinho. Nas indústrias culturais e criativas, em Portugal, à margem de discursos políticos de conveniência, habitamos um tempo arcaico em que, constantemente, temos de inventar o que fazer, para que a energia dispensada no trabalho, se traduza numa remuneração justa que permita a sobrevivência quotidiana. Um processo lento e demorado, de futuro permanentemente incerto. Construção contínua, este é um estranho desígnio de vida em que encontro algumas semelhanças com aquele que terá sido o caminhar humano numa altura em que se dá a ocupação de toda a superfície planetária pela espécie Homo Sapiens, há cerca de dez, doze mil anos. O despoletar de uma inteligência humana, associada a um quadro de desenvolvimento complexo, ainda difícil de compreender, terá motivado a expansão de uma espécie como antes não acontecera. Talvez a procura de novas paisagens, novos lugares para habitar, tenha sido um dos motivos para este movimento singular que, mais tarde, irá levar o Homem à criação do seu próprio território e à construção das cidades infinitas.

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