domingo, 30 de abril de 2017

Falha, noite

[arquivo cidade 084] O risco, a falha, a noite e a morte constroem fragmentos do nosso futuro. É uma paisagem que habitamos. É o desejo de continuar a caminhar, é a sobrevivência num terreno duro em que todos os dias temos que procurar formas de continuidade e soluções de rutura.
[2016]

Não há

[arquivo cidade 083] Nas paisagens da desistência há narrativas que deixamos para trás, há caminhos que não podemos continuar. Há portas que se fecham. Procuramos outras soluções evolutivas. Por vezes voltamos a tentar esses territórios, mas há paisagens sem regresso. 
[2016]

sábado, 29 de abril de 2017

Medo e espanto

[arquivo cidade 082] Procurar o que não existe, encontrar o que não se podia imaginar, embarcar na vertigem de uma viagem de medo e espanto. Arriscar, pensado que que há um mínimo de segurança que afinal não existe. Olhar de frente a liberdade para errar e rejeitar uma moral óbvia assumindo a solidão de um rosto no nevoeiro.
[2016]

Abarcar

[arquivo cidade 081] Seguir intuições, pois não há um mapa que possamos seguir. Poderá haver fragmentos de um desenho breve para um tempo próximo, mas não há mapas para o futuro. Não conseguimos representar espaço e tempo simultaneamente, pois ambos poderão ser uma mesma entidade de uma complexidade que não nos é acessível, nem tão pouco conseguimos abarcar as relações que se estabelecem nesse território. Espécie de mundo quântico, do qual nos aproximamos por tentativas. 
[2016]

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Sobre uma linha

[arquivo cidade 080] Caminhar continuamente. Paramos ocasionalmente, mas para pensar um pouco no itinerário percorrido e nos trilhos que podemos seguir no futuro, nas opções que se nos deparam. Mas é impossível parar. Regressamos, ciclicamente, ao ponto de partida, mas este vai também assumindo diferentes leituras ao longo do tempo. Tudo é irrepetível, tudo é caminho sobre uma linha de tempo imprecisa. 
[2016]

Códigos

[arquivo cidade 079] Há carácter da obsessão, da incessante busca pelas formas de comunicar uma mensagem que é, ela própria, evolutiva, que assume formas e plasticidades diferentes ao longo do tempo. Os lugares, os seus elementos, parecem falar, como é todo o universo visível estivesse impregnado de códigos que urge decifrar. Caminhar atento num mundo de discursos cruzados límpidos e contraditórios. 
[2016]

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Desperto

[arquivo cidade 078] Procuramos também o significado da palavra liberdade, que não é apenas uma conquista em sociedade, é uma dimensão individual de relação intrínseca, é o estar desperto para mudar, ler a voragem do tempo e assumir a continuidade de estados diferentes. 
 
[2016]
 

Mapas

[arquivo cidade 077] Há superfícies que nos mostram os mapas que encontramos durante o caminhar em campo aberto ou no labirinto das cidades desconhecidas. Mais do que mapas, são linguagem, são as palavras de um texto que vai assumindo diferentes significados. Explicação de um mundo, pistas para um passo seguinte, nunca para uma viagem mais longa. Caminhamos de palavra em palavra, desenhamos narrativas.
 
[2016]
 

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Arte, escrita

[arquivo cidade 076] Procuramos o significado da arte. A arte é, aqui, uma aproximação à representação da realidade pela expressão do pensamento, sob forma gráfica, com o uso de uma ou diferentes linguagens. É a “escrita” de algo que não pode ser dito de outros modos, como, por exemplo, o discurso científico. É algo, hoje, de uma extraordinária abrangência, que não se limita a formas queridas ou desejadas pelo mercado, mas a própria linguagem integra a procura da expressão do entendimento humano da sua condição biológica e posição no planeta Terra.
 
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016
 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Nulo sentido

[arquivo cidade 075] No ensaiar a vida só tarde começaria a entender o sentido da sua própria dureza. Esse entendimento, curiosamente, seria extremamente pacificador, como se agora pudesse deixar de “combater”. Não seria deixar de lutar, mas aceitar essa condição de sobrevivente como regra. A vida é um desafio continuado em várias frentes. É este movimento de resistência que nos confere sentido, e o sentido, ausente, da própria vida. Ferramentas de permanência, aceitação do contínuo irrepetível
(2016)

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Espaço mediado

[arquivo cidade 074] Este trabalho procura a sobrevivência, o seu próprio sentido. É, de algum modo, uma invenção de si próprio. Poderia desejar algum reconhecimento - são já trinta anos de fotografias do espaço português, trinta anos a descrever a terra, à procura dos mais recônditos lugares, a tentativa de fixação de um presente, do tempo que habitamos. Mas agora não é significativo que alguém repare neste espaço mediado, face construída de uma comunidade. Há uma opção que se assume. Há gestos de liberdade que têm que ser encarados como tal, com risco de falharem. Falhamos em vários momentos, adaptamo-nos às mudanças no meio envolvente, evoluímos sem deixar de arriscar novamente. São ciclos de amadurecimento e pontos de partida para novas caminhadas. Desafios de sobrevivência num mundo duro e fascinante.

(2012)

terça-feira, 11 de abril de 2017

Território efémero

[arquivo cidade 073] A conquista efémera de um território fugaz, ou o passo adaptativo a um mundo em que nada nunca é estático. 


(2016)

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Procurar o frio

[arquivo cidade 072] Mais três anos volvidos, agora no ano de 2015, voltava aquela montanha, agora para ver a neve. Procurava uma paisagem diferente, talvez um lugar extremo de frio intenso, inabalável. Procurava a dureza da montanha, ou um clima arcaico próximo do tempo das glaciações, que por ali existira há cerca de 10.000 anos. Talvez procurasse, numa natureza quase intacta, as paisagens encontradas pelos primeiros hominídeos que a esta finisterra chegavam, depois de atravessarem os Pirenéus. Ou mesmo, ali, pensar nos grandes movimentos tectónicos, na deriva dos continentes sobre um oceano profundo de magma.
Serra do Gerês. 2015

sexta-feira, 7 de abril de 2017

As ruas de uma cidade

[arquivo cidade 071] As fotografias não eram quadros, arte, para pôr na parede, nem procurava já a perfeição de uma imagem, que talvez me tenha levado a fotografar no início deste percurso, ao mesmo tempo que desenhava, no final da década de 1970 e início da seguinte. Procurava agora fixar uma experiência intensa. As fotografias queriam ser esse registo de um espaço e de um tempo em fuga. As fotografias são aqui arquitetura, definem os edifícios e as ruas de uma cidade.
(2016)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Desconexas dimensões

[arquivo cidade 070] Mas a qualidade das imagens não era significativa. Havia, sim, o tempo que passou. O olhar mudara, não tanto a postura perante os lugares, mesmo depois de um mais denso e seguro conhecimento do espaço, das marcas nele deixadas pelo caminhar humano, da vida apenas, vestígios de desconexas dimensões. Ficava um processo em procura, adaptação, sobrevivência, a noção cristalina da impermanência. Um novo cosmos.
(2016)

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Marca do caminhar

[arquivo cidade 069] A fotografia, o exercício da captura da imagem, é aqui um ato performativo que apenas nas fotografias deixa a marca do seu caminhar. Não se procuravam imagens para um livro, uma parede, uma tela luminosa. Comunicar sim, mas sem uma forma ou um destino específico. Havia, antes, a tentativa de reproduzir em contínuo uma experiência de vida, um momento singular de existir, de uma liberdade fluida longe de olhares estranhos; diálogo com o espaço e com o tempo. Na solidão da montanha encontrar uma aproximação possível a um modo primordial de habitar, uma condição humana arcaica que emerge. Passo, ao mesmo tempo, demorado e breve de afirmação evolutiva.
Serra da Peneda. 2012

terça-feira, 4 de abril de 2017

Ponderar

[arquivo cidade 068] As imagens já não são ponderadas com um nível de exigência como fazia no passado em que cada disparo tinha que ser equacionado dentro de um quadro de muito maior contenção, sobretudo económica. De qualquer modo era possível fazer em registo analógico o que fizera recentemente em digital, quase certo, com um peso e um volume incomportável para uma viagem pedestre.
Serra do Gerês, 2012

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Milhares de lugares

[arquivo cidade 067] Dois dias depois fazia uma outra caminhada a partir de outra aldeia: Xertelo. Ao fim de três dias estava de regresso para uma outra caminhada, desta vez mais limitada, em torno do cabeço de Calcedónia. Depois fazia uma pausa para um regresso uns dias mais tarde para completar o conjunto dos itinerários pela serra do Gerês. Ao todo tinham sido 11 dias de viagens, 11 dias de recolhas fotográficas. Só mais tarde fazia a contabilidade das fotografias feitas: 17.004 imagens, dg317884-dg330252 - dg330400-dg335034, em notação de arquivo digital no âmbito destes levantamentos de território.
Excerto da Carta Militar de Portugal com a implantação de um caminho pedestre no Gerês.

domingo, 2 de abril de 2017

Vazio e tempestade

[arquitetura 32] Partimos nesta viagem sem nada sabermos. Somos construídos, primeiro, construímos, depois. Deixamos uma casa, um pedaço de solo arável sujeito às intempéries. Somos gerados por violentas tempestades. [Aparentemente longe da arquitetura, aqui termina esta série de publicações sobre essa área dos fazeres humanos e do conhecimento. O conceito permanecerá nesta cidade infinita].
Madeira. 1992

sábado, 1 de abril de 2017

Vazio como território

[arquitetura 31] O sentido da vida, humana, pode ser a construção da ideia de morte, a pacificação de fantasmas. A evidência a que nos podemos agarrar é o vazio como território de sublimação de todas as lutas terrenas.