terça-feira, 30 de abril de 2013

Outro ser

Queluz. 1994

[Viagens. Paisagens 22] Todas estas palavras não farão sentido sem o desenvolvimento de frentes de comunicação e vínculos à realidade. Poderá haver um trabalho contemplativo que se baste a si próprio, mas o objetivo da comunicação pode estimular de forma muito acentuada a clareza do pensamento, e representar um incremento do processo de reflexão. Talvez pela comunicação se crie um espelho em que nos reflectimos, em que ganhamos distanciamento em relação aos nossos fazeres, em que nos vemos ao longe, como se de outro ser se tratasse.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Relação anterior

Praia do Guincho. 2013
[Viagens. Paisagens 21] Um trabalho é uma procura em permanente construção. Cada trabalho, independentemente daquilo a que se propõe responder, deve representar algum tipo de evolução em relação a trabalhos anteriormente desenvolvidos. Pode apenas haver um alargamento temático, a articulação com a escrita ou outras formas de expressão, ou melhorias na composição gráfica, a desenvolvimento de novos suportes. Um trabalho criativo deverá ser entendido quase como uma investigação científica, um labor continuado num tempo longo, na direção de uma incógnita, movido por uma intuição que pode nunca se vir a confirmar. Todo o trabalho pode cair por terra. Ficarão, eventualmente, os alicerces para outros caminhos, para outras experiências, para outros jogos de procura. Ao contrário da ciência atual, em que se trabalha em rede e numa comunidade vasta, o trabalho criativo tem um cunho autoral, individual, muito mais vincado. Há uma linguagem que dificilmente poderá ser partilhada, por encerrar dentro de si uma determinada carga especulativa que a aproxima da ideia de poesia. Há conceitos que se transmitem por metáforas, por jogos de palavras, que poderão ser a face intuitiva de um sentimento profundo, que busca as suas raízes no conhecimento vago, em experiências de vida dificilmente objetiváveis.