quinta-feira, 30 de julho de 2015

Pelourinho de Vila Cova à Coelheira

[pst 032] Os pelourinhos constituíram, desde finais do século XII até à reforma administrativa de 1836, o símbolo por excelência de poder municipal. Localizam-se sempre no largo central da urbe, marcando assim o seu local cívico mais importante. É frequente encontrá-los hoje em povoados, entretanto decaídos, como sucede com Vila Cova à Coelheira. Ajudam-nos assim a perceber a fragmentação do poder político e administrativo local, bem como o papel que o municipalismo teve noutros tempos. As dificuldades de comunicação entre a capital do reino e os diversos municípios, conferiam a estes uma relativa autonomia, que se veio a perder com o desenvolvimento das vias de comunicação, que tornaram mais efectiva a progressiva centralização do poder político em Lisboa.
31. Pelourinho de Vila Cova à Coelheira — Vila Nova de Paiva. 19 de agosto de 1996.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Relato inacabado

[ronda 12] Este é um relato do sempre inacabado. É um processo de aproximação e desvio, de procura de questões, de soluções, de melhor expressar um conhecimento humano que avança em várias frentes, ininterruptamente. 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Capela de Nossa Senhora do Livramento

[pst 031] A Capela de Nossa Senhora do Livramento, situada na região de Évora, resulta da transformação de um monumento megalítico em espaço de culto cristão, como acontece com outros casos análogos por todo o País. Na planície alentejana desenvolveu-se um dos mais primitivos núcleos de arquitetura em pedra hoje conhecidos. É o fenómeno megalítico em que as antas ou dólmenes, menires e cromeleques são a expressão de uma visão do mundo, que encontra na luta contra a morte um dos alicerces do seu sentido.
30. Capela de Nossa Senhora do Livramento — S. Brissos. Évora. 4 de agosto de 1996.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Capela de Nossa Senhora da Conceição

[pst 030] Vigorava então o estilo manuelino, com as suas alegorias decorativas aos temas dos Descobrimentos. Perduravam ainda as conceções da arquitetura gótica e dos seus espaços, sem se assimilarem os modelos do Renascimento italiano do século XV. A Capela da Conceição, dos finais da década de 1530, representa um ato experimental, uma fuga à tradição nacional. Foi um ensaio em conceitos de espaço, de composição das fachadas, de procura de uma ordem mais racional, baseada no número, na geometria e com referências históricas da Antiguidade Clássica.
29. Capela de Nossa Senhora da Conceição — Tomar. 3 de maio de 1996.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Transpor

[ronda 11] O relato de uma experiência de lugar. É esse um dos sentidos possíveis desta fotografia. Mais do que uma imagem-objeto, procura-se aqui a transposição para um código de comunicação, de uma experiência de contacto com a terra, que não é apenas com a terra, é com a realidade visível, com os seres e com as coisas. A procura de um "código de comunicação" é tarefa para uma vida inteira, mas que não se persiga de modo frontal e continuado. Como com o diálogo com o olhar de Medusa, não o podemos enfrentar sob pena de ficarmos petrificados, temos que procurar caminhos esquivos de aproximação e, eventualmente, recorrer a espelhos, jogos de espelhos, imagens complexas. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Mosteiro de Santa Maria da Vitória

[pst 029] É sem dúvida um dos edifícios mais significativos do espaço português. A 14 de Agosto de 1385, D. João I está no campo de batalha frente aos castelhanos. Invoca a Virgem e faz o voto de lhe erigir e dedicar um mosteiro se o desfecho do confronto de Aljubarrota for favorável ao seu reino. Vivia-se uma das mais difíceis crises da nacionalidade e a perda da batalha representaria, certamente, o seu fim. Tudo se decidiu no próprio dia, ao cair da noite. O campo de Aljubarrota estava coberto de cadáveres e só na manhã seguinte foi percetível que o inimigo castelhano desaparecera. Ao longo de mais de cento e cinquenta anos, passam pelo Mosteiro de Santa Maria da Vitória os maiores arquitetos do Reino. Edificara-se um símbolo da perenidade do Estado português.
28. Mosteiro de Santa Maria da Vitória — Batalha. 1 de maio de 1996.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Igreja Paroquial de Malhadas

[pst 028]  O carácter do será, durante muito tempo, um dos elementos mais importantes da arquitetura tradicional, e voltou a sê-lo na recente prática projetual da arquitetura. Uma relação profunda e intencional é estabelecida entre a geografia da terra e a geografia humana. Embora inspirando-se em modelos externos, a arquitetura, portuguesa deixa-os evoluir, quer tipológica quer topologicamente; daqui decorre muito da sua singularidade. Não sendo inovadora ao nível da forma, usa, tradicionalmente, de maneira equilibrada e pragmática, os materiais e os meios disponíveis, para estabelecer com fazeres antigos e lugares novos o espaço da sua perenidade.
27. Igreja Paroquial de Malhadas — Miranda do Douro. 15 de maio de 1996.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Aleatoriedade no caminho

[ronda 10] O conhecimento da evolução biológica, mesmo entendido  por alguém que não é especialista neste denso e labiríntico ramo do saber, bem como da geologia, da física, química, pode levar-nos a um mundo fascinante, despido de alguns conceitos arcaicos que se prendem com a ideia de que há uma condição relativamente fixa, das coisas e dos seres. Há uma enorme aleatoriedade no caminho que nos conduziu ao que somos, a espécie de maior sucesso evolutivo, da enorme complexidade, humanos

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Casa Grande de Romarigães

[pst 027]  Em meados dos anos 50, quando se procedia ao restauro da Casa Grande, em Romarigães, Aquilino Ribeiro encontra, num armário, "uma volumosa rima de papeis velhos". Aí se relatavam diversos acontecimentos ocorridos na casa ao longo de um lapso de tempo relativamente vasto. Por seu punho, Aquilino trabalha os escritos, pouco acrescentando aos factos relatados, e publica em 1957 "A Casa Grande de Romarigães". Obra literária de grande fôlego, fortemente alicerçada numa paisagem concreta do Alto Minho. O forte carácter telúrico de alguns lugares inspirou não poucas obras importantes da literatura portuguesa.
26. Casa Grande de Romarigães — Romarigães. Paredes de Coura. 8 de março de 1996.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Igreja do Mosteiro de Tibães

[pst 026]  Nos mosteiros de Espanha, a regra de S. Bento é conhecida desde o século VII. Só deverá ter entrado no território luso trazida pelos monges de Cluny, em finais do século XI. De aí em diante até à fundação da nacionalidade, a Ordem conhece o seu período mais próspero. Os mosteiros exercem então grande influência sobre as comunidades rurais, que gravitam em seu redor, tanto na organização social como na agricultura. O declínio beneditino em detrimento de outras Ordens, começa sensivelmente em 1140 e prolonga-se até meados do século XVI, altura em que se dá a reforma da Ordem. Tibães tornou-se então a sua casa-Mãe. Na maioria dos casos os antigos mosteiros foram demolidos para construir templos mais modernos. Desaparecem importantes obras arquitetónicas da Idade Média. Espaços marcados pelo espírito pragmático e funcionalista da Contra-Reforma, muitos dos mosteiros escolheram uma arquitetura austera e desornamentada, severa, fria, límpida, de superfícies sem profundidade.
25. Igreja do Mosteiro de Tibães — Braga. 7 de maio de 1996.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Elemento secundário

[ronda 09] Como explicar o fascínio pela terra? Talvez esta seja a questão base. A própria fotografia, como disciplina, é um elemento secundário. A fotografia é um motor, um incentivo, razão de movimento. O essencial é o habitar a terra. Um planeta que só muito recentemente ganhamos a consciência clara dos passos de um processo evolutivo, geológico e biológico, muito prolongado no tempo.











segunda-feira, 6 de julho de 2015

Mosteiro de Santa Maria de Aguiar

[pst 025]  Consideráveis progressos técnicos marcam a transição do estilo românico para o gótico. O uso do arco em ogiva e de abóbadas nervuradas, permite coberturas mais altas e uma estrutura portante mais delgada. A arquitetura torna-se simultaneamente mais monumental e de interiores mais luminosos. Este facto revela, além de novas soluções técnicas, uma alteração de mentalidades e uma postura diferente perante Deus. A Igreja de Santa Maria de Aguiar, da Ordem de Cister, tem fundação anterior ao século XIII, a sua arquitetura remete-nos para esse período de transição.
24. Mosteiro de Santa Maria de Aguiar. Figueira de Castelo Rodrigo. 4 de agosto de 1989.

sábado, 4 de julho de 2015

Mosteiro de Flor da Rosa

[pst 024]  Nun' Álvares Pereira é um dos vultos de maiores da história de Portugal. Não se sabe ao certo onde nasceu. Uma das hipóteses avançadas é Flor da Rosa onde, pelo menos, terá passado parte da infância e juventude, uma vez que seu pai, Dom Álvaro Gonçalves Pereira, prior do Hospital, foi o fundador do mosteiro. Aí, na planura alentejana, desenvolve um excecional sentido topográfico e de estratégia militar. Por intermédio de Nun' Álvares a Flor da Rosa evoca também os combates travados pelos seus homens contra o invasor castelhano, em 1383 e nos anos seguintes.
23. Mosteiro de Flor da Rosa — Crato. 28 de agosto de 1996.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Nada sobre nada

[ronda 08] Construímos a possibilidade de sentido das nossas vidas. Num quotidiano muitas vezes de lutas, derrotas, amargas vitórias, de nada sobre nada, elevamos um gesto para um tempo desconhecido e breve. Trazemos sempre alguém connosco e de nós deixamos em outros matérias etérias.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

[pst 023]  A península de Peniche ocupa uma posição singular na regularidade linear da costa portuguesa. Antes do século XV era uma ilha; viria progressivamente a ligar-se a terra através de um istmo de areia. A gruta da Furninha, na falésia a sul da Península, teve ocupação humana na Pré-História. Há também referências da presença dos Romanos. Tem como extremo poente, o Cabo Carvoeiro, a 12 km do qual se avista a ilha da Berlenga. É nesta paisagem e em volta de um enorme terreiro, que se desenvolve, orientado para o mar, um dos santuários do litoral português. Todos os anos, a 19 de Outubro, chegam ao santuário da Srª dos Remédios, os círios de povoações vizinhas para a festa sagrada.
22. Santuário de Nossa Senhora dos Remédios — Peniche. 16 de março de 1991.