sexta-feira, 29 de abril de 2016

Castelo de Ansiães

[pst 185] Quem vem de Carrazeda de Ansiães para sul, na direção de Selores e Lavandeira, avista, a dado momento, um enorme morro granítico coroado por um pano de muralha e alguns nobres castanheiros seculares na sua encosta. É o prenúncio de um clima húmido numa altitude elevada, aqui superior a 800 metros. Após a igreja de S. João, em ruínas, passamos a antiga porta da muralha. Continuamos em direção ao cume e encontramos a igreja de S. Salvador, como a anterior, românica. No alto do castelo, para sul, ao longe, adivinhamos o Douro. Como se o tempo tivesse parado desde há seiscentos anos...

Castelo de Ansiães — Selores. Carrazeda de Ansiães. 30 de dezembro de 1996

Castelo de Calabre — Almendra

[pst 184] Em 1171 D. Fernando II de Leão doa as ruínas do antigo Castelo de Calabre ao bispo de Ciudad Rodrigo. Durante a época romana e visigótica o local fora um importante centro político e religioso, sede de bispado, onde chegara mesmo a ser cunhada moeda, durante o século VII. As causas da decadência do lugar não são conhecidas. Situa-se num cabeço sobranceiro ao Douro e são ainda visíveis troços do antigo perímetro muralhado.


Castelo de Calabre — Almendra. Vila Nova de Foz Côa. 6 de julho de 1996

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Mortórios — vale do rio Távora

[pst 183] "Vêem-se uma vez e ficam-nos para sempre nos olhos, ferem a alma, como a imagem mais pungente da tristeza e da devastação. Paira sobre eles um silêncio profundo de abandono, a mesma quieta e fria paz que pesa sobre toda a ruína, seja ela a de alguma cidade morta, ou de casa em destroços que noutro tempo as chamas de um incêndio reduziram ao calcinado osso, ou da fonte que secou e donde já não brota gota de água, ou talvez do campo que se fez maninho e deixaram entregue à erva ruim e ao recreio das víboras". São os mortórios vistos por Manuel Mendes em Setembro de 1962, no Douro — Roteiro Sentimental. É a imagem da praga da filoxera, que em pouco tempo destruiu quase todas as vinhas do vale. Muitos socalcos não mais voltariam a ser plantados.

Mortórios — vale do rio Távora. Tabuaço. 20 de agosto de 1996

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Quinta do Sidrô — S. João da Pesqueira

[pst 182] Um solo xistoso e um clima de períodos estivais muito quentes e secos contribuem de forma decisiva para criar condições ótimas para o cultivo da vinha e amadurecimento da uva. Há, no entanto, um solo extremamente difícil de trabalhar. As suas encostas inclinadas obrigam à edificação dos socalcos. Obra grandiosa de execução penosa, tem sido substituída por outras formas de trabalho do solo, como tentativa de mecanizar as diversas fases de produção do vinho. Os patamares reduzem quase para metade o número de vinhas plantadas, mas dispensam os muros de suporte. A vinha ao alto, que contraria as curvas de nível, é utilizada em terrenos de menor declive e tem os níveis de produção mais elevados dos diversos processos de cultivo.

Quinta do Sidrô — S. João da Pesqueira. 7 de julho de 1996


terça-feira, 26 de abril de 2016

Casa de Miguel Torga

[pst 181] Miguel Torga nasceu em S. Martinho de Antas, em 1907. Cantor da Terra, encontra no vale do Douro uma dimensão telúrica e dramática que será fundamental na sua obra. Em 1950, edita Portugal: "Doiro, rio e região, é certamente a realidade mais séria que temos. Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, peleja mais arduamente em todo o caminho; Nenhuma outra nesga de terra nossa possui mortórios tão vastos, tão estéreis e tão malditos".

Casa de Miguel Torga — S. Martinho de Antas. Sabrosa.  21 de agosto de 1996

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Douro — Senhora do Castelo, Urros

[pst 180] Em 1876 era publicado no Porto O Douro Ilustrado, da autoria do Visconde de Villa Maior, obra de referência sobre o "Paiz Vinhateiro". "[...] é comtudo bem certo que a phisionomia original e quasi mysteriosa d' esse paiz privilegiado pela natureza é ainda quasi desconhecida. § Eram bem raros ainda ha pouco os viajantes que se aventuravam a percorrer, em toda a sua extensão, as regiões que o Douro atravessa dentro do território portuguez". Hoje, quando deixamos as estradas principais e nos embrenhamos por vales, ou subimos a pontos altos, continuamos a descobrir, incessantemente, um Douro ignoto.

Douro — Senhora do Castelo, Urros. Freixo de Espada à Cinta. 8 de julho de 1996

domingo, 24 de abril de 2016

Granja do Tedo

[pst 179] Granja do Tedo, nome evocativo de um guerreiro cristão em tempos da Reconquista, é uma pequena aldeia. A povoação está dividida em dois núcleos: um mais alto, na margem direita da ribeira, provavelmente o mais antigo, e outro em baixo, junto à ribeira em que, embora distante, se sente a presença do Douro.

Granja do Tedo. Tabuaço. 20 de agosto de 1996

sábado, 23 de abril de 2016

Mesão Frio

[pst 178] O Mesão Frio localiza-se no sopé da serra da Marão, já próximo do Douro. É sensivelmente a partir daqui que as correntes de ar oceânico, frescas e húmidas, deixam de se fazer sentir e o clima e a paisagem se alteram. Entramos na região demarcada do vinho generoso do Douro.

Mesão Frio. 22 de agosto de 1990

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Bairro da Ponte — Lamego

[pst 177] O vale do Douro, na sua parte cultivada com vinha, é das regiões mais humanizadas do território português. Sem dúvida que este facto tem origem num solo e num clima específicos, que possibilitam a feitura do Vinho do Porto. Este não é, no entanto, uma dádiva da natureza, mas sim um produto histórico, um ato de cultura, todos os dias trabalhado por homens e mulheres. Com as suas cidades, vilas, aldeias e quintas, o vinho é determinado pelo suor, saber e técnica, de quem habita esse lugar. O Bairro da Ponte situa-se no velho caminho que liga Lamego à área vinhateira.

 
Bairro da Ponte — Lamego. 19. de agosto de 1996

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Quinta do Vesúvio

[pst 176] As referências documentais mais antigas à Quinta das Figueiras datam do início do século XVI. No início do século XIX, já com a designação de quinta do Vesúvio, pertence ao conde da Lapa, que a aluga a título perpétuo a António Bernardo Ferreira, em 1823. Este abandona o cultivo de cereais, constrói socalcos, estradas, edifícios agrícolas e planta vinha em toda a extensão da quinta. Em 1855, a casa fica pronta e António Bernardo Ferreira morre. Seu filho, que pouco antes casara com Antónia Adelaide, herda a propriedade. Aos 32 anos, D. Antónia, fica viúva. Quando morreu, em 1896, com 85 anos, geria 24 quintas. De coragem e determinação invulgar, representa um dos maiores vultos da história do Douro vinhateiro. Gostava particularmente da quinta do Vesúvio, onde costumava receber visitas.

Quinta do Vesúvio — Seixas. Vila Nova de Foz Côa.  7 de julho de 1996

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Casa dos Pereiras — Sabrosa

[pst 175] Um documento, deixado por Fernão de Magalhães, sugere ter sido sua propriedade a Casa dos Pereiras, na Sabrosa. E aqui teria nascido. No entanto, não se consegue precisar nem o local, nem a data do nascimento deste homem, um dos maiores navegadores do período dos Descobrimentos e o primeiro a fazer a circum-navegação do Globo Terrestre.

 
Casa dos Pereiras — Sabrosa. 20 de agosto de 1996

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Casa do Douro — Peso da Régua

[pst 174] O vinho produzido na região do Douro já alcançara um certo prestígio no século XVII, facto que levou vinhos de outras regiões, de qualidade inferior, a adotarem, ilegalmente, o seu nome. A situação tornou-se caótica e a boa reputação do vinho foi destruída. Em 1756, Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro do rei D. José e, mais tarde, Marquês de Pombal, ordena a criação da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro e demarca a região produtora. Em 1865 é abolida a Companhia e em 1868, com o primeiro surto de filoxera, entra-se num novo período de crise. Com o intuito de defender novamente a marca "Porto", é fundada, em 1907, a Comissão da Viticultura da Região Duriense. No início dos anos 30, a crise da economia mundial bate à porta do vinho generoso do Douro. Nascida da vontade de reorganização institucional da região é, em 1932, criada a Casa do Douro.

 
Casa do Douro — Peso da Régua. 21 de agosto de 1996

domingo, 17 de abril de 2016

Lamego

[pst 173] O destino da região duriense começou em Lamego, onde nas margens do Varosa se cultivava vinha que dava origem ao Vinho de Lamego, tido então, antes do grande surto duriense do século XVIII, como o melhor vinho do reino. De povoamento muito remoto e longa história, a cidade viria a decair progressivamente, talvez devido à distancia que a separa do Douro. Continua, no entanto, a ostentar o mais rico conjunto arquitetónico da região.

Lamego. 19 de outubro de 1996

sábado, 16 de abril de 2016

Igreja do mosteiro de Salzedas

[pst 172] As obras do mosteiro de Salzedas foram iniciadas em 1168, tendo sido concluídas em 1225, data da sagração da Igreja. Em Portugal, dos templos da Ordem de Cister, só o de Alcobaça era maior. Tal como aconteceu naquela abadia, o século XVIII veio trazer profundas alterações à sua fachada. Já o Marquês de Pombal era ministro do rei D. José, quando a anterior fachada foi demolida para a construção da actual, que nunca chegaria a ser concluída.

 
Igreja do mosteiro de Salzedas. Tarouca. 4 de outubro de 1996


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Igreja matriz de Torre de Moncorvo

[pst 171] Na serra do Reboredo encontra-se uma das maiores jazidas de ferro de Portugal. A exploração do minério conheceu o seu período áureo durante a Segunda Guerra Mundial quando, da estação do Pocinho, saíam dois comboios diários em direção ao porto de Leixões. Foi o período de maior desenvolvimento de Torre de Moncorvo, antiga vila fortificada e diversas vezes assediada pela guerra. A robustez estrutural e a arquitetura da igreja matriz, construída no século XVI, transportam-nos a esse tempo de conflitos armados.

Igreja matriz de Torre de Moncorvo. 16 de maio de 1996

Ponte e torre da Ucanha

[pst 170] A povoação de Ucanha desenvolve-se linearmente, pela encosta, a partir deste ponto de atravessamento do rio Varosa. Por aqui passava uma antiga via romana que ligava Lamego a Ferreirim e Britiande. O conjunto formado pela ponte e pela torre é uma das memórias construídas, que nos chegou de tempos medievos, da cobrança de taxas de portagem decorrentes de privilégios monásticos ou senhoriais. Em Ucanha nasceu José Leite de Vasconcelos, autor das Religiões da Lusitania  e da Etnografia Portuguesa, homem de um saber invulgar, sobre ele escreveu Orlando Ribeiro: "Na vasta messe da Terra, do Povo e da Linguagem ele foi o segador. Compete às gerações que se seguirem bater o grão, fazer a farinha e amassar o pão, que por muito tempo ainda há-de alimentá-las".

Ponte e torre da Ucanha. Tarouca. 4 de outubro de 1996

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Rio Douro — Quinta do Douro

[pst 169] "A região demarcada do Douro é uma ilha de xisto rodeada de montanhas e granito que se estende desde os imponentes contrafortes do Marão até ao último pedaço de terra portuguesa antes de Espanha. O rio funciona como guião da sua história, da sua vida, da sua paisagem, e para lhe chegar às margens há sempre que partir de um planalto e descer por uma estrada não raro sinuosa. Primeiro reina o granito e a vegetação de montanha. Quando as vinhas começam a impor a sua presença e a paisagem se transforma numa densa teia de linhas paralelas rasgadas nas encostas, chega-se então a uma das mais deslumbrantes paisagens portuguesas: o «Paíz Vinhateiro do Alto Douro»". (Manuel Carvalho — Guia do Douro e do Vinho do Porto).

Rio Douro — Quinta do Douro, Almendra. Vila Nova de Foz Côa.  6 de julho de 1996

terça-feira, 12 de abril de 2016

Vale do Pinhão

[pst 168] A monocultura da vinha domina toda a paisagem duriense. No vale do Pinhão, sob um teto de videiras, como numa sala hipóstila, contemplamos uma das áreas mais intensamente exploradas da região

Vale do Pinhão — São Cristóvão do Douro. Sabrosa.  20 de agosto de 1996

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Cruzeiro — Senhora do Viso

[pst 167] No sopé da serra do Marão, na vertente voltada a nascente, nas imediações da Senhora do Viso, existem vários cruzeiros que, embora de cunho popular, ostentam uma singular perfeição de desenho e do talhe da pedra granítica. Representam como que a sacralização de uma das portas de acesso ao vale.

Cruzeiro — Senhora do Viso, Fontes. Santa Marta de Penaguião.  18 de março de 1996

domingo, 10 de abril de 2016

Miradouro de Nossa Senhora de Lourdes — Nagozelo do Douro

[pst 166] Devido ao fascínio exercido nos homens pela grandiosidade do vale do Douro, vão erguer pequenos santuários de romaria em pontos notáveis da sua paisagem. Mirantes de contemplação de um lugar mágico.

Miradouro de Nossa Senhora de Lourdes — Nagozelo do Douro. S. João da Pesqueira. 20 de agosto de 1996

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Rio Douro — Amendoeiras

[pst 165] Quando foram construídas as cinco barragens do troço de maior declive do rio Douro, sensivelmente entre Miranda do Douro e Barca d' Alva, desaparecia um rio de águas moventes, de cachões. Este vale ficaria registado em algumas fotografias de Domingos Alvão. Persistia inalterada a dimensão esmagadora de um profundo entalhe, de um dos maiores acidentes orográficos da terra portuguesa e de um dos seus mais inacessíveis lugares.

Rio Douro — Amendoeiras, Vila Chã da Braciosa. Miranda do Douro. 14 de maio de 1996


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Estrada romana — Vreia de Jales

[pst 164] São conhecidos alguns troços de uma estrada romana que atravessava o Douro próximo da Régua, passava ao santuário de Panóias, às minas auríferas de Jales e, mais a norte, a Chaves. Desta cidade eram estabelecidas outras relações viárias, quer com Braga, a oeste, quer com Astorga, a norte, em território espanhol.

Estrada romana — Vreia de Jales. Vila Pouca de Aguiar. 7.de agosto de1996

terça-feira, 5 de abril de 2016

Caminho — Afonsim

[pst 163] Muitas vezes correm paralelos e próximos de estradas modernas e a vegetação vai tomando o seu eixo. Calcados por passos persistentes, os caminhos velhos demoram a desaparecer. Continuam a ligar lugares e a mostrar a irreparável inquietação humana.

Caminho — Afonsim. Vila Pouca de Aguiar. 28 de janeiro de1996

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Linha Ferroviária do Sabor — Duas Igrejas

[pst 162] A linha férrea do Sabor é a última de todos os ramais, que a partir do Douro penetram a terra transmontana subindo pela margem dos seus afluentes. Parte do Pocinho, próximo da foz do Sabor e sobe a Torre de Moncorvo, percorre o sopé da serra de Reboredo até à estação de Freixo de Espada à Cinta, que fica a dez quilómetros da Vila. Inflete pelo planalto de Miranda, mas não chega a atingir esta cidade. Termina em Duas Igrejas, a oito quilómetros de Miranda do Douro. É uma ferida aberta pela civilização na quieta horizontalidade da planura.

Linha Ferroviária do Sabor — Duas Igrejas. Miranda do Douro. 12 de setembro de 1990

domingo, 3 de abril de 2016

Sombrosas

[pst 161] Quando foi construída a estrada que ligou as Penhas da Saúde à Torre e ao Sabugueiro, a serra da Estrela perdeu algo da magia de um lugar quase inacessível para os citadinos. A serra do Gerês, em que apenas os vales são povoados e fruídos por turistas, mantém essa característica de lugar distante. Terra da estivagem pastoril, da vegetação escassa, do infindável mar rochoso.

Sombrosas — Serra do Gerês. Terras de Bouro. 19 de agosto de 1991

sábado, 2 de abril de 2016

Vale do rio Angueira

[pst 160] Milheiro, Outão, Santulhão e Algoso, foram antigas praças de armas fortificadas, que formavam uma linha defensiva da nacionalidade portucalense. Os castelos do Milhão e do Santulhão foram destruídos; do Outeiro, restam uns panos de muralha. O do Algoso permanece. Ergue-se a sul da povoação com o mesmo nome, numa proeminência rochosa sobre o rio Angueira, próximo da sua confluência com o rio Maçãs. Daqui avista-se um pouco da dimensão telúrica da terra transmontana.

Vale do rio Angueira — Castelo de Algoso. Vimioso. 30 de dezembro de 1993

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Serra do Larouco

[pst 159] Terra de pastoreio, de cumeeira planáltica, a serra do Larouco domina o planalto barrosão e constitui um dos seus pontos mais altos que o envolvem, ao atingir os 1535 m. O cume, na sua imponente quietude, tem o nome de uma divindade. Não longe deste ponto, na Fonte da Pipa, nasce o rio Cávado, que atravessará o Minho para encontrar o mar em Esposende.

Fonte da Pipa — Serra do  Larouco. Montalegre. 27 de agosto de 1994