terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Escalas, limites

[arquitetura 11] A escala da cidade e o mais pequeno detalhe são as baias, o território de intervenção do arquiteto. O arquiteto não é o que faz a “planta” das casas em que vivemos, desenha as múltiplas escalas do lugar e do território, do mais ínfimo detalhe de desenho, a posição exata de um parafuso numa peça de mobiliário, até à estrutura urbana de uma cidade nova. Sem prejuízo de especialidades que entretanto surgiram, este foi, e continua a ser, o espaço de intervenção do arquiteto. Todo o espaço, todos os territórios, todos os lugares do habitar humano.
Atelier Bugio, do arquiteto João Favila. Lisboa. 2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Desenho, matéria

[arquitetura 10] O ofício dos arquitetos, aquilo para que foram formados, é o desenho e a matéria das cidades, é a construção da habitação e dos edifícios públicos e comunitários, é o pensar o território humano como um todo, articulado nas suas diferentes teias e complexidades. Há uma formação de raiz e há uma aprendizagem ao longo do tempo que aprofunda o entendimento de uma cultura específica em que se labora. 
Atelier do arquiteto João Luís Carrilho da Graça. Lisboa. 2012

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Desejo de futuro

[arquitetura 09] A arquitetura não é apenas desenho, construção, edifícios, cidades. A arquitetura é pensamento estruturado da realidade, é ordem por oposição ao caos, é a utopia perseguida com determinação e pragmatismo, é o desenho de uma sociedade funcional, justa. É território de criatividade e liberdade. É o tabuleiro do equilíbrio procurado. É a participação num jogo evolutivo permanente, é desejo de futuro.
 
Atelier do arquiteto Siza Vieira. Porto. 2012
 

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Aprendizagem da arquitetura

[arquitetura 08] A aprendizagem da arquitetura não deixa de marcar indelevelmente quem teve uma formação na área e quem exerceu a profissão durante alguns anos, aqueles que foram seminais e início de uma vida profissional. No entanto a fotografia  já vinha antes do início do estudo da arquitetura. Depois da formação aprofundaria cada vez mais o conceito de arquitetura e a sua relação com a imagem fotográfica. A fotografia entendida não para servir a representação da arquitetura, mas como “construção” de lugar. Imaginário e utopia.
Fuseta. 2001

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Arquitetura como conceito

[arquitetura 07] Nota de princípio: tendo deixado a prática da arquitetura enquanto projeto de estruturas edificadas há já cerca de 17 anos, tenho vindo a desenvolver, de forma não sistemática, um conjunto de reflexões breves sobre a condição de arquiteto. O não-exercício dos atos próprios da profissão, não significa que deixe de pensar a arquitetura como um conceito e uma postura que poderá ser entendida como o desenho tentado, imaginário, de uma casa do ser. Esquissos para uma morada humana.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Do quarto à cidade

[arquitetura 06] Estes escritos partem de um pressuposto que parece absolutamente evidente: a qualificação do espaço que habitamos, seja da mais pequena dimensão, como o nosso quarto ou a nossa casa, até às mais vastas extensões, como as cidades ou mesmo os estados, arrasta consigo uma melhoria da qualidade de vida. O espaço desenhado e pensado por arquitetos, nas suas múltiplas dimensões, conduz ao desenvolvimento cultural, social e económico das comunidades. 
 
Funchal. 2016
 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Gabinete da Cidade

[arquitetura 05] Em agosto passado tive a oportunidade de colaborar com o Gabinete da Cidade, um espaço dependente da Câmara Municipal do Funchal, coordenado pelo arquiteto Paulo David, destinado a analisar não apenas a cidade mas toda a área do concelho. Neste momento a atividade está concentrada na malha urbana, particularmente naquela que se desenvolveu ao longo, sensivelmente, da segunda metade do século XX. O trabalho já desenvolvimento, na leitura e interpretação do existente, bem como no apontar propostas de intervenção, é notável. O modelo bem poderia ser seguido por outras cidades portuguesas e certamente que os resultados seriam muito positivos. Há um importante papel a atribuir aos arquitetos no estudo, e na intervenção, das cidades portuguesas. Há imenso trabalho a fazer, assim haja vontade e inteligência política para tornar o país mais qualificado.
Funchal. 2016

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Casas Aéreas

[arquitetura 04] O terceiro e último momento, a motivar esta escrita sobre arquitetura, foram dois dias passados no Funchal, a acompanhar os trabalhos de um workshop de arquitetura com o sugestivo título “Casas aéreas”, coordenado por Paulo David e Rui Mendes. O desafio lançado foi o desenvolvimento de propostas de intervenção, em grupos de três a quatro alunos, numa área específica da ribeira de Santa Luzia, no coração da cidade do Funchal. Voltar a contactar com a energia dos estudantes, com a ambição de desenhos renovadores, com o brilho do olhar, é um prazer para quem, por vezes, se perde num quotidiano difícil de afazeres muito diversos, em geografias desconexas. A vontade de aprender mostra-nos que somos nós próprios, já com alguns anos de experiência profissional, que muito temos para aprender. Ali está o pulsar da contemporaneidade, do habitar o presente, e o futuro breve em permanência.
Ribeira de Santa Luzia. Funchal. 2016

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Lobo

[arquitetura 03] O segundo momento que me levou a escrever estas notas foi uma conversa com a arquiteta Inês Lobo, com quem já, por duas ocasiões, tive a oportunidade de trabalhar. Visitámos o seu espaço de trabalho, ainda em acabamentos, erguido de uma ruína que muito pouco poderia oferecer a um olhar sem “projeto”. O espaço desenvolvido muito dificilmente poderia sair de alguém que não visse no desenho uma ferramenta do habitar, do projetar uma realidade difícil de imaginar, criar quase que do nada, um lugar de criatividade e visão. Ponto de reinvenção e de renovação da cidade, do habitat humano. Há espaços que nos fazem sentir gratos pelo privilégio de pertencer a um grupo profissional que nos transporta ao futuro e nos revela as dimensões possíveis da utopia.
João Vaz, Inês Lobo, João Luís Carrilho da Graça, João Rosário. Lisboa. 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Campanha

[arquitetura 02] O primeiro dos três momentos recentes de contacto com a realidade específica da arquitetura como profissão, foi uma iniciativa enquadrada no processo eleitoral, ocorrido, recentemente para a eleição dos órgãos da Ordem dos Arquitetos. Tentei perceber o que a candidata Teresa Novais, de visita a Viseu, faria, eventualmente, para tentar trazer à Ordem dos Arquitetos, aqueles profissionais têm a sua inscrição suspensa, certamente pela conjugação do valor a pagar pelas cotas e a ausência da necessidade de pagamento pelo não exercício dos atos próprios da profissão. Entendo que a valorização da classe passa por um debate aprofundado sobre soluções de qualificação e valorização da atividade da arquitetura e fazeres conexos, que chame todos os profissionais, mesmo os que não projetam edifícios. Talvez o reconhecimento do caráter diferenciador desta profissão passe por ouvir todos aqueles que se formaram com o objetivo comum de usar o desenho para projetar um mundo melhor, em edificado ou não.
 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Arquitetura aqui

[arquitetura 01] A arquitetura, entendida nas suas dimensões de produção de espaço qualificado, é atualmente, a vários níveis, um campo de atividade de grande diversidade e dinamismo. Três contactos recentes motivam a escrita de um conjunto de pequenos textos sobre arquitetura, sobre a profissão de arquiteto. Sobre uma forma de arte que derruba barreiras e nos abre a dimensões elevadas da interpretação de uma condição de habitar, de ser humano. 
 
Detalhe de maqueta de um projeto de Ricardo Bak Gordon. Lisboa. 2012
 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Fonte fria

[arquivo cidade 066] Esta viagem iria ter origem nas estação ferroviária de Peso da Régua. A partir daqui iria fotografar a Linha do Corgo, que assim se designa por acompanhar o rio com o mesmo nome, subsidiário do Douro. Depois ainda passaria, com brevidade, pela serra do Larouco, onde anos mais tarde voltaria para ver a neve. Para me dirigir, finalmente, a Pitões das Júnias, aldeia de onde partiria para uma primeira incursão no Gerês, na direção da capela de São João, para depois me dirigir para o pico da Fonte Fria.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Registo compulsivo

[arquivo cidade 065] Havia uma necessidade quase compulsiva para o registo de toda a terra, uma tentativa de aproximação a essa ideia. A fotografia era como um movimento performativo sobre a montanha, sobre um espaço que se dilui no tempo que passa, na tentativa de captura de ambos: espaço e tempo. Talvez procurasse uma primeira imagem, ou numa única fotografia sintetizar todo o lugar. conseguir transmitir uma miríade de reflexões sobre uma condição singular de habitar a terra, entender um corpo em movimento que procura imagens em jogo de realidades múltiplas, cruzadas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Regresso ao tempo longo

[arquivo cidade 064] Ao longo de trinta anos de viagens raramente tivera a oportunidade de observar lugares onde sejam pouco evidentes as mudanças, as transformações do espaço, como ali, no alto destas montanhas, acontecia. Mas havia um facto muito curioso relativo às fotografias que estava agora a fazer. Agora não só abandonara o preto e branco em favor da cor, como fazia uma quantidade de fotografias consideravelmente maior. Em termos de documentalismo conseguia uma cobertura da montanha muito mais abrangente. E este era um dos principais objetivos dessa viagem.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Interpretar, fazer

[arquivo cidade 063] Dessas montanhas isoladas e distantes, passava para outros territórios, na tentativa de os observar, registar, conhecer, interpretar, para, sobre eles, produzir algo, um jogo de fotografias e palavras. Partilhar um saber adquirido com o tempo, com os lugares.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Vinte e um anos

[arquivo cidade 062] Em agosto de 2012 tinham passado 21 anos sobre esta viagem e três sobre a serra da Peneda. Estávamos de novo em agosto. O objetivo de um regresso ao Gerês era a procura de um certo isolamento da civilização e, ao mesmo tempo, fazer uma série de recolhas fotográficas já com a tecnologia digital, inacessível na primeira viagem.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Recuar

[arquivo cidade 061] Continuava a recuar no tempo à procura de montanhas do passado. No dia 15 de agosto de 1991 partia do Campo do Gerês na direção dos pontos mais elevados dessa montanha. O percurso não fora muito linear, na procura de pontos interessantes na serra. A 25 de agosto chegava a Tourém, o destino final, onde iria permanecer até ao dia seguinte. Estava percorrida toda a serra do Gerês pela sua cumeeira, sensivelmente pela linha de fronteira que ali separa os dois países ibéricos. Eram estas viagens que pontualmente recordava, particularmente quando percorria algumas das fotografias feitas na altura, agora arrumadas em arquivo.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Introdução final

[arquivo cidade 060] Na procura do significado do trabalho em campo aberto, voltava agora a recordar a primeira tentativa para subir à serra da Peneda em 1993. Uma leitura errada das cartas topográficas e uma penosa incursão por uma área de vegetação densa acabaria por ditar o fim da caminhada. Só muito mais tarde regressaria, em 2009. Nesta segunda tentativa, nos dias 25 e 26 de agosto, o mau tempo, chuva e um nevoeiro cerrado, impedia a visibilidade e as recolhas fotográficas. Poucos dias depois voltava para uma nova tentativa, agora em solitário. Ao descer do topo, a 6 de setembro, dois dias depois de ter iniciado a caminhada, estava concluído o registo fotográfico da última serra de Portugal, das suas terras de cume. Era um objetivo de duas décadas. Esta era como a introdução final das viagens, início de novos projetos, de novas formas de abordar o regresso à terra.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Transportar tecnologia

[arquivo cidade 059] As recolhas fotográficas mesmo quando feitas em condições de precariedade, exigem uma câmara fotográfica que, ainda que com modelos arcaicos, não deixa de ser uma tecnologia avançada, mesmo que se usem técnicas antigas para a fixação da imagem. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ter presente

[arquivo cidade 058] Não esquecemos que tudo isto, caminhadas duras, se fazem dentro de uma margem de segurança, com alimentação garantida, mesmo que com pouco. E há as aldeias onde a qualquer momento podemos buscar auxílio. Há equipamento tecnologicamente avançado, leve, confortável. A água já nos pode remeter para outras limitações e cuidados, particularmente em tempo quente e seco, quando as fontes estão secas. Avançamos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Ao mesmo tempo

[arquivo cidade 057] Recordava os tempos em que as noites em campo aberto não eram tanto uma opção mas a única possibilidade de viajar por lugares distantes. Depois acabou por ser procurado esse silêncio, essa independência momentânea da civilização, da eletricidade, das televisões, do fogão, do duche, de quase tudo. Ao mesmo tempo havia dureza nesta opção, havia esforço continuado, havia a procura de um local de pernoita como um animal procurará a sua toca. O frio, a chuva, o vento, o sol tórrido, a água escassa, tudo para nos lembrar que a vida é uma conquista diária, que somos, de facto, máquinas de sobrevivência.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Regressar à noite

[arquivo cidade 056] Regressar ao campo, às noites em repouso sobre a terra seca; ouvir o vento nas árvores, a sentir a humidade do ar; uma extrema acuidade auditiva, como se aí estivesse uma arma defensiva em terra desconhecida. Sentir de novo o corpo integrado na natureza, a condição animal que nos ergue.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Da terra

[arquivo cidade 055] Podemos ler numerosos livros, ver cinema, teatro, televisão, diferentes interpretações da realidade, seja ela mais ou menos abrangente, mas na terra temos os sinais muito particulares de um mundo concreto, habitado por pessoas, por seres, muitas vezes, esquecidos, abandonados ao seu próprio destino, construtores de um mundo em perda, herdeiros de uma secular forma de relação com o solo. As cidades são máquinas evolutivas.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Lugares de reflexão

[arquivo cidade 054] Regressar ao campo, ao contacto com o mundo rural e a essa humanidade que vive num limbo entre dois tempos, entre dois mundos - uma existência arcaica no meio de uma natureza áspera e as cidades, com a sua dinâmica evolutiva própria e, em muitos aspetos, desgastante, mas inevitável. O silêncio rural pode ser opressivo, mas é um espaço para refletir sobre os lugares da condição humana. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Verdade particular

[arquivo cidade 053] Não há aqui qualquer modelo que se possa seguir ou sugerir, mas apenas os passos da viabilização de uma verdade particular que se procura. Agarramos os fragmentos do imenso saber de quem nos ergue ao longo de muitas gerações de conhecimento acumulado; construímos, a partir daí, uma morada para habitarmos. Há opções que nascem de necessidades concretas e este olhar poderá ter esse selo, o de procurar, em liberdade e precariedade, possibilidades.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Arquitetura popular contemporânea

[arquivo cidade 052] A arquitetura popular tradicional mostrou-nos exemplos extraordinários de sabedoria e de conhecimento, de adaptação. Hoje, as construções sem recurso a arquitetos ou engenheiros continuam a existir com grande dinamismo. Ocupam lugares de franja, não o centro das cidades, mas as suas periferias, longe dos centros de poder e onde a pobreza de recursos é mais acentuada. Ironicamente, foi também esta que impulsionou algumas das nossas mais belas peças de arquitetura popular tradicional, muitas delas que hoje apenas permanecem em fotografias.
Sesminho, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Expressão em desaparecimento

[arquivo cidade 051] A arquitetura popular tradicional, como a conhecíamos, tende a desaparecer na sua expressão em territórios contínuos e integrados com o meio ambiente. Nas fotografias ficará fixada a sua imagem. São estas representações que nos demonstram, na sua imobilidade, a passagem do tempo e a transformação que este opera sobre os habitats humanos ou sobre o espaço natural. Nada detém a erosão dos elementos, o envelhecimento dos seres, a sucessão de ciclos de vida de indivíduos, de espécies, a morte.