As antigas instalações da Fábrica Confiança, em
Braga representam o último edifício industrial de um conjunto de outras
unidades fabris que integravam a malha urbana da cidade e que, aos longo
de tempos recentes, têm vindo a ser demolidos. Este complexo é
atualmente propriedade da Câmara Municipal. Mas está marcada uma hasta
pública para a alienação do imóvel e a entrega a privados. O destino não
será difícil de imaginar: deverá ser preservada a fachada, ou parte
dela, e todo o resto demolido para a conversão, provável, em habitação e
comércio.
O que está em jogo é o desaparecimento de uma memória significativa da cidade de Braga. O património industrial é de uma enorme fragilidade. Os poderes políticos, nomeadamente os autárquicos, têm dificuldade em compreender este legado. Não será suficientemente antigo, não apresenta os traços de erudição de outras arquiteturas. Mas o património industrial conta-nos uma história. Essa história é a da fundação das cidades tal como hoje as conhecemos, mais, é a fundação do modelo social de que todos fazemos parte, no mundo ocidental.
As cidades têm uma fundação muito antiga, que remonta aos alvores do Neolítico, com a fixação das primeiras comunidades humanas. Em traços muito genéricos, com o Renascimento e com o processo de globalização iniciado com os navegadores dos séculos XV, começa a haver um maior distanciamento à ruralidade, a uma excessiva dependência do que a terra dá. O comércio dá origem a uma sociedade em transformação. Mas será só no século XIX, com a primeira Revolução Industrial, que se vai operar uma transformação profunda das cidades e da própria sociedade. É fundada a contemporaneidade. A Revolução Francesa é o símbolo maior desta fratura. Emerge a classe média. Uma sociedade mais justa e igualitária começa a ser desenhada.
Regressamos à Fábrica Confiança. O eminente risco da sua perda é o apagamento de uma memória de lutas pela justiça e pela igualdade tão bem expressa na malha urbana das cidades. A manutenção prometida de uma fachada apenas poderá ser o símbolo de uma cultura de falsidade e de incompreensão face ao significado da arquitetura. É a estrutura do edifício que evoca a sua memória. A fachada não pode ser apenas um postal ilustrado. A descaracterização do complexo Confiança é criar em Braga um vazio na leitura de uma linha temporal com mais de dois milénios de história. É empobrecer irremediavelmente um processo urbano admirável, mesmo que não isento de erros, que ainda hoje tem continuidade e que faz de Braga uma cidade de grande vitalidade.
Não há nenhuma fotografia, nenhum plano bidimensional, que substitua a vivência do espaço. Não se pode musealizar todos os edifícios do passado. Quando apenas resta um, com todas as condições para a conversão em programas de uso que serão bem mais úteis, para o futuro, do que encaixe de euros imediatos, teremos que pensar no gesto seguinte. Quando quisermos explicar as cidades aos nossos filhos não vamos dar saltos, branquear momentos que, muitas vezes, foram de dor e sofrimento. É o conhecimento do passado que nos pode libertar para um futuro de desenho mais sublime. Defendamos a Confiança.
O que está em jogo é o desaparecimento de uma memória significativa da cidade de Braga. O património industrial é de uma enorme fragilidade. Os poderes políticos, nomeadamente os autárquicos, têm dificuldade em compreender este legado. Não será suficientemente antigo, não apresenta os traços de erudição de outras arquiteturas. Mas o património industrial conta-nos uma história. Essa história é a da fundação das cidades tal como hoje as conhecemos, mais, é a fundação do modelo social de que todos fazemos parte, no mundo ocidental.
As cidades têm uma fundação muito antiga, que remonta aos alvores do Neolítico, com a fixação das primeiras comunidades humanas. Em traços muito genéricos, com o Renascimento e com o processo de globalização iniciado com os navegadores dos séculos XV, começa a haver um maior distanciamento à ruralidade, a uma excessiva dependência do que a terra dá. O comércio dá origem a uma sociedade em transformação. Mas será só no século XIX, com a primeira Revolução Industrial, que se vai operar uma transformação profunda das cidades e da própria sociedade. É fundada a contemporaneidade. A Revolução Francesa é o símbolo maior desta fratura. Emerge a classe média. Uma sociedade mais justa e igualitária começa a ser desenhada.
Regressamos à Fábrica Confiança. O eminente risco da sua perda é o apagamento de uma memória de lutas pela justiça e pela igualdade tão bem expressa na malha urbana das cidades. A manutenção prometida de uma fachada apenas poderá ser o símbolo de uma cultura de falsidade e de incompreensão face ao significado da arquitetura. É a estrutura do edifício que evoca a sua memória. A fachada não pode ser apenas um postal ilustrado. A descaracterização do complexo Confiança é criar em Braga um vazio na leitura de uma linha temporal com mais de dois milénios de história. É empobrecer irremediavelmente um processo urbano admirável, mesmo que não isento de erros, que ainda hoje tem continuidade e que faz de Braga uma cidade de grande vitalidade.
Não há nenhuma fotografia, nenhum plano bidimensional, que substitua a vivência do espaço. Não se pode musealizar todos os edifícios do passado. Quando apenas resta um, com todas as condições para a conversão em programas de uso que serão bem mais úteis, para o futuro, do que encaixe de euros imediatos, teremos que pensar no gesto seguinte. Quando quisermos explicar as cidades aos nossos filhos não vamos dar saltos, branquear momentos que, muitas vezes, foram de dor e sofrimento. É o conhecimento do passado que nos pode libertar para um futuro de desenho mais sublime. Defendamos a Confiança.
é inevitável...
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