[Limite-Viseu 02] Viseu quer ser uma cidade jardim ao mesmo tempo que o poder municipal que a administra parece não entender o que isso poderá significar.
Viseu vive nesta contradição de querer ser cidade ao mesmo tempo que parece desejar esconder, porque não consegue apagar, uma das suas principais marcas identitárias, que é justamente a proximidade ao rural, às paisagens que nos transportam a mundos arcaicos. Nega-se a inscrição de uma urbe no forte carácter telúrico desta extensa região que vai do Douro ao Mondego e do Caramulo à Estrela.
Na atualidade é cada vez mais valorizada a proximidade à Natureza. As cidades querem trazer a Natureza para dentro de si. Em Viseu parece acontecer o contrário. O estado em que se encontra a Mata da Fontelo ou o Parque da Aguieira, são explícitos exemplos das atitudes do poder autárquico face a esta problemática. Noutras realidades são estes territórios que começam a ser valorizados, justamente porque nos ligam a uma Natureza da qual dependemos muito mais do que até há pouco ousávamos imaginar.
O que se assiste em Viseu é a incansável plantação de rotundas com flores efémeras que são permanentemente substituídas pelos jardineiros da autarquia. Estas rotundas floridas são o símbolo de jardins insustentáveis e obsoletos, ou mesmo "falsos", como o cenário para um filme. Que não se deixe fossilizar esta cidade, que não seja apenas um parque temático que organiza eventos, como se tratasse de uma quinta onde as pessoas vão casar para nunca mais voltarem.
Entretanto a Mata do Fontelo, um notável espaço da cidade, permanece semi-abandonado à espera de uma qualquer intervenção que não sabemos ao certo de que natureza será mas devemos estar atentos para evitar a destruição do seu carácter. Numa notícia recente, o presidente da Câmara Municipal, Almeida Henriques, falava da possibilidade da requalificação do Fontelo poder demorar cinco anos. Cinco anos é uma parte muito significativa da infância de uma criança.
Parece que o bem montado marketing desta cidade se esquece que alguma coisa terá que estar por trás de uma ideia de comunicação. Terá que haver substância, matéria, algo para mostrar, algo que faça parte desta cidade, como os enormes penedos sobre os quais se ergue a Sé.
Viseu. 2019 |
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