[tinta e pó_07] O espaço pode ser uma coerência fictícia plasmada num imaginário de milhares de fotografias. Há uma certa ânsia de comunicar essa construção que se vai fazendo. Há um arquiteto que edifica, que se aproxima de uma síntese de todos os sítios por si visitados, uma casa mínima contendo todos os lugares, um espaço que não é utópico por ser espetral. A pacificação inquieta de lutas arcaicas, talvez inauguradas no misterioso passo lento da consciência de uma espécie que, ao mesmo tempo que rejeitava a imposição de uma natureza hostil, definia o ilimitado, o indeterminado como condição de habitar a terra. Resumir nos passos de uma caminhada milenar, toda a vida de todas as gerações humanas, do passado e do presente, todos os tempos petrificados nas mais arcaicas criaturas, desenhadas nas rochas engolidas pela terra, devolvidas, informes, por vulcões, fogo que tudo apaga. A memória apenas transporta em si, por breves segundos, toda a perplexidade de um espaço que se transforma em tempo. Tempo que não nos vai dizer o que ele próprio é. Não podemos fixar o olhar no rosto de Medeia, sob a condição de ficarmos petrificados. Talvez não possamos encontrar o pensamento sobre a natureza do espaço quando o procuramos frontalmente. Quando procuramos nas margens vamos vislumbrando fragmentos, as peças de um puzzle imenso do qual , não sabemos à partida se todas as peças existem, nem tão pouco se o seu desenho fará sentido.
Furdas. Salvaterra do Extremo. Idanha-a-Nova. 2014 |
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