domingo, 31 de janeiro de 2016

[tinta e pó_10] Partia para Arez no dia 28 de agosto de 2014. Aí encontrava colossais penedos de granito, como que as ruínas de uma poderosa civilização perdida. Em vários momentos procurara estes lugares, como se nos pudessem transportar para o sentido corrupto dos tempos presentes. Seguia para Arneiro, para um solo povoado por calhaus rolados de média dimensão, que se estendiam por uma vasta extensão de terreno, até ao Tejo, à primitiva lagoa das Portas de Ródão. Caía a noite entre aquelas oliveiras que agora tomavam a paisagem mineira antiga. Seguimos, na manhã seguinte, para as Portas de Almourão, no rio Ocreza. O leito fluvial exibe, lado a lado, penedos que se soltaram, há não muito tempo, das encostas escarpadas, com outros, cujo polimento revela um tempo longo de exposição às fortes correntes do rio. Depois o miradouro das Corgas, um ponto elevado para a leitura da paisagem. Novamente um rio, uma queda de água, de Água de Alto. Rumamos à serra da Gardunha. Na manhã seguinte percorremos a área do Castelo Velho. Enormes rochedos ciclópicos que se amontuam caoticamente num solo de declives acentuados. Paisagem impressiva onde não nos demoramos para atravessarmos a extensa planície da Beira Baixa. Paramos em Salvaterra do Extremo. As Furdas são a cidade dos porcos. Lugar único e irrepetível. As minas de Segura são um dos últimos pontos de paragem. Noite na paisagem semi-árida daqueles territórios para seguir para Monforte da Beira. A viagem termina nas minas da Tinta e do Pó, como se nesses dois topónimos pudéssemos sintetizar os dias passados, a nossa vida. A ânsia da palavra e do registo, imagens. Tudo o que um dia será pó, átomos, planetas. [Último texto relativo a Tinta e Pó]
Segura (prox.). Idanha-a-Nova. 2014

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