quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Maquinistas, comboios em greve

[Ler, fazer, caminhar 06] Abro aqui um parêntesis sobre o caminhar urbano, motivado pela greve dos maquinistas e a supressão dos comboios. As teias laborais e corporativas foram sendo construídas paulatinamente, desde o 25 de abril de 1974, de acordo com a força desses grupos e dos seus movimentos sindicais, de forma completamente autónoma em relação a tudo o resto, a todos os profissionais dos mais diversos setores. Foram criados, muitas vezes, privilégios de pequenos grupos profissionais, que nada tinham a ver com a produtividade das empresas públicas, nem com o seu valor especifico e relativo, no contexto português dessa atividade, nomeadamente com a exigência do ensino e duração da sua formação. Hoje muitos desses direitos são considerados adquiridos, imutáveis, parecem ganhar a força da própria constituição da Republica Portuguesa, que com mais frequência é esquecida, do que estes contratos de classe.
Quando estudava em Lisboa, no meu 12º ano, na Escola Secundária D. Pedro V, e posteriormente nos últimos dois anos da licenciatura em Arquitetura, depois de regressado do Porto, havia, por diversas vezes, greves de comboios. Eram dias de aventura em que não era fácil chegar a Lisboa. O transito ficava completamente caótico. Nessa altura pensava: porque não fazer o trajecto a pé? Não o haveria de fazer por me parecer demasiado distante. Recentemente peguei numa carta militar, na escala 1/25000, e olhei o trajecto a fazer e a distancia a percorrer. Eram cerca de 10 quilómetros. Percorri a distancia na primeira oportunidade, num regresso de Viseu, entre Sete Rios, a partir do terminal rodoviário, e o monte Abraão. Demorei uma hora e meia de caminho. Pensei, como o faço em caminhadas longe de meios urbanos, que é com os pés que conhecemos os territórios e as paisagens, que percebemos as relações topológicas entre os diferentes lugares, que intuímos a vivência específica de uma comunidade humana.
Nessa noite só não avancei a pé porque já havia perdido demasiado tempo à espera de um comboio de que não houve aviso de que não passaria.

1 comentário:

  1. Engraçado, eu faço por vezes esse caminh a pé. Não até ao Monte-Abraão, mas até Amadora. Demoro uma hora.

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