quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Afastamento

Lisboa. 2012
[Lisbon Ground 14] A fotografia quer edificar um novo território humano ao afastar-se do que representa chegando próxima à abstração do pensar. A fotografia é paisagem de pensamento. Arquiteturas, lugares, fotografias, tempo, palavras, confluem aqui no projeto transformador do espaço comum, que é desenhado com a serenidade possível de quem se movimenta por uma cidade milenar, de quem pisa um solo instável e imensamente complexo, de quem, à noite, contempla o lento movimento dos astros organizado numa geometria cósmica, inacessível. Construímos um paraíso imaginário como ponto de chegada de um caminhar simbólico. Estamos numa floresta densa e escura, no cruzamento de caminhos desconexos e pluridimensionais. Partimos para um ofício criativo com uma série de códigos, com uma cultura, com comportamentos adquiridos e condicionados, mas os resultados operativos a que podemos chegar são sempre uma imprevisibilidade. As imagens parecem surgir de acordo com uma vontade expressa e independente, com uma enorme e quase intransponível imponderabilidade, incerteza, mistério, sentimento de que, muitas vezes algo está próximo, uma coerência qualquer; outras vezes apenas se acrescenta uma sombra dentro de outra sombra.
Lisboa. 2012

1 comentário:

  1. " A fotografia quer edificar um novo território humano ao afastar-se do que representa chegando próxima à abstração do pensar. A fotografia é paisagem de pensamento." -Achei interessante este compromisso com a abstração em contraposição com um olhar mais documental que referiste anteriormente. Gosto mais assim. A fotografia enquanto documento "histórico" é redutor. Porque capta Em demasia a perspectiva do fotógrafo.

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