sábado, 13 de dezembro de 2014

Desenho, objeto

[Guadiana 86-14_22] Os suportes expositivos foram feitos desenhados e executados especificamente para esta exposição. Pode não parecer haver uma relação direta entre os trabalhos da mão, as caminhadas pela margem do rio, a recolha fotográfica de campo, finalmente a pesquisa de fotografias do Guadiana num arquivo vasto, a sua seleção e edição. Mas há momentos em que todos esses aspetos se relacionam, como que confluem num único caudal que recebe, ao longo do tempo e de uma geografia vasta, vários tributários. É o grande rio da vida, com toda a sua imponderabilidade. Nem todos os passos da preparação da exposição estão aqui documentados por estas fotografias. Aqui está o essencial da construção dos suportes, a face visível do que se vai mostrar. Há momentos do processo que nem sequer são fotografáveis, como as linhas de pensamento que se tecem no princípio da conceção da própria exposição. Quais as fotografias as selecionar, como as ordenar, em que dimensões as imprimir, que tipo de suporte e sua expressão? Que conceito está por trás daquilo que se pretende dar a conhecer? Depois há a matemática, as numerosas contas que têm que ser feitas a partir do levantamento da sala de exposição. Mas há também o plano de corte dos materiais e, depois, o corte desses mesmos materiais, papel e diversos tipos de cartão, quer para a estrutura das caixas, quer para o acabamento. O processo exige racionalidade e a planificação de todas as fases de execução. Numa operação aparentemente simples acabamos por encontrar o processo de aprendizagem de várias décadas, tantas, talvez, como o próprio tempo retratado nesta exposição em que o caminhar e o labor da mão são parte indissociável de uma mesma cosmogonia. Estas fotografias são as entranhas de um processo, são a face não visível e, algum modo, uma relação quase que de intimidade com os materiais, com a construção de uma estrutura, como se fosse uma casa para ser por nós habitada. Há aqui demora, razão, ordem, gesto, desperdício, erro, imperfeição, texturas diferentes. Há a vivência do tempo disponível, contabilizado, cronometrado, quase. Há espaço organizado com laivos de aparente caos, num limite entre precariedade e a depuração do desenho de um objeto que se deseja.








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