[Linha do Tua 97] Este itinerário tem início na Linha do Douro, na estação do Tua. Após um curto trajeto, o comboio faz uma curva apertada, para a direita, e entra no vale do rio Tua, que deu o nome à linha ferroviária. O comboio entrava num desfiladeiro extremamente cavado, naquela que foi uma obra notável da engenharia do final do século xix português, afirmação positiva de uma nação num momento em que o Ultimatum inglês fazia tremer a sua identidade. O comboio seguia viagem, numa linha sinuosa, através de uma paisagem grandiosa, até Mirandela, o ponto médio da sua construção e coração da Terra Quente Transmontana. À medida que subia até Santa Comba de Rossas, o ponto mais alto da Linha do Tua, a pendente da linha tornava-se mais acentuada. O comboio atravessava uma paisagem de carácter rural, imagem de uma relação de proximidade e compromisso com a própria Natureza. Por entre castanheiros de grande porte, nas faldas da serra Nogueira, acentuava-se ainda mais o carácter telúrico da viagem. Depois subir continuamente ao longo de 110 quilómetros – desde a estação do Tua, no Douro, a cerca de 80 metros de altitude, até Santa Comba de Rossas, a 849 metros de altitude –, o comboio iniciava a descida para Bragança, 23 quilómetros a norte. A chegada à cidade grande de Trás-os-Montes representava o fim de um percurso rural e a entrada na civilização. Antes da construção da linha-férrea a viagem do Porto a Bragança fazia-se em cerca de dois dias de viagem, se a meteorologia assim o permitisse, e com condições de segurança precárias, num território muitas vezes inóspito e sujeito a emboscadas de criminosos. Com a construção do caminho-de-ferro, essa duração passa a pouco mais que meia dúzia de horas. Os comboios a vapor adicionaram a uma paisagem arcaica e profundamente isolada uma nova velocidade e a marca do progresso tecnológico. As principais cidades do território de Portugal Continental, na época ainda centro de um vasto império colonial, estavam finalmente ligadas com a velocidade, a segurança e o conforto do transporte ferroviário. Hoje, mais do que em qualquer momento do passado recente, a Linha do Tua confronta-se com o seu fim. A obra da barragem de Foz Tua vai submergir o seu troço mais notável e que lhe confere sentido.
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