quarta-feira, 12 de julho de 2023

Porque fotografo o que fotografo

[porque fotografo-01] No dia 20 de novembro de 2021, aquando da realização do Imaginature - VII Festival Fotografia de Paisagem, em Manteigas, Luís Afonso, fotógrafo de paisagem e programador do festival, perguntou-me, à mesa do almoço, porque fotografo o que fotografo. A resposta parecer-me-ia óbvia, se não me tivesse sido formulada. Há perguntas que são inesperadas por não estarmos preparados para lhes respondermos. Ficou a inquietação, que ainda hoje se abre em novas respostas, sempre indeterminadas. 

Os tópicos que se vão seguir não têm uma ordem específica ou qualquer hierarquia. Cada publicação far-se-á acompanhar por duas fotografias. Ao contrário do que habitualmente faço, estas imagens não serão identificadas com a localização ou a data.


01. Fixar a memória da terra

A memória é uma das mais singulares invenções da matéria e da vida. No núcleo de cada célula, de cada ser vivo, encontra-se o ADN, que contém todas as instruções, codificadas, para a construção de um corpo. A fotografia é um modo de memória. O registo fotográfico do espaço é uma forma de consolidar a nossa relação, humanos, com o espaço, com a paisagem, com os lugares. Tudo se move, tudo se transforma. A fixação de um espaço num tempo específico, cria uma referência congelada que irá, mais tarde, servir de base para a comparação com o momento atual. Esta é uma forma de conhecimento da transformação do espaço e da matéria. Podemos construir narrativas, moldar o futuro dentro de várias possibilidades. Que nunca tal nos sirva para tentarmos parar o vento com as mãos. Que uma parte do trabalho tenha um carácter objetivamente útil.

 



 

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