[porque fotografo-32] A conquista da sabedoria é uma ilusão. A vida é termos à nossa frente, sobre uma mesa, um puzzle. Todos temos um. Todos são diferentes, nas dimensões, na imagem ou imagens que representam, no número de peças. Poderá mesmo, este puzzle, ser um sistema de imagens que se ligam umas às outras, vários puzzles, no limite um jogo de perdição e loucura. Mas, para simplificar, temos um conjunto limitado de peças. Não sabemos se estão todas diante do nosso olhar. Haverá peças em falta? Cada peça representa um mundo particular, com uma determinada coerência, mas está ligada, em termos de sentido, a peças vizinhas. Mas cada peça, mesmo abstrata, não deixa de ser o ponto de partida para estranhas, eventualmente desconexas, viagens. Estamos, mesmo imóveis, em permanente movimento. Um puzzle representa o conhecimento do mundo. É uma imagem ilusória quando terminada, quando nos devolve o reflexo do todo que procurávamos, percebemos que esta é apenas um fragmento do real, um quase-nada, uma insignificância. Vamos querer saber mais, onde nos leva o conhecimento construído peça a peça. Entramos numa vertigem, num vórtice, que tem tanto de fascinante como de perigoso diálogo com o infinito, com impalpáveis dimensões do espaço-tempo que vislumbramos. Peças de transporte da matéria, átomos, moléculas. O puzzle do Universo. Regressamos à casa de partida. Recomeçamos a construção de algo indefinido, uma imagem etérea está a envolver-nos, multidimensional, metafórica. A sedutora estranheza da vida, o Universo a descodificar-se a si próprio.
Sem comentários:
Enviar um comentário