[três viagens 60] Viajo pouco, fora de Portugal. Tenho optado por tentar conhecer, de forma tendencialmente exaustiva, o espaço português. Este território, como outros, mas não todos, é como um labirinto que nunca abarcamos na totalidade. Aí reside um dos fascínios da terra: tudo está em permanente movimento. Estive em Estocolmo no ano 2007. Uma cidade muito organizada, mas não tanto quanto eu imaginava, numa reconhecida ordem e civilidade nórdica. Estocolmo, Lisboa ou Viseu, qualquer cidade é uma manifestações da biologia, reprodução da entropia progressiva, mas também o desejo da ordem que encontramos no corpo, essa complexa máquina que nos transporta em movimento alegórico pelo Universo. [Esta é a última publicação desta série sobre três viagens].
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
terça-feira, 8 de novembro de 2022
domingo, 6 de novembro de 2022
A terra antiga
[três viagens 59] Há uma ideia base que, progressivamente, vou assumindo como sendo estruturante neste labor que desenvolvo. Tudo, no planeta que habitamos, resulta de princípios biológicos evolutivos. Nós, humanos, somos uma espécie animal que, num tempo longo, de seis, sete milhões de anos, desenvolveu um conjunto de valências que representou uma enorme vantagem face a todas as outras espécies que, connosco, competiram por recursos. Inventámos artefactos, extensões de corpo, a linguagem simbólica, as cidades. Tudo, tudo é resultante de um processo em que não é possível voltar para trás. Nunca nada se repetiu na história da vida na Terra. Houve, no passado, grandes cataclismos que extinguiram parte significativa da biodiversidade de então. O que se seguiu, após as cinco maiores extinções em massa que ocorreram na história da Terra, foi sempre um recrudescimento do número de espécies. Não adianta querermos voltar à terra antiga. As cidades são uma definitiva conquista biológica.
sexta-feira, 4 de novembro de 2022
Desfazer
[três viagens 58] Procuro o manifesto de um fazer, o desfazer de lugares comuns em vários e afastados domínios. A sedução de um caminho interminável, na busca de uma ideia de verdade em que, mamíferos, humanos, Sapiens, somos um capítulo, um acontecimento na história da vida na Terra, ou quando, no Universo, a matéria procura contrariar a entropia, o gigantismo do caos.
quinta-feira, 3 de novembro de 2022
Clara obscuridade
[três viagens 57] Estas viagens concretas, com os pés na terra, são esse caminho, ao mesmo tempo claro e obscuro, como se uma estranha força nos animasse. Não há transcendência religiosa neste trabalho, mas o movimento quântico da matéria, energia em espaço e tempo.
segunda-feira, 31 de outubro de 2022
Fluxo
[três viagens 56] Há um momento em que integramos o fluxo cósmico da matéria. Aproximações a um conhecimento mais profundo da realidade que nos é trazido, em fragmentos, por notáveis personalidades da ciência, da arte, da literatura, de todos os ramos do saber. A claridade possível que nos é dada pela ciência, sabendo que, permanentemente estamos em viagem, em caminho.
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Paradoxo
[três viagens 55] Regressar onde? É a constatação paradoxal de um tempo interminável e de uma viagem breve na procura de um país. O movimento contínuo no desenho de um mapa. A geometria de linhas sobre lugares, a união de espaços desconexos, um específico exercício de vida. Tentativas e aproximações topológicas à interpretação do espaço e do tempo.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Produção de sentido
[três viagens 54] Um trabalho concreto levou-me a fazer as três viagens relatadas nestas palavras. A construção de um artefacto de comunicação, um livro, uma tentativa de sistematização visual de alguns aspetos da paisagem portuguesa. Buscar também algum tempo disponível para fazer coisas diferentes com a fotografia. O calendário do registo dos lugares era muito folgado. Eram pontos muito específicos na paisagem, que eu procurava. Fiz desses lugares o desejo de uma representação fotográfica mais extensiva, ao mesmo tempo que refletia sobre o movimento performativo que a fotografia pode operar, como jogo de produção de sentido.
domingo, 23 de outubro de 2022
Persistir
[três viagens 53] As noites no campo e a madrugada fria. Os campos cobertos de geada, alguma surrealidade e identificação de uma paisagem dura, agreste, o labor humano que tende a desaparecer, pelas melhorias das condições de vida. Mas há quem persista nos campos do tempo antigo. Seria curioso saber porquê. Em muitos casos não haverá em tal atitude uma necessidade de compor a economia doméstica. Arriscaria um desejo de terra, a continuidade da luta de antepassados. Um sentimento de vida, de vigor, a que algumas pessoas associaram aos trabalhos agrícolas, ao contacto com a terra, a necessidade mesmo, de sentirem o corpo. Esta interpretação resulta de uma transposição literal a partir do meu próprio trabalho, de um sentido apelo da terra, dos lugares, como se fosse uma atividade há muito aprendida a agora continuada, num movimento perpétuo.
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
Ambiguidade
[três viagens 52] As fotografias contêm em si a ambiguidade de fixarem a imagem retiniana, o espaço e o tempo petrificados. Mas essa petrificação servirá o seu oposto, a irredutível noção da passagem do tempo, a afirmação inquestionável de que tudo muda, que a permanência não existe, que habitamos, todos, uma vertigem, que a vida pode ser um jogo e uma abstração de que apenas. Momentaneamente saltamos fora e habitamos um significado diferente da própria vida. Os trabalhos no campo são essa distração, o mergulho num tempo base, anterior à tomada de consciência da passagem do próprio tempo, uma juventude revivida, em que a eternidade era possível.
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
Regressar?
[três viagens 51] Estes lugares, periféricos talvez, são um mundo profundamente diferente daquele que fotografara em Lisboa, quando, há não muito tempo, percorria, a pé, a linha de cintura da cidade. É assim este trabalho, o registo do espaço português, das cidades, das aldeias, dos territórios de alta e de baixa densidade, de um imenso labirinto que se estende e se liga a lugares distantes, cujo significado nos escapa, ou que esse mesmo significado é dinâmico, evolutivo, permanentemente reescrito.
terça-feira, 18 de outubro de 2022
Do rio
[três viagens 50] Nas margens deste rio de águas límpidas terminava o périplo célere por Portugal. Três viagens em fragmentos de um país inteiro. Tinha agora cerca de duas horas de viagem para regressar a Viseu.
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Algoso
[três viagens 49] Algoso é uma antiga povoação onde a antiga casa da câmara e o pelourinho nos falam de poderes administrativos antigos que entretanto se perderam. Destes símbolos faz parte, também, o castelo que, pela sua localização, sobranceiro ao rio Angueira, é dos mais singulares de todo o espaço português. Do castelo desci ao leito do rio, a uma ponte medieval que hoje permanece a ligar as duas margens. A jusante deste ponto de atravessamento, o leito do rio é composto por penedos ciclópicos, de xisto e de quartzo, que assumem formas irregulares, onde o polimento provocado pela erosão fluvial parece ter deixado expostos desenhos de mapas, de representação de paisagens indecifráveis, a que hoje não temos acesso.
sábado, 15 de outubro de 2022
Penas Róias
[três viagens 48] Estive uma primeira vez em Penas Róias no dia 14 de setembro de 1990. Tinha partido em caminhada de Miranda do Douro, de onde segui para Duas Igrejas e aí tomara como itinerário a linha ferroviária do Sabor. Fora na proximidade desta aldeia que abandonara a linha férrea, na altura desativada há dois anos, para visitar o castelo. Depois segui para Azinhoso, para visitar a igreja românica. Volto ao tempo presente. À saída de Penas Róias fotografei um terreno com amendoeiras em flor, com a luz rasante do pôr do sol. Subi ao cabeço de Nossa Senhora da Assunção, onde foi erguida uma capela. A amplitude visual que podemos usufruir do local é impressiva. O dia estava a findar. Procurei um local sossegado para passar a noite.
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Miradouro de Picões
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Algosinho
[três viagens 46] Algosinho, uma pérola da arquitetura românica, uma estranha sobriedade nas suas proporções, no seu desenho, de acentuada horizontalidade, a contrariar o modelo dominante no Minho, onde as igrejas românicas são verticais, com um carácter de fortaleza mais vincado.
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
Miradouro da Penha das Torres
[três viagens 45] Paradela, era o meridiano mais afastado, a nascente, de Lisboa. Não deixei de fotografar uma parte significativa da aldeia, mas o que verdadeiramente procurava era o ponto, marcado pelo miradouro da Penha das Torres, sobranceiro ao rio Douro, à Presa de Castro, uma barragem espanhola. Este é o ponto onde o rio encontra o território hoje português, e inflete na direção sudeste, definindo uma fronteira entre os dois países ibéricos.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
Frio, geada
[três viagens 44] Entretanto a noite aproximava-se. A temperatura baixava acentuadamente. Na madrugada seguinte os campos estavam cobertos de geada. O termómetro do carro marcava 4Cº negativos. Passei perto de Vale de Pena. Avancei para Cicouro, outra aldeia nas proximidades da fronteira com Espanha. As aldeias da raia que, verdadeiramente, não sentem, não estão em nenhuma fronteira, são mundos distantes, isolados, entregues a si próprios, presos a um arcaísmo que parece não estar inserido no quotidiano célere das cidades.
Quinta de Vale de Pena, prox., Pinelo, Vimioso, 2022 |
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
Fronteira, Quintanilha
[três viagens 42] Quintanilha, uma fronteira que deixou de existir, símbolo civilizacional de um mundo humano que quer ser comunidade. A autoestrada, relativamente recente, deixara o antigo posto de fronteira com movimento muito reduzido.
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
Vinhais
[três viagens 41] Vinhais não fazia parte do itinerário fotográfico mas não resisti a uma paragem para algumas fotografias. Há muitos anos, em 1990, tinha aqui chegado, de autocarro, para uma caminhada de atravessamento do parque natural de Montesinho, justamente de Vinhais a Bragança, pela raia, sem deixar de passar em Rio de Onor e Guadramil. A primeira paragem fora, justamente, o cabeço de Cidadelhe, um vértice geodésico que entretanto foi transformado em miradouro e ponto de observação de aves. Mas o que mais significativo tem este lugar são os vestígios de uma antiga muralha, anterior à romanização.
quarta-feira, 5 de outubro de 2022
Castanheiros antigos
[três viagens 40] A Serra da Corôa estende-se a norte de Vinhais. É uma montanha povoada e de baixa altitude. Nesta região transmontana procurava castanheiros antigos, de grandes dimensões. Encontrei esse souto num declive da serra, alinhados, imponentes.
Vale de Espinho, Vilar de Ossos, Vinhais, 2022 |
segunda-feira, 3 de outubro de 2022
Pinheiro Novo
[três viagens 39] Em Pinheiro Novo, a minha paragem seguinte, a realidade era semelhante a Cisterna. Uma pequena aldeia granítica, onde não faltavam novas construções, mas marcada por silêncio e solidão. Prossegui para Moimenta, na direção Este. Fotografei a igreja, com duas torres, com uma escala contida e equilibrada.
domingo, 2 de outubro de 2022
Cisterna
[três viagens 38] A caminho de Cisterna, de manhã, faço algumas fotografias com o chapéu de chuva na mão. Foi já naquela povoação que deixou de chover. Deverei ter percorrido todas as ruas. Apenas encontrei duas pessoas que estavam a trabalhar na obra de uma casa. Estivemos um pouco na conversa. A linha de fronteira com Espanha estava a escassas centenas de metros. Convidaram-me a entrar, para um café. Agradeci e prossegui o meu trabalho nesta aldeia que começava a despertar. Os fogos acesos em algumas habitações libertavam fumo pelas chaminés.
sábado, 1 de outubro de 2022
Noite, chuva
[três viagens 37] Aproveitei a noite para me aproximar do ponto que iria fotografar no manhã seguinte: Cisterna e Pinheiro Novo, no concelho de Vinhais. Foram cerca de duas horas de viagem. Já próximo do ponto de destino, com a ajuda das imagens de satélite do Google Maps, procuro um local para pernoitar. A noite não foi fácil. Antes da meia noite começara a cair uma chuva copiosa que não mais pararia até de madrugada.
quinta-feira, 29 de setembro de 2022
Maria Ondina Braga
[três viagens 35] Braga, foi uma paragem enquadrada num outro projeto, sobre Maria Ondina Braga, nas comemorações do centenário do seu nascimento. Fiz as fotografias iniciais da sua geografia próxima, desta cidade que teve um significado primordial em toda a sua escrita, mesmo quando partiu para o mundo, num singular percurso literário. Estes trabalhos de mapeamento fotográfico interpenetram-se são aqui, não raras vezes, o somatório de diferentes linhas que hão de ser o desenho de um mapa evolutivo, sempre inacabado.
quarta-feira, 28 de setembro de 2022
Emigração
[três viagens 34] Segui para A Ver-o-Mar. O mar de estufas que ali me levara não era suficientemente expressivo em relação ao objetivo que procurava. Em Laúndos, no alto do monte de São Félix, encontrei o que não buscava e a evocação da emigração, através de uma escultura monumental, que tão forte impacto teve no passado recente de todos estes lugares.
terça-feira, 27 de setembro de 2022
Norte
[três viagens 33] Parti de Viseu para as proximidades de Paços de Ferreira. O primeiro objetivo desta terceira e última viagem, ao norte, era fotografar o complexo industrial IKEA. Aquela paisagem não correspondeu ao que idealizara para aquele retângulo cartográfico. Estava a repetir outras situações, com referências industriais, já presentes no conjunto das imagens, particularmente uma que fizera no complexo industrial de Setúbal. Perto deste local havia um santuário, de Nossa Senhora do Pilar, que ocupava o topo de uma elevação. O lugar era ainda um importante ponto de telecomunicações, onde podíamos observar um conjunto de antenas. No bosque de carvalhos seculares, envolto em nevoeiro, encontrei o reflexo de uma paisagem telúrica tão presente na religiosidade desta região do país.
Santuário de Nossa Senhora do Pilar, Penamaior, Paços de Ferreira, 2022
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
Três lugares próximos
[três viagens 32] De regresso a Viseu, onde resido, passarei por Rio Maior, onde tenho uma reunião, na biblioteca municipal. Mais uma vez saio cedo de casa para fazer fotografias em Manique do Intendente, São João da Ribeira e a própria cidade de Rio Maior. São três lugares relativamente próximos mas muito diferentes entre si.
Manique do Intendente, Azambuja, 2022 São João da Ribeira, Rio Maior, 2022 Rio Maior, 2022
domingo, 25 de setembro de 2022
"Viagem a Portugal"
[três viagens 31] Há escassos meses tinha estado envolvido na reedição da obra Viagem a Portugal, de José Saramago, na ilustração com fotografias do meu arquivo, que iriam estar em diálogo com as imagens do escritor.
sexta-feira, 23 de setembro de 2022
Pausa
quarta-feira, 21 de setembro de 2022
Estuário do Sado
[três viagens 29] Nas margens do estuário do Sado procurei das marcas da industrialização em diálogo com um extenso lençol de águas tranquilas, a evocar também o Mar da Palha e a singularidade tão rara destes dois estuários, de duas serras, da Arrábida e de Sintra, tão diferentes entre si. Dois microcosmos tão próximos, de representação do Mediterrâneo e do Atlântico, tão próximos e tão distantes. Paisagens que nos erguem, que descodificamos, que atribuímos sentido com as fotografias, com artefactos de comunicação que construímos. Terminava assim esta viagem ao Sul.
terça-feira, 20 de setembro de 2022
Ribeira de Pena
[três viagens 36] Ribeira de Pena foi a paragem seguinte. Queria captar o vale do Tâmega e a barragem próxima, de construção recente. É o mais complexo sistema de produção elétrica que existe no nosso país, que articula a produção hídrica, diurna com a eólica, noturna, para bombar de novo a água para uma cota elevada, quando o consumo é significativamente mais reduzido, o que daria origem a desperdício da energia captada pelas eólicas, no alto das serras envolventes. Até ao cair da noite fotografei a vila. Os dias são curtos, tento rentabilizar ao máximo a luz disponível.
Operação Militar Especial
[três viagens 28] A vila de Monchique, pouco a norte das termas, foi a paragem seguinte. Estes dois povoados não faziam parte dos lugares que tinha que fotografar. Foram paragens apenas para atualização do meu acervo de registo de lugares. Ao cair da noite, ainda com a luz do final da tarde, avancei para norte, em direção ao Alentejo, por uma estrada que serpenteia pela serra. Pouco depois fazia um desvio à estrada asfaltada e procurava um local para montar a tenda. Na manhã seguinte tenho uma mensagem no meu telemóvel. A Rússia tinha invadido a Ucrânia. Depois de mais de duas décadas de paz, havia de novo uma guerra na Europa. A Rússia, com as palavras de “Operação Militar Especial”, iniciou uma guerra de futuro imprevisível, relegando para segundo plano essa outra batalha iniciada em 1972, na Conferência de Estocolmo, contra as alterações climáticas, que já nessa altura se enunciavam.
Segui para a barragem de Santa Clara, um extenso lençol de água que rega as numerosas estufas do litoral, da zona de São Teotónio, Odemira. Depois de uma breve paragem em Garvão, prossegui para Messejana, onde uma vez pernoitei na casa de um casal de amigos arquitetos, numa viagem a Serpa, enquadrada num concurso para um edifício público. O pelourinho comprova um antigo poder municipal. Do antigo castelo praticamente não restam vestígios, mas o povoado mantém a brancura da cal nas paredes das casas. As ruínas do convento de São Francisco, são também vestígio de um passado onde a religião assumia uma dimensão de estruturação espacial e social do lugar.
Monchique, 2022 Albufeira da Barragem de Santa Clara, Odemira, 2022 Messejana, Aljustrel, 2022 Convento de São Francisco, Messejana, Aljustrel, 2022
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
Caldas de Monchique
domingo, 18 de setembro de 2022
Geografia, cartografia, fotografia
[três viagens 26] E cada projeto puxa novos projetos, neste caso concreto, ia desenvolvendo a ideia de aprofundar este atlas do espaço português, de apertar a malha e representar muitos mais lugares. Juntar geografia, cartografia, fotografia, algumas palavras.
Praia de Monte Clérigo, Aljezur, 2022 Praia de Monte Clérigo, Aljezur, 2022
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
Praia de Monte Clérigo
[três viagens 25] Perto da praia de Monte Clérigo estava, mais uma vez, numa franja de território, numa quadrícula, onde nunca tinha estado. As franjas do mapa onde tinha que ir para completar este mapeamento fotográfico. O litoral vicentino, com as suas escarpas em xisto, é uma paisagem que impressiona. Estes lugares, onde a terra acaba e o mar começa, ou vice-versa, têm sempre um enorme dinamismo para quem deles se aproxima para fotografar. São sempre diferentes em função do estado do mar, das marés, da hora do dia, da estação do ano, que trazem consigo uma luminosidade sempre diferente. Há, invariavelmente, a dimensão sonora provocada pela rebentação das ondas que ajuda a que nos ausentemos na abstração da tentativa de captar a natureza esquiva destas fronteiras.
quinta-feira, 15 de setembro de 2022
Praia da Rocha
[três viagens 24] A Praia da Rocha foi, ainda na década de 1960, um dos principais cartazes turísticos de uma corrida às praias que nessa altura se iniciava. O movimento, que ainda hoje permanece, traria consequências profundas na urbanidade de todo o litoral português, com algumas raras exceções, como seja a Costa Vicentina, onde a pressão não deixa de ser forte. Atualmente, a Praia da Rocha é um lugar de servidão turística onde o primitivo carácter paradisíaco das arribas areníticas, em amarelo e ocre, praticamente não se vê face à imponência dos blocos habitacionais que parecem querer avançar sobre o mar. Este não deixa de ser um lugar de estranheza abstrata e fascinante, perturbadora. Fiquei com o desejo de regressar a Portimão, que representa a continuidade desta cidade desconexa. Cada viagem é a vontade de regresso. É a tentativa de registo de um tempo célere que tudo apagará na sua passagem.