quinta-feira, 19 de março de 2020

Fotografar

As publicações que se vão seguir resultaram de um texto que me foi solicitado para integrar a Revista Património, nº6, recentemente dado à estampa. A ideia foi a de refletir, a partir da minha prática específica da fotografia de mapeamento do território e da arquitetura, sobre o conceito de património. O texto teve como título "Arquitetura sublimada - a construção da fotografia".

[Arquitetura sublimada 01] Passavam poucos minutos das 6 horas da manhã do dia 4 de setembro de 2018. De Viseu partia para a serra da Estrela. Ali tinha estado poucos dias antes em registos de paisagem, com um grupo de trabalho que desenvolve um projeto de criação de um museu da paisagem, destinado à Internet (http://museudapaisagem.pt/). Nessa altura, embora tenha passado muito perto, não me tinha sido possível fotografar, com a devida demora, o Covão Cimeiro. O objetivo deste regresso era apenas esse, descer ao Covão e fotografar alguns dos notáveis afloramentos graníticos que ali acontecem. Ao chegar à serra, à Torre, um nevoeiro denso fez-me hesitar. Com uma visibilidade que ali não excederia os 50 metros, sentia que poderia ter sido em vão aquela deslocação. Desci, de carro, até à curva da estrada que mais se aproxima do Cântaro Magro. Eram 7h27m quando fiz as primeiras fotografias. As nuvens deslocavam-se rapidamente empurradas por um vento moderado permitindo boas perspetivas em horizontes entrecortados. Subi mais um pouco, mais algumas fotografias do Cântaro bem como do Covão Cimeiro, numa vista distante. Regressei depois à Torre. Estacionei e avancei para o meu destino. O nevoeiro mantinha-se, ali, bastante denso. Ao fim de, talvez, uns duzentos metros percorridos, voltei para trás. Iria tentar uma nova abordagem. Vou com o carro até ao acesso às pistas de ski, que estavam ocupadas por vacas a pastar. A esta cota, cerca de 1900 metros de altitude, a visibilidade já me permitia avançar. Era a quarta paragem, que se iria prolongar por mais de 7 horas de recolha fotográfica contínua. Percorri então o topo do Cântaro Gordo, depois desci ao Covão Cimeiro, para regressar depois de novo ao carro. Tinha, no fim desse hiato temporal, feito 1941 fotografias. Daí em diante ainda faria mais três paragens. Uma ida ao Cântaro Raso, outra à Torre, já sem nevoeiro, e uma última ao Corvo da Talada. A última fotografia foi feita às 20h21m55s. Estes eram os dados dos ficheiros da câmara fotográfica digital. Em sete deslocações para recolha fotográfica, ao longo do dia, somaria 12h53m58s de tempo de trabalho. Durante este período fiz 3.372 fotografias. Se ao tempo total subtrair as várias paragens, quer aquelas que fiz de carro, quer outras para descanso e alimentação, pausas estas, num total de 12 que somaram 1h27m51s, fico com 11h44m de recolha fotográfica. Dividindo o número total de fotografias por este período obtém-se 4,91 imagens por minuto, ou uma fotografia por cada 12 segundos e 35 centésimos.


Percursos realizados. Excerto da Carta Militar de Portugal, 1/25.000,  nº223 - Instituto Geográfico do Exército

Quadro de fotografias feitas e relação com as deslocações.
Provas de "contacto" das 3372 fotografias realizadas.

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