quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Physis, de Carina Martins

Olhamos para estas fotografias com alguma estranheza inicial. São imagens escuras, noturnas, cujo detalhe nos escapa a um primeiro e breve olhar. Mas há ali qualquer coisa que nos interpela. Aproximamo-nos, depois, voltamos a querer algum afastamento. Vamos penetrando nas dimensões ambíguas desta linguagem. Não são imagens fáceis, são capturas de natureza mas não nos devolvem o espanto dos lugares, há um silêncio vibrante de inquietação, eventualmente medo, sobre um olhar reflexo que é, simultaneamente turvo e límpido. Talvez uma viagem dentro da memória mais remota das nossas células, do nosso ADN, muito antes do tempo das cidades. São fotografias com as quais podemos estabelecer uma ambígua familiaridade. Aqui estamos simultaneamente dentro e fora da Natureza. Carina Martins, com simplicidade e despojamento, mostra-nos o risco e a liberdade, a incerteza do futuro.

Physis é um conjunto de 7 fotografias de Carina Martins, expostas em Venha a Nós a Boa Morte, em Viseu. O trabalho faz-se acompanhar de uma folha de sala com um texto de Rui Ibañez Matoso, que assina a curadoria. São palavras que com as imagens estabelecem uma leitura desafiante e aberta, inscrevendo ambos numa contemporaneidade dominada por esta relação de afastamento à Natureza e à emergência célere do aquecimento global. Parece ser esta a mais vincada marca do Antropoceno.


Physis, de Carina Martins, Viseu. 2020



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