quarta-feira, 24 de julho de 2019

Castelo Branco, Cultura

Recentemente tive a oportunidade de participar num evento denominado Água Mole em Pedra Dura, realizado em São Vicente da Beira, uma freguesia do concelho de Castelo Branco. Durante o fim de semana de 22 e 23 de junho, uma programação variada ocupou a praça principal da vila com música, teatro, leitura de contos, exposições. 
Já há cerca de três anos eu tinha sido desafiado a trabalhar sobre uma área muito periférica do concelho de Castelo Branco, num "istmo" administrativo que coloca a aldeia de Lisga mais perto de Oleiros ou Proença-a-Nova do que a própria sede de concelho. São paisagens que, como tantas outras áreas do Portugal "interior", estão em processo de perda populacional. 
O que Castelo Branco tem vindo a fazer, de forma continuada, sustentada e coerente, é o levar a cultura às suas mais distantes freguesias e a lugares dessas freguesias. A esta atitude se pode chamar, verdadeiramente, descentralização e um grande estímulo à coesão territorial do concelho, que, neste caso concreto tem uma área geográfica muito extensa. 
O que acontece em Castelo Branco é uma valorização das pessoas, é o ir ter com elas, sabendo que há uma camada da população que nunca se deslocará à cidade para ir ver um espetáculo cultural. Este é um dos mais generosos gestos de humanidade que podemos ter para com estas pessoas. É o dizermos-lhes que elas contam, que não são apenas eleitores, que são seres humanos.
Esta é uma luta contra várias correntes. A primeira é o de se pensar que determinadas populações isoladas e pouco numerosas não merecem a nossa atenção, uma segunda corrente é a luta contra o elitismo da cultura que só se deverá desenvolver em espaços “próprios”, para um determinado extrato social.
Uma das experiências mais marcantes que tive no meu percurso profissional foi justamente aqui, no concelho de Castelo Branco, quando fui fazer uma apresentação de fotografias da Lisga. Uma exposição sobre o território da Lisga tinha inaugurado no salão da Junta de Freguesia de Sarzedas e foi-me pedido que fizesse uma apresentação oral, na aldeia, que ainda dista mais de uma dezena de quilómetros de Sarzedas. Apresentei o trabalho, com imagens projetadas, a pessoas de idade que toda a vida ali trabalharam em atividades ligadas à agricultura que, muito provavelmente nunca tinham visto uma exposição de fotografia. Estariam na sala, talvez umas doze pessoas, que iam reagindo espontaneamente às imagens de lugares que tão bem conheciam. 
Encontrava na Lisga, naquela apresentação, tudo o que procuro no meu trabalho: estimular a identificação das pessoas com a terra, valorizar o território, promover o património, mostrar o enorme valor que existe nesta relação que, humanos, estabelecemos com as paisagens, tentar apontar caminhos, pelo exemplo de determinadas situações de arquitetura e de paisagem, para a qualificação dos espaços que habitamos.
Castelo Branco dá-nos a defesa da coesão territorial através da cultura, um exemplo que poderia ser seguido por outros municípios e, sobretudo, por políticas de descentralização efetivas levadas a cabo pelo governo da nação.
Deixo um bem haja a Castelo Branco e um agradecimento muito especial a Carlos Semedo e Carlos Matos pela qualidade do trabalho que desenvolvem e pela indomável determinação na defesa e valorização da terra e das pessoas que a habitam.

Água Mole em Pedra Dura, Sarzedas, Castelo Branco. 22 de junho de 2019. (Fotografia de Carlos Matos)

2 comentários:

  1. Este foi mais um exemplo do muito que a Cultura Vibra, Autarquia de Castelo Branco tem feito pela Cultura na região. Com Água Mole em Pedra Dura… em S. Vicente da Beira foi isso que aconteceu, levaram a Cultura ao Povo, durante dois dias houve animação, teatro, leitura colectiva de textos, exposições, etc., e o povo aderiu. Bem haja Carlos Semedo, Carlos Matos e a Autarquia.


    Luís Fernandes

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  2. Pena não ter tido conhecimento, gosto imenso de S.Vicente da Beira e não estou assim tão longe...
    Conheço o Carlos Semedo e sei bem o que ele tem feito pela cultura em Castelo Branco; do Carlos Matos apenas conheço as belíssimas fotografias.

    Maria

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