[pst 071] "O mar, recordo-me, tinha tonalidades de sombra, de mistura com figuras ondeadas de vaga luz — e era tudo misterioso como uma ideia triste numa hora de alegria, profética não sei de quê.
Eu não parti de um porto conhecido. Nem hoje sei que porto era, porque ainda nunca lá estive. Também, igualmente, o propósito ritual da minha viagem era ir em demanda de portos inexistentes — portos que fossem apenas o entrar para portos; enseadas esquecidas de rios, estreito entre cidades irrepreensivelmente irreais. Julgais, sem dúvida, ao ler-me, que as minhas palavras são absurdas. É que nunca viajastes como eu".
Fernando Pessoa, Viagem Nunca Feita — Livro do desassossego
70. Senhora da Guia — Vila do Conde. 1 de abril de 1994. |
Bonito texto e fotografia.
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