terça-feira, 16 de outubro de 2012

Segunda pele

Serra do Gerês. 2012
[Gerês 30] A roupa como uma segunda pele. Um certo fascínio pela matéria que nos cobre o corpo e que acaba por definir um pouco da nossa própria identidade. Muitas vezes a roupa roçada tem uma conotação social ligada à pobreza, à falta de recursos económicos para manter uma aparência decente. Na montanha os códigos podem ser outros, a roupa é memória, pode trazer inscritas viagens passadas, um rasgão indicia um momento particular no tempo, perdas de cor pontuais, ou localizadas, são atribuídas a um uso especifico, depois há uma alteração da textura, há um odor característico, que se mistura com o nosso próprio cheiro e ao qual somos praticamente insensíveis. O vestuário usado conta-nos uma vivência que é uma história de vida, é quase como uma fotografia que muito poucos sabem descodificar, é, assim, como vestir um código secreto, o conforto de uma identidade invisível para os outros. As roupas velhas podem proporcionar um bem estar que valiosos trajes não poderão alcançar. A montanha despoja muito do que somos, reduz-nos a uma condição essencial, mas para tal temos que ter por ela um respeito primordial, deixar que ela, de algum modo, nos molde um pouco do que somos.
Serra do Gerês. 2012

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