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Serra do Gerês. 1991 |
[Gerês 23] Na viagem ao vale do Côa, anteriormente exposta neste espaço, havia uma procura deliberada de lugares relacionados com as gravuras, que tinham sido vivenciados num contexto bastante diferente do que hoje são, devido à criação do Parque Arqueológico. No Côa tudo mudara significativamente. No Gerês, onde várias vezes estivera no passado, não procurava esse hiato habitado num tempo de há mais de duas décadas, mas ocasionalmente confrontei-me com o espanto de um tempo que passa e tudo transforma à sua passagem e a impossibilidade de qualquer regresso. Um espaço pode estar hoje sensivelmente como o encontrara no passado, mas um olhar atento apenas nos devolve um fantasma, uma imagem ténue de qualquer coisa inacessível. Questiona-mo-nos quem esteve ali há mais de vinte anos? Quem eram aquelas pessoas? O que aconteceu entretanto, qual é hoje a face de cada um de nós? Procuramos fotografias antigas e no preto e branco descortinamos os fragmentos de um tempo breve e fugidio. Talvez tenha ali acontecido um ponto de equilíbrio na eminência de um futuro de alietoriedade desconcertante. Há a sensação de ter chegado demasiado tarde a um encontro. Alguém, alguma coisa que procurávamos já não se encontrava neste lugar. Será aquele o lugar? As fotografias carregam, por vezes, uma verdade inquietante, pontos incontornáveis de consciência de saber, momentos de iluminação de um itinerário sombrio, reunião de tempos desfasados. Resta-nos voltar costas, continuar a caminhar, subir mais uma montanha, olhar o horizonte possível.
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Serra do Gerês. 2012 |
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