quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Armas

[Torga 12] Regressamos a São Martinho de Anta. Entramos na casa em que nasceu Miguel Torga. Um conjunto de armas de coleção está disposto junto da entrada da habitação. Torga era um caçador, muitas vezes solitário. Transportava consigo uma arma e caminhava demoradamente por serranias e vales. Mais do que um desejo de capturar animais, perdizes, coelhos, talvez a arma fosse apenas um motivo para a imersão na natureza, a procura de um espaço de ausência. Ou reencontro com uma primordial condição animal, um ser que se move num planeta fascinante, como se nada soubesse que não o instinto de uma pulsão vital, ou a liberdade imensa de um corpo indistinto dos lugares que percorre. Torga procuraria o isolamento, talvez o afastamento a outros olhares, ou o confronto eventual, o olhar crítico e desconfiado, de quem não compreende o caminhante solitário. A solidão parece ser, em Torga, solo fértil, território de criatividade e da construção poética.
Casa de Miguel Torga, São Martinho de Anta, Sabrosa. 2017

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