Longe do Mar é um livro de Paulo Moura. É um percurso pela estrada nacional n° 2, desde o seu ponto mais a norte, Vila Verde de Raia, até Faro. É a mais longa estrada, sob uma mesma designação, de Portugal. São quase 800 quilómetros de asfalto, tantas vezes tortuoso, numa linha sensivelmente equidistante do mar a da fronteira com Espanha. O livro contém alguma descrições, impressivas e sábias, de troços de paisagem, mas a sua essência está longe de ser essa, nem tão pouco há referências a arquitetura ou roteiros turísticos de património. Longe do Mar é um livro sobre pessoas, são episódios de quotidiano, umas vezes felizes, outras vezes dramáticos, de habitantes desta linha rodoviária.
Há um curioso desvio ao Tortozendo para nos dar conta do período áureo dos lanifícios, onde a riqueza próspero para alguns enquanto outros se mantinham numa pobreza muito acentuada. Tortozendo está longe da N2, para lá da serra da Estrela. Este desvio da estrada faz do livro um conceito. Não há descrição estrita de uma linha mas de um país onde a pobreza, tantas vezes extrema, e a alegria, se misturam. Há uma visão irónica, sagaz e viva de um mundo ora distante, ora demasiado próximo. Um retrato humano de Portugal desenhado na estrada.
«A viagem começou em Julho de 2007. Parti de Vila Verde da Raia, 10 quilómetros a norte de Chaves, em direcção ao Sul, até Faro. A Estrada Nacional número 2 tem quase 800 quilómetros. Foi construída por etapas, a partir de troços já existentes no século XIX, desde os anos 40 do século XX, numa época em que o interior de país ainda não estava condenado. Ou não se sabia que estava.. A nova estrada devia ligar cidades importantes, ser simultaneamente uma artéria vital atravessando o território por dentro, e a sua espinha dorsal, mantendo-o inteiro, vivo e sadio.
«Hoje á fácil perceber que o movimento ao longo da EN2 não correu afinal entre o Norte e o Sul, mas de leste para oeste. A estrada ficou atravessada no trânsito. O despovoamento do interior transformou a mais longa estrada portuguesa num fóssil de si própria.» (pp. 9)
Edição Fundação Francisco Manuel dos Santos. Lisboa. 2014
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