Afonso e Pedro. Lisboa, 2010 |
[Momento-infância 3] Por volta das nove da manhã, uma médica cirurgiã observa o Afonso, então com dois anos, manifestando incontida irritação pelo facto de ele não colaborar na auscultação. Pouco depois, ainda antes das dez horas, aconteceria o momento-chave que ditaria a progressiva perplexidade que nós, pais do Afonso, estávamos a assistir. A mesma médica que fizera o filme de madrugada pedira-me o telemóvel, para partilhar com colegas aquele momento e tentarem chegar a um diagnóstico. Terão passado sensivelmente 30 a 40 minutos quando o telemóvel me foi devolvido. Pela primeira vez somos confrontados com a possibilidade de a situação porque estava a passar o Afonso se dever a um quadro comportamental e não de dor. Pouco depois ouvíamos a palavra autismo associada ao comportamento do Afonso, sendo-nos mesmo afirmado tratar-se de um caso clássico de autismo. Doravante o Afonso passou a ser considerado autista e todo o comportamento dos médicos se alterou. Questões, para nós elementares, com que apenas queríamos confrontar os médicos para outras possibilidades de diagnóstico, era-nos liminarmente recusada outra hipótese que não a de autismo. A médica interna, que no dia anterior fizera a história clínica, disse-nos, taxativamente, que todo o processo clínico anteriormente redigido, nomeadamente toda a bateria de exames feita em Viseu, tinha que ser esquecida, pois agora apenas interessava actuar sobre o autismo do Afonso. Na sequência destes acontecimentos o Afonso é observado por uma médica especialista em autismo. É levantada uma ou outra pequena reticência como, por exemplo, o Afonso ter uma boa fixação do olhar, mas é confirmado o diagnóstico. O Afonso não foi, mais uma vez, colaborante na consulta. Na sequência desta primeira observação é marcada outra consulta, três semanas depois, para começar a acompanhar o Afonso no quadro do diagnóstico então confirmado.
Sem comentários:
Enviar um comentário