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Noite no sítio da Penascosa, 1995 |
Vale do Côa, regresso [16]. Esta viagem pelo vale do Côa foi também a revisitação de uma memória, de uma vivência, em 1995, em torno da defesa das gravuras, da perceção, na altura ainda um pouco incipiente, do valor de todo o conjunto do vale. Este passado de ligação, o facto de ter vivido, pessoalmente, uma série de experiências naquela paisagem, condiciona de forma acentuada, o meu olhar atual sobre o vale do Côa e os seus elementos significantes. No entanto a memória grata do habitar o vale antes da criação do Parque Arqueológico, da pernoita junto dos núcleos das gravuras, hoje, por vários motivos, já não é possível. Está como que quebrada essa continuidade existencial que na altura era possível viver entre o rio, o vale e as gravuras. Contraditoriamente passou a ser possível, em liberdade, o acesso à área da obra da barragem. Mas esta viagem é a da impossibilidade de um regresso, o que por si só não é relevante. Esta é a síntese de todas as impossibilidades de regresso ao passado perante o espanto, sempre surpreendente, do tempo que passa, de tudo o que se transforma. Não são apenas as paisagens que se transformam, talvez seja, muito mais, o olhar descodificador de quem as lê e interpreta, integra no seu universo vivencial, numa intransmissível escala espacio-temporal. Há o tempo das paisagens, há o tempo que flui dentro de nós, há toda a complexidade do regresso que podemos querer, mas que nem sabemos agora como foi por nós vivido no passado. Houve laços que se quebraram que são como as fotografias que apenas nos deixam o pequeno fragmento do tempo do seu registo, mas quase nada informam sobre um antes e um depois, ou o que está para além das margens do seu recorte.
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Ruína da obra da barragem. 2012 |
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