terça-feira, 24 de abril de 2012

Futuro


[A Construção da Fuga #20] A chuva, o vento, o frio, o calor, o cansaço, muitas vezes extremo, o limite de uma resistência física, o som de uma coruja numa noite gelada, o coachar das rãs na madrugada de um ribeiro, o sol das manhãs e o calçar as botas para mais um início de caminhada, o subir uma montanha, a procura de uma sombra sob um sol abrasador, ou de um pequeno regato para beber água, procurar um local para a pernoita e não pensar no dia seguinte. Uma ferida que sara sob uma película suor, e uma dor qualquer que se esquece. Uma paisagem ininterrupta que se renova a cada passo. Há uma energia poderosa que nos conduz por lugares desconhecidos. Há todos os medos que deixamos num horizonte crepuscular e uma vida que se dilui numa cosmicidade que existe vaga dentro de nós quando o pensamento se desprende de um sem-número de preocupações que transportamos todos os dias e que nos turvam a limpidez do olhar. Despojaremos essa face. Aqui dá-se o afastamento da cidade, de um quotidiano edificado sobre milhares de anos de civilização, de uma imparável evolução de espécie, que nos conduz a um distanciamento célere de um mundo arcaico, mas que, simultaneamente nos deixa janelas abertas, muitas vezes quase ocultas, do que foram as viagens passadas, não raras vezes de sofrimento e dor, mas sempre com um vislumbre de futuro.

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