Casa de Orlando Ribeiro em Vale de Lobos. 1997 |
Não tenho presente a data precisa, mas suponho ter sido no final do ano de 1995. Tinha proposto a José Mattoso o desenvolvimento uma obra, em vários volumes, baseada na imagem fotográfica de registo do território e do tempo longo em Portugal. Aproximava-se a data da inauguração da Expo' 98, dedicada ao oceanos, e a minha ideia era realizar um conjunto de exposições e de edições sobre o território português, numa altura, em que, mais uma vez na história nacional, o País se voltava para fora. Numa fase mais avançada da nossa pesquisa e do meu trabalho de recolha fotográfica, José Mattoso sugeriu a participação de Suzanne Daveau, mulher do Orlando Ribeiro. Deslocámo-nos a sua casa em Vale de Lobos, para apresentar o projecto. Foi nesse dia que conheci Orlando Ribeiro. Já se encontrava com uma saúde débil, mas mantinha o olhar vivo de uma curiosidade que dos seus livros emanava. Mas esta visita à casa de família de Orlando Ribeiro foi marcante também por outro aspecto. Na altura, o meu trabalho de campo já estava muito avançado, já tinha percorrido a quase totalidade do Portugal Peninsular, em canseiras difíceis de exprimir e, de repente, parecia que todo esse mundo se encontrava sintetizado naquela casa. Era Portugal inteiro que ali estava em lombadas de livros, mapas nas paredes e outros objectos relacionados com as memórias e o ofício de geógrafo, como a sua câmara fotográfica, os cadernos de campo ou uma prancheta forrada a papel milimétrico usada para desenhar. Foi a partir deste universo pessoal que, mais tarde, propus a Suzanne Daveau o desenvolvimento de um trabalho relacionado com a casa de Vale de Lobos, que viria a ser editado pouco tempo depois, pouco depois da conclusão de Portugal - O Sabor da Terra. Nessas fotografias procurei fixar a presença vestigial de Orlando Ribeiro. (continua)
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