Chegara ao fim de um dia de caminhada. Estava na serra da Peneda, no norte de Portugal, num dos pontos mais elevados do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Era Setembro e o tempo estava seco e aquecera desde que, três dias antes, iniciara a caminhada. Estava com pouca água e bastante sede. De qualquer forma estava longe de uma desidratação incapacitante, no entanto, depois de cerca de doze horas de caminhada, não desejava andar muito mais antes de repousar na noite próxima. Nestas caminhadas solitárias, defino sempre um 'itinerário de fuga', um rumo para a civilização, uma aldeia mais próxima, onde poderei ter de me deslocar por alguma necessidade.
Uma análise da cartografia conduzira-me ao local onde me encontrava, junto a uma pequena linha de água, que se precipitava num vale cavado. A vegetação densa que cobria essa linha de fraca pendente, e algumas plantas de um verde mais vivo, fizeram-me intuir que aí poderia encontrar o que procurava. Depois de escolhido o local de pernoita, peguei na garrafa com os, talvez, 150 ml que me restavam e fui à procura da água.
A água, as fotografias, um desejo de conhecimento dos lugares e das construções humanas, são o pretexto para um movimento continuo, para a deslocação sobre a paisagem. É sobre este percurso que tento dar conta no meu trabalho. Na procura da água há qualquer coisa de dimensão animal, de ser irracional, há uma pulsão vital, para mim, profundamente significante. Há o atravessar de uma barreira civilizacional onde me insiro. Há um movimento para trás de um caminhar humano, ou um passo em frente no olhar distanciado sobre mim mesmo. O meu trabalho tenta existir neste limbo, não da procura de uma grande fotografia, de um texto maior, ou o sonho de uma arquitectura acabada, mas de uma construção progressiva, uma sucessão de momentos edificados muitas vezes sobre o acaso, sobre o convite indefinido para um desconhecido que seria loucura não seguir.
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