quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Traços largos

[Lugares livres 07] Lugares Livres - Viseu, paisagem e povoamento, segue, em traços largos, esta cronologia de sucessivos mapeamentos fotográficos do território. Há referências bibliográficas que são, para mim, incontornáveis. São leituras que me acompanharam desde os primeiros passos, desde as primeiras viagens à procura de um país inteiro. Mas esta proposta segue outros preceitos, porventura mais difíceis de objetivar. Muito foi escrito sobre Viseu, talvez, curiosamente, mais escrito do que fotografado. Esta obra agarra-se à imagem fotográfica como fio condutor de um discurso sobre a paisagem e o povoamento humano. Esta é uma deriva, pelo tempo e pelo espaço, por um conjunto de lugares concretos. Sendo uma visão local, sobre a especificidade de uma paisagem com características próprias, não deixa de ambicionar ser uma reflexão sobre um país, que em qualquer mínimo lugar podemos, com maior ou menor imaginação, ver como um todo. Se levarmos ainda mais longe a nossa capacidade de abstração, podemos ler num pedaço de terra, mais ou menos alargado, um planeta inteiro. Ao longo desta obra são focadas questões que se prendem com as alterações climáticas. A tão rara neve que caiu na cidade em 2010, o caudal vertiginoso do pequeno rio Pavia, as chuvas torrenciais no verão, a passagem das tempestades subtropicais Leslie e Elsa, que deixaram marcas bem visíveis na cidade, ou as poeiras trazidas do norte de África por frentes atmosféricas, são exemplos de que estamos ligados ao dinamismo alterado do planeta Terra. Parece ser cada vez mais evidente que as ações humanas, nomeadamente através das emissões poluentes, têm um peso significativo nas condições ambientais. Se é certo que o clima na Terra nunca foi estável, também parece evidente que nunca as mudanças foram tão céleres. Alterações bruscas aconteceram no passado devido a grandes cataclismos de escala planetária. O mais recente evento desta natureza aconteceu há cerca de 65 milhões de anos, quando um meteorito de invulgares dimensões embateu na superfície terrestre, abrindo uma gigantesca cratera que, durante vários anos emitiu para a atmosfera, resíduos e poeiras que alteraram de forma significativa o clima, levando à extinção de numerosas espécies vegetais e animais, com destaque para o dinossauros. Foi o desaparecimento destes poderosos répteis que permitiu o desenvolvimento dos mamíferos, classe biológica a que pertencemos e somos herdeiros.

Rio Pavia, Vildemoinhos, Viseu, 2016


 

 

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