sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Do adro

 [Lugares livres 02] Quando chegamos ao adro da Sé deparamo-nos com um dos mais belos espaços urbanos de Portugal. Há ali um equilíbrio de desenho e volumetrias que raras vezes encontramos noutros lugares, mesmo naqueles que são projetados de raiz, quase sempre de tempos contemporâneos ou relativamente recentes. Se contornarmos o edifício da Sé Catedral podemos ver um conjunto de penedos sobre o qual foi erguida a basílica. Há qualquer coisa de singular e único naqueles rochedos, como se a sacralidade do lugar estivesse inscrita naquelas formas ciclópicas, arredondadas. Talvez em tempos muito recuados se tenha ali erguido um primeiro templo que ao longo de sucessivas vagas de povoamento terá sido transformado, mantendo a sua função primordial, sacra. Aquela elevação nem sequer se sobressai demasiado em relação a outros cumes envolventes, mas o povoamento humano conferiu-lhe uma centralidade que polariza terras que vão do rio Douro ao Mondego, da serra do Caramulo à Estrela.

Igreja da Misericórdia, Viseu, 2002

 

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