quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Atlas

[Suzanne Daveau 29] Em sentido geográfico estrito, um atlas é um conjunto de mapas. O Atlas Suzanne Daveau é um conjunto de fotografias, é uma representação do seu universo geográfico, das suas viagens pelo mundo. Não se trata de uma geografia sentimental da autora, pois as fotografias não foram selecionadas por si, apenas com o seu acompanhamento. Este atlas é um mapeamento fotográfico de um conjunto de lugares e da forma como estes são povoados. Este atlas é o rosto de uma mulher, o olhar-espelho que permanece depois da sua passagem, é o saber condensado na memória de um século, a sabedoria, a força misteriosa que ainda hoje emana da sua voz. É como se Suzanne Daveau transportasse toda a determinação humana no movimento das longas caminhadas do mais remoto passado, desde que os primeiros hominídeos abandonaram um território confinado e avançaram sobre paisagens desconhecidas, na procura de lugares para habitar. Foi este planeta Terra que nos moldou como espécie ao longo de centenas de milhares de anos. Se somos capazes das maiores atrocidades contra tudo, contra nós próprios, somos também movidos por uma curiosidade sem limites, o desejo de conhecimento da realidade em que crescemos, ou daquela que, à noite, observamos num céu denso de pontos luminosos. Procuramos uma verdade palpável que não é aquela apertada por religiões ou ideologias, nem é um modo simplista de interpretar ciência como tecnologia. O atlas de Suzanne Daveau não tem limites, não são os mapas que desenhou ao longo de toda a sua vida, não são estas fotografias, é um atlas do conhecimento do espaço e do tempo. Com frontalidade e sensibilidade, sem subterfúgios, Suzanne Daveau transporta-nos, em silêncio, por “toda” a terra de um planeta fascinante.

Nouadibou, Mauritânia, 1958. (fotografia de Suzanne Daveau)

 

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