quinta-feira, 29 de julho de 2021

Caminhos da Geografia

[Suzanne Daveau 20] Entretanto a fotografia perde o seu significado no contexto da Geografia. O trabalho de campo passou a ser menos relevante no contexto de ensino da disciplina. A ciência geográfica passou para o interior de gabinetes, de salas com acesso à internet e a uma crescente quantidade de dados disponíveis, sobretudo para matérias relacionadas com o planeamento e ordenamento do território.

De um trabalho fotográfico desta natureza poderão ser feitas muitas e diferentes interpretações. Há dois aspetos que se foram consolidando na leitura destas imagens. Um deles é uma ideia de "verdade'', um ato genuíno de registo documental de uma realidade observada, sem a tentativa de procurar uma qualquer inovação estética. Não há aqui enquadramentos “ginasticados”, a fotografia pela fotografia. Há um registo de uma realidade que se quer fixar, pela sua singularidade, porque nos pode ajudar a entender uma paisagem, um gesto humano, a possibilidade de representar e partilhar esse momento. Há um segundo aspeto que parece estabelecer com este desejo documental uma relação tensa, complexa. As fotografias de Suzanne Daveau não são neutras, prendem o nosso olhar sem que, no imediato, nos possamos aperceber dessa sedução. Há, em várias fotografias, uma ideia de “movimento”, mesmo no registo de paisagens estáticas. Por vezes essa ideia de movimento, de deslocação, é conferida por um ligeiro desequilíbrio na imagem, nos seus elementos compositivos, no notar-se a ondulação de uma linha de costa, o vento em árvores ou arbustos, o cuidado que foi posto nas nuvens. Há uma ideia, quase, de cinematografia. São estes elementos, o documentalismo e esta tensão sedutora, que conferem a singularidade deste olhar em que podemos entrar com mais clarividência se lermos as suas palavras, a sua vasta produção científica. Estes aspetos afastam o imaginário banal com que, muitas vezes, são feitas as fotografias de paisagem. São imagens de pensamento, densas e intemporais. Estas fotografias prendem-nos a uma ideia de tempo presente, como se a sua descodificação nos levasse irredutivelmente à atualidade. São fotografias que, hoje, nos fazem refletir sobre o passado, sobre a forma como, humanos, estamos a transformar o território que habitamos.

 

Aludalen. Suécia, 1960. (fotografia de Suzanne Daveau)

 

1 comentário:

  1. Realmente não tinha reparado na cinematografia desta fotografia. É importante educarmos o olhar.

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