O concurso Viseu Terceiro, atual Viseu Cultura, começou por ser uma louvável iniciativa da Câmara Municipal de Viseu para o apoio e financiamento de diversas atividades culturais que acontecem na cidade. A ideia foi, desde o início, fomentar a transparência na adjudicação de recursos do erário público.
No entanto esta situação tem vindo a ser alterada. O júri independente do início, rapidamente foi dispensado e substituído por uma Comissão de Avaliação nomeada e presidida pelo Vereador do Património, Cultura e Ciência, Turismo e Marketing Territorial, Jorge Sobrado.
Este ano o regulamento do concurso apresenta uma cláusula que é significativa sobre o modo como é atualmente gerida a cultura com financiamento municipal. No ponto nono do artigo 13ª (Apresentação e admissão de candidaturas) é referido: “As candidaturas deverão propor uma atividade nas áreas de música, teatro,dança, performance, novo circo, poesia ou outra, a realizar em data a acordar no mês de julho de 2020, no âmbito da programação “Mescla”. A execução financeira da atividade será da responsabilidade da própria candidatura.”
A liberdade criativa dos concorrentes fica anulada por esta cláusula. A ideia de um concurso e de uma competitividade saudável em que as melhores propostas serão financiadas, desaparece. O que fica patente é a completa incapacidade da autarquia em assumir a programação do/da “Mescla”, uma iniciativa desenvolvida pela Câmara Municipal que não tem uma ideia minimamente coerente, qualquer princípio estruturador dos seus conteúdos, nem tão pouco um tema agregador. É, de facto, uma mescla. Também diria que, num ambiente saudavelmente democrático a organização deste género de iniciativas deveria ficar a cargo de programadores independentes e eles existem bem qualificados na cidade.
Outra questão, que raia de forma abusiva uma ética de verticalidade, é obrigar os concorrentes a financiarem esta atividade, obrigatória, através do seu próprio orçamento. No fundo a Câmara Municipal de Viseu dá com uma mão e tira com a outra. De qualquer modo não deixa de ser a organização de um evento “sem” gastar recursos do orçamento municipal.
Mas talvez aquilo que parece evidente é o cultivar nos agentes culturais da cidade uma mediocridade submissa, que esteja alinhada, em diametral oposição, com o perfil de quem a promove. Com este concurso Viseu fica mais pobre, ficará a cidade menos apta para se integrar num movimento global de cidades criativas. É também, a cada ano que passa, o cultivar uma interioridade que agoniza pela falta de visão política efetiva. Sim, ao invés de uma ideia forte desenvolvida por criadores ativos que saibam integrar a cidade no território que a envolve, o que fica exposto é uma manta de retalhos, espelho de uma gestão política que apenas se serve do marketing para exibir o mais profundo e estéril vazio.
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