[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 30] A barragem de Vilarinho das Furnas, no vale do rio Homem, foi inaugurada no dia 21 de maio de 1972. Poderia ser uma obra como outras construídas nos mais caudalosos rios do norte de Portugal, mas esta transporta ainda hoje uma marca singular: submergiu uma aldeia inteira, Vilarinho das Furnas. Tinha sido uma aldeia estudada por Jorge Dias, o mais reconhecido etnógrafo da sua geração, nos anos quarenta do século xx, com trabalho publicado em 1948 (Vilarinho da Furna, uma aldeia comunitária (1948), Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1981). Vilarinho da Furnas era então considerada uma das aldeias que melhor conservava um comunitarismo agro-pastoril, de raiz arcaica, de todo o espaço português e já desaparecido em muitos outros lugares.
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Vilar de Ledra
[Linha do Tua 62] Um pouco mais à frente, depois do traçado da via abandonar momentaneamente as margens da ribeira, passamos a povoação de Vilar de Ledra. Um pequeno apeadeiro e a presença do cais de embarque de passageiros sinalizam a paragem. Os carris já não se encontram no local. Adiante, a via-férrea torna à margem direita da ribeira de Carvalhais para, pontualmente, se voltar a afastar, uma vez que a ribeira serpenteia em curvas e contracurvas apertadas. Ao longo de cerca de quatro quilómetros, até às proximidades de Jerusalém do Romeu, a via-férrea é acompanhada pelo IP4, isto depois de, desde Mirandela, a via vir a acompanhar a Estrada Nacional n.º 15.
Campo do Gerês
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 29] Regressar ao Campo do Gerês, já não para seguir na direção nascente, para o coração do próprio Gerês, mas na direção oposta, da serra Amarela, próximo destino. Há mais de vinte anos partia desta aldeia para uma caminhada de 11 dias, até Tourém, no estremo oposto da serra do Gerês e já para lá do planalto da Mourela.
domingo, 28 de setembro de 2014
Prosseguir para norte
[Linha do Tua 61] Abandonadas as margens do rio Tua, cujo topónimo desaparece poucos quilómetros a montante de Mirandela, a via-férrea segue o seu percurso pela veiga, muito plana, da ribeira de Carvalhais, como que tomando fôlego para galgar o desnível acentuado que o comboio terá de vencer nos quilómetros que se avizinham. Finda a planura de terrenos férteis, a via passa para a margem direita da ribeira de Carvalhais, pela ponte de Carvalhais, uma ponte metálica assente em dois socos de alvenaria de pedra, semelhante a outras já observadas ao longo deste itinerário.
Encontro inesperado
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 28] A exposição está pronta e será inaugurada à noite, às 22 horas. Algumas pessoas vagueiam pelo espaço. Estão reunidos uma série de elementos dispersos aparentemente de conciliação difícil, mas que acabam por criar um discurso e uma singular abordagem a uma obra literária que é misteriosa e enigmática. A iluminação é cuidada, o espaço apresenta uma assinalável leveza e despojamento. A leitura ocasional de textos, gravados, passa em três locais distintos e povoa a sala de palavras.
sábado, 27 de setembro de 2014
Traçar a ferrovia
[Linha do Tua 60] Uma vez que os traçados ferroviários exigem pendentes baixas, e dadas as limitações técnicas da engenharia no final do século xix e a conjuntura económica precária em Portugal, o caminho-de-ferro então possível seguiu o vale do Tua. Na época já existia uma ligação rodoviária no canal que viria a ser a Estrada Nacional n.º 15, a via que, de uma forma mais retilínea, liga o Porto a Bragança. Esse canal veio a ser mais tarde utilizado, com algumas correções de traçado, pelo IP4. Contudo, e particularmente no Alto de Espinho, na serra do Marão, que atinge os 1000 metros de altitude, esse trajeto faria atingir pendentes cuja «escalada» por uma composição ferroviária era impossível.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Noite vimaranense
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 27] Algumas imagens na noite de Guimarães. Um Portugal profundo, animado, colorido, que mistura elementos civilizacionais dos mais diferentes locais do mundo com uma cultura local, regional, fortemente enraizada.
A paisagem da Terra Quente
[Linha do Tua 59] Mirandela é o coração de um território vasto a que se convencionou chamar Terra Quente Transmontana. A paisagem é dominada por um mosaico diversificado de ocupação agrícola, que se adapta às formas arredondadas do relevo. Havendo exceções, a propriedade é relativamente pequena, e nela estão mais presentes as culturas da oliveira – aqui se produzem alguns dos melhores azeites do país –, a vinha, a amendoeira, bem como alguns frutos, de entre os quais se destaca a cereja. O clima nestas terras de Mirandela é muito quente no Verão, que muitas vezes é antecipado na Primavera ou se «estende» pelo Outono. Estamos num território abrigado, como que um último enclave de características mediterrâneas a norte do Douro, onde predomina já um clima marcadamente continental. Apesar da distância que separa a cidade da orla costeira, Mirandela está a uma cota muito baixa, a pouco mais de 200 metros de altitude. É dos pontos mais baixos da região, e nele converge uma concha de enormes dimensões, definida por um sistema hidrológico composto pelos rios Tuela, Rabaçal e Ribeira de Carvalhais. A linha de escoamento deste complexo fluvial é, justamente, o rio Tua. Estas características fazem deste vale a melhor solução para a penetração da via-férrea até Mirandela e, posteriormente, Bragança. Na época do projeto da Linha do Tua foi equacionada a possibilidade de fazer o acesso a Bragança pelo vale do rio Sabor, que desagua no Douro próximo do Pocinho e nasce um pouco a norte da capital transmontana. Mas este percurso, não sendo tecnicamente mais fácil, era substancialmente mais longo do que a solução através do Tua. Essa via natural foi aproveitada para a construção de um outro ramal de Linha do Douro, a Linha do Sabor, que era suposto ter chegado a Miranda do Douro mas que não passou de Duas Igrejas, uma aldeia a seis quilómetros de Miranda.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Montar exposição, expor Llansol
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 26] Montagem da exposição “O encontro inesperado do diverso”. Um trabalho comissariado por Nuno Faria, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães, desenvolvido por Ilda David e por mim, a partir da obra Lisboalipzig, de Maria Gabriela Llansol. O trabalho de fotografia teve como ponto de partida, num primeiro momento, os objetos e a casa de Llansol e, num segundo momento, o próprio trabalho de Ilda David, que acompanhei ao longo de alguns meses, numa experiência fascinante de diálogo em torno do mundo visível. Uma pulsão vital em torno da imagem, do registo das dobras de um tempo que fluía em simultâneo em diferentes velocidades. Se muitas vezes as fotografias pedem palavras como complemento de representação, aqui as imagens pareciam desprender-se dessa necessidade. O belo, a plasticidade das coisas e vos seres, são um dos mais poderosos motores da vida consciente.
Carvalhais
[Linha do Tua 58] Chegamos finalmente àquela que é hoje a estação terminal da Linha do Tua. A estação está localizada na várzea da ribeira de Carvalhais, na sua margem esquerda. A aldeia de Carvalhais desenvolve-se na margem oposta da ribeira, que aqui apresenta uma planura acentuada. Muito perto da estação está implantada a Escola Superior Agrária de Mirandela, um polo universitário que constituiu o principal motivo da manutenção desta acessibilidade ferroviária. Já não se circula de comboio para norte de Carvalhais desde 1991. Além da estação, com dois pisos, cuja linguagem arquitetónica é semelhante às estações já observadas, faz parte do conjunto construído um edifício de manutenção e oficinas da frota do Metro de Mirandela. Inicialmente a frota era composta por quatro automotoras, Lisboa, Estrasburgo, Paris e Bruxelas, mas no acidente de 2007 a Bruxelas caiu ao rio e foi desmantelada no local devido à impossibilidade de a remover por inteiro. Desde então o parque de viaturas ficou reduzido às restantes três unidades. Os pontos de encosto das composições que se observam na estação são o elemento físico que nos indica que o comboio não avança para lá deste local. Daqui em diante, em vastas extensões, já foram removidos os carris. No entanto, é muito interessante acompanhar o trajeto da ferrovia, que, embora sem a grandiosidade do percurso pelo vale do Tua, nos oferece um conjunto de paisagens diversificadas, várias obras de arte associadas à construção da via e povoações próximas. Apesar de inutilizada há vários anos, a marca da ferrovia mantém-se, indelével, na paisagem, como uma memória que não quer ser apagada.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Matados
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 25] Uma última paragem já não longe de Viseu, entre Gumarais de Tavares e Matados, outro penedo sacralizado. Há no local marcas de utilização recente.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
A Europa nas margens do Tua
[Linha do Tua 57] Após o túnel de Mirandela segue-se a paragem de Tarana, e depois dela outro pequeno apeadeiro, Jacques Delors, de construção recente. O nome desta paragem evoca uma das personagens de maior relevo do processo de construção da União Europeia. Jacques Delors foi presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995 e conduziu o processo que levou à assinatura do tratado de Maastricht, em 1992, a partir do qual foi abandonada a designação de Comunidade Económica Europeia e passou a ser assumida a designação União Europeia. Sendo Mirandela uma cidade que cresce a partir do cruzamento de vias com diferentes destinos, esta foi uma forma de homenagear a encruzilhada europeia. O apeadeiro de São Sebastião é o que se segue neste percurso pela cidade. Como a sua arquitetura não apresenta a contemporaneidade da paragem anterior, somos remetidos para o período da construção da Linha do Tua, que afinal é o Metro de Mirandela. Prosseguimos a viagem, e paramos noutro apeadeiro recente. Na continuidade da evocação de nomes relevantes da cultura europeia, estamos agora no apeadeiro Jean Monnet, considerado o «arquiteto» da União Europeia, porque, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, propôs integrar numa mesma entidade a produção de aço e de carvão da França e da Alemanha, o que levou, em 1952, à constituição de uma primeira comunidade económica que reunia dois países europeus
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
São Gens
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 24] Já de regresso a Viseu, perto de Celorico da Beira, regresso à necrópole de São Gens. Um enorme penedo, como que em equilíbrio, talvez tenha motivado a sacralização daquele espaço, que se encontra povoado por sepulturas antropomórficas escavadas na rocha.
Metro
[Linha do Tua 56] A designação «Metro de Mirandela» advém do facto de a linha seguir um trajeto urbano ao longo de uma parte da cidade. O comboio segue em direção a Carvalhais e tem uma primeira paragem, ainda no troço urbano, no apeadeiro Jean Piaget, epistemólogo suíço que desenvolveu um trabalho de referência no estudo do desenvolvimento cognitivo e que deu nome ao Instituto Piaget, que tem um polo universitário em Mirandela. Em seguida, a linha atravessa um túnel, retilíneo, construído sob a malha urbana, acompanhando exatamente o traçado da Linha do Tua. A firma Metropolitano Ligeiro de Mirandela, foi criada em 1995 enquadrada num programa de medidas de racionalização de linhas de baixa procura que a empresa Comboios de Portugal (CP) encetou no sentido de tentar evitar o fecho de alguns itinerários. Mais tarde, a partir de Outubro de 2001, a empresa passou a gerir não apenas o troço de quatro quilómetros entre Mirandela e Carvalhais, mas toda a extensão da Linha do Tua, que, à data, se encontrava em funcionamento (entre o Tua e Carvalhais, cerca de 58 quilómetros de via).
domingo, 21 de setembro de 2014
Reboredo
[20-29jul2014_mondego-guimarães-amarela 23] Prosseguimos viagem. estamos agora na serra do Reboredo, já próximos de Torre de Moncorvo. Nesta montanha de altitude reduzida, existiram as minas do Reboredo, hoje desativadas, mas que permanecem numa certa latência, sendo, ocasionalmente, notícia devido ao interesse de alguma empresa mineira no seu subsolo. Sem ter tido a oportunidade de visitar a mina, ficou o desejo de fotografar o local, não apenas estas minas, mas o que resta de outros campos de mineração hoje abandonados.
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