[pst 198] "No Douro, que produz um vinho complexo, um vinho mais feito e mais «fabricado» do que outros, os homens desbravaram o mato, subiram as encostas, aterraram e surribaram. Desfizeram a pedra, fabricaram terra, levantaram muros, construíram milhares de quilómetros de socalcos, serra acima, vale adentro. Quebraram a rocha, cavaram a terra, saltaram os rios, procuraram água e marcaram sítios para viver. Plantaram, enxertaram, podaram as vides, colheram as uvas, pisaram, trasfegaram, transportaram, fizeram o vinho. Conservaram, armazenaram, fizeram lotes, misturaram aguardente, envelheceram e apuraram. E o vinho fez uma região, fez os solares, as quintas e os casebres. Fez os lugares e os cardenhos; as pipas e os rebelos; os ricos e os pobres. Nada de importante, no Douro, é independente do vinho. Nem as igrejas e os mosteiros, que o vinho fez e que fizeram o vinho". (António Barreto — Douro).
Vale do Corgo — Quinta da Ermida, Ermida. Vila Real. 21 de agosto de 1996 |
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