quinta-feira, 31 de março de 2016

Nossa Senhora da Boa Morte

[pst 158] Dentro das muralhas de um antigo povoado castrejo, pressentimos já, para sul, a terra duriense. No sopé do morro foi implantado o santuário do Senhor da Boa Morte. Local de romaria, de festa, onde junto ao cemitério e à igreja, se aplanou um campo de futebol. O espaço lúdico convive pacificamente com o espaço sagrado.

Nossa Senhora da Boa Morte — Pópulo. Alijó. 29 de janeiro de 1996

quarta-feira, 30 de março de 2016

Sarcófago — Santa Eulália

[pst 157] As pedras que contam ou enunciam histórias de vida e de morte, dos homens e mulheres que habitaram estes lugares recônditos, são uma constante desta paisagem, humanizada por sonhos construídos. Esta antiquíssima sepultura mostra silenciosamente realidades que o tempo não altera.

Sarcófago — Santa Eulália. Chaves. 29 de janeiro de 1996

terça-feira, 29 de março de 2016

Algosinho

[pst 156] Algosinho situa-se a cerca de quinze quilómetros de Mogadouro, já próximo do rio Douro. A sua igreja é um interessante exemplar da arquitetura românica rural de Trás-os-Montes. Teve, na sua origem, alguma importância como lugar de peregrinação. No século XIII, sofre obras de ampliação de um anterior templo que existia no local, provavelmente de origem mozárabe. São conhecidos outros vestígios de hipotética influência árabe nas imediações como seja, não longe de ali, o Castelo dos Mouros.

Igreja — Algosinho. Mogadouro. 29 de dezembro de 1993

segunda-feira, 28 de março de 2016

Carrazedo de Montenegro

[pst 155] À semelhança do que acontece em Miranda do Douro, Carrazedo de Montenegro tem na igreja paroquial o edifício mais significativo do lugar. A construção, de boas cantarias em granito, é do século XVIII. É já notória aqui a preocupação do arranjo do espaço exterior, característica das igrejas de romaria do período barroco. Os candeeiros alinhados anunciam, no entanto, um espaço que ainda não foi concluído.

Carrazedo de Montenegro. Valpaços. 29 de janeiro de 1996

domingo, 27 de março de 2016

Sé Catedral de Miranda do Douro

[pst 154] A primeira pedra da Sé Catedral de Miranda do Douro foi colocada em 8 de Janeiro de 1552 e o altar-mor sagrado em 6 de Abril de 1566. Foi sede bispado, criado em 1545, até este ser transferido para Bragança, em 1780. Impressiona não apenas pela qualidade do seu desenho ou pelo seu "ar" espanhol, mas pela sua dimensão grandiosa na pequena cidade de Miranda.

Sé Catedral de Miranda do Douro. 15 de maio de 1996



sábado, 26 de março de 2016

Igreja — Outeiro

[pst 153] É uma tipologia arquitetónica característica da região de Bragança e de Miranda do Douro. A torre sineira é chegada à fachada mais importante da igreja e constitui o elemento arquitetónico mais significativo do conjunto. É a imagem de um tempo, em que o toque dos sinos ritmava os dias do trabalho no campo.

 
Igreja — Outeiro. Bragança. 15 de maio de 1996

sexta-feira, 25 de março de 2016

Mosteiro de Castro de Avelãs

[pst 152] A cabeceira é o que resta da igreja, sede de uma antiga abadia beneditina, que teve origem provavelmente no século XI. O mosteiro, o único em Portugal construído em tijolo, foi extinto por uma bula do Papa Paulo III, em 1543. A sede de diocese é, nessa altura, transferida para Miranda do Douro. Com o abandono do lugar pelos monges da abadia, vai ficar votada ao abandono e a ruína  toma o edifício. No século XVIII é construída uma nova nave, adossada, mas desintegrada do conjunto mais antigo.

 
Mosteiro de Castro de Avelãs. Bragança. 15 de maio de 1996

quinta-feira, 24 de março de 2016

Santa Maria das Júnias

[pst 151] Impressiona o lugar onde foi edificado. As ruínas do mosteiro de Santa Maria das Júnias situam-se próximo da aldeia de Pitões das Júnias, nas margens do ribeiro de Campesino. Eremitério de montanha, aparece, talvez, no século XII, e viria a tornar-se numa abadia cisterciense dependente do mosteiro galego de Ossera. Alguns autores referem que o atual templo, de arquitetura românica, data da primeira metade do século XIII. É um dos raros mosteiros antigos implantados em terras transmontanas.

Santa Maria das Júnias — Pitões das Júnias. Montalegre.  23 de agosto de 1991

quarta-feira, 23 de março de 2016

Complexo industrial do Cachão

[pst 150] Aquando da sua construção, pensava-se que ia contribuir decisivamente para o desenvolvimento industrial incipiente de Trás-os-Montes. O Complexo Industrial do Cachão situa-se entre Mirandela e Vila Flor, nas margens do Tua. Embora servido pela linha ferroviária, o conjunto alicerça-se numa rede viária precária e num local isolado. Este facto terá contribuído para um projeto que não foi bem sucedido. Uma terra difícil continua a oferecer resistência a projetos mais arrojados.

Complexo industrial do Cachão. Mirandela. 16 de maio de 1996

terça-feira, 22 de março de 2016

Palace Hotel de Vidago

[pst 149] A descoberta das qualidades terapêuticas das águas de Vidago deu-se por um acaso. Em 1863 um lavrador doente do estômago bebeu de uma poça e melhorou consideravelmente dos seus males. A notícia correu a região e o município de Chaves ordena a análise da qualidade da água. Em 1878 é concluído o Grande Hotel, com capacidade para 120 hóspedes. Em 1908 inicia-se a construção de outro hotel, que viria a ser o mais importante da estância. O Palace Hotel é concluído em Setembro de 1910 e foi considerado, na altura, como um dos mais majestosos do seu género, em toda a Europa. O luxo burguês e citadino da arquitetura contrasta com a natureza rude da região em que as termas se situam.

Palace Hotel de Vidago. Chaves. 14 de maio de 1996

segunda-feira, 21 de março de 2016

Minas de Jales

[pst 148] Segundo Plínio, o noroeste da Península Ibérica, produzia qualquer coisa como vinte mil libras romanas em peso de ouro, ou seja, aproximadamente 65 000 kg. Uma exploração intensa do precioso metal terá deixado as jazidas bastante depauperadas. A exploração das minas de ouro de Jales já era feita antes dos Romanos e continuaria até aos nossos dias. Recentemente encerraram.

Minas de Jales. Vila Pouca de Aguiar. 28 de janeiro de 1996

domingo, 20 de março de 2016

Castelo Branco. Mogadouro

[pst 147] Quem se dirige do Freixo de Espada à Cinta para Mogadouro passa à aldeia de Castelo Branco. Quando nos aproximamos do pequeno povoado, outrora importante, imediatamente avistamos a mole volumosa do solar dos Morais Pimenteis, como que se erguendo do casario raso. Os solares transmontanos do século XVIII eram, geralmente, construídos com as fortunas feitas no Brasil. Eram erguidos numa terra pobre e a ruína seria o seu destino quando o dinheiro da emigração deixava de chegar.

Castelo Branco. Mogadouro. 16 de maio de 1996

sábado, 19 de março de 2016

Porca de Murça

[pst 146] «No meio da praça da villa, e em frente da Camara, se vê um mono de pedra, que tanto póde ser um porco, como um urso, hippopotamo ou elefante. É a Porca de Murça. Segundo a lenda, era no séc.VIII esta povoação e o seu termo assolados por grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da villa, secundados pelo povo, tantas montarias fizeram, que extinguiram tão daninhas feras ou as escorraçaram para muito longe. Mas, entre a multidão de quadrupedes, havia uma porca (outros dizem uma ursa) que se tinha tornado o terror dos povos, pela sua monstruosa corpulência, pela sua ferocidade, e por ser tão matreira, que nunca podia ter sido morta pelos caçadores. Em 757 o senhor de Murça, cavaleiro de grandes forças e não menor coragem, dicidiu matar a porca, e taes manhas empregou, que o conseguiu; libertando a terra de tão incommodo hospede. Em memoria d' esta façanha se construiu o tal monumento, alcunhado de a porca de Murça". Tal é a interpretação popular recolhida por Pinho Leal (1875), citado por J. Leite de Vascocelos in Religiões da Lusitania. A gente da cidade esqueceu há muito o carácter sagrado deste símbolo primitivo da fecundidade e da força, mas continua a venerá-lo como uma referência coletiva que marca as milenárias origens da comunidade.

Porca de Murça. 29 de janeiro de 1996

Vale de Telhas

[pst 145] É uma pequena aldeia situada entre Valpaços e Torre de D. Chama, próxima do rio Rabaçal. São vários os elementos que denunciam um povoamento antigo e continuado no tempo. No largo principal da aldeia, junto de uma coluna militar romana, uma fonte de imersão, do mesmo período, de planta quadrangular e arco de volta perfeita. É aqui visível, pela forma levemente erodida das arestas do granito, o tempo que passou.

Vale de Telhas. Mirandela. 29 de janeiro de 1996

sexta-feira, 18 de março de 2016

Vila Real

[pst 144] O promontório, situado na confluência do rio Cabril com o Corgo, fazia parte das antigas Terras de Panóias, cuja capital era a vila de Constantim. Deverá ter sido D. Sancho II, o primeiro rei a exprimir o desejo de fundar uma nova povoação reguenga naqueles domínios. No entanto, o primeiro local escolhido para implantação do lugar viria a ser abandonado e o ato acabou por não se efetuar. Mais tarde, em 1258, D. Afonso III concede a primeira Carta de Foral a Vila Real. Mas, à semelhança do que anteriormente acontecera, o povoamento não se concretizou. A fundação da vila parece ter-se dado apenas no reinado de D. Dinis, em 1289. Hoje a cidade tornou-se um importante polo de desenvolvimento regional, onde os vestígios antigos se cruzam com construções modernas que facilitam o acesso.

Vila Real. 21 de agosto de 1996

terça-feira, 15 de março de 2016

Mirandela

[pst 143] À semelhança de Chaves, mas num contexto geográfico diferente, Mirandela desenvolve-se a partir de um cruzamento de caminhos e da proximidade do rio Tua. A ponte medieval, o caminho de ferro e actualmente o IP4, são o testemunho da importância que manteve este ponto, no decorrer de um tempo longo, no atravessamento do território transmontano.

Mirandela. 16 de maio de 1996

segunda-feira, 14 de março de 2016

Chaves

[pst 142] Os fatores principais que contribuíram para as sucessivas vagas de povoamento da cidade de Chaves, foram certamente, a qualidade dos solos que a envolvem, a fértil veiga, bem como as suas águas termais. A ponte de Trajano, romana, atravessa o Tâmega em 16 arcos de volta perfeita, onde a qualidade da construção denota bem a importância do lugar.

Chaves. 3 de setembro de 1990

domingo, 13 de março de 2016

Bragança

[pst 141] "A cidade assentou a sua primitiva implantação numa lomba que reforçava uma colina já de si propícia à defesa e constituiu até há bem pouco a referência essencial do seu espaço, dominado pela torre de menagem e limitado por muralhas. Daí se foi estendendo, ladeira a baixo, prolongando-se sempre no coroamento da encosta, a debruçar-se pouco a pouco para o estreito vale do Fervença e para o caminho que leva ao Sabor, ocupando progressivamente a colina oposta, onde a implantação do caminho de ferro veio propor uma nova chegada". (Alfredo Durão de Matos Ferreira, Aspectos da Organização do Espaço Português).

Bragança. 14 de maio de 1996

sábado, 12 de março de 2016

Miradouro — Curopos

[pst 140] Situa-se entre Chaves e Vinhais, na berma de uma estrada que atravessa a terra transmontana e, por certo, integrava o conjunto dos caminhos de peregrinação que se dirigiam a Santiago de Compostela, em tempos medievos. Estes miradouros são hoje lugares de demora, de contemplação desses cabeços redondos, erodidos pelos rigores do inverno.

Miradouro — Curopos. Vinhais. 14 de maio de1996

sexta-feira, 11 de março de 2016

Pontos em movimento

[permanecer inexistente_12] Registar os pontos de um território que, de outra forma, muito provavelmente, nunca repararíamos neles. Andamos no limbo da aleatoriedade, retrato de um caminho que queremos encontrar, que ligue um passado inacessível a um futuro, sempre, imprevisível, num espaço indeterminado. Movimento interminável e fascinante. Nos pontos de um mapa encontramos rostos desfocados, alguém que não conseguimos identificar, nomear. Alguém próximo, talvez a imagem devolvida por um espelho. Parecia penetrar no absurdo da vida, como se aí estivessem desenhados os pontos que procurava. A invenção dos lugares humanos, brancos, vazios de outras realidades como aquelas que representam as perdas reveladas nas fotografias ao quererem aproximar-se de uma essência vaga, de um fundamento, de uma coerência. Agora, flutuando sobre uma superfície líquida, algo terminava, entre um rio vindo de longínquas montanhas e o mar de horizonte largo de viagens, ficaram as florestas, um pinhal destruído, espaços suburbanos, lugares sem nome, ou o coração de serras pobres e desertas. Chegar ao ponto derradeiro de um imaginário como uma realidade próxima mas indecifrável. Descoberta e perda no mesmo instante. Esvaziamento no momento em que alguma realização parece ter sido atingida. Pontos em movimento em torno de outros pontos. Velocidades diversas, constantes. Universo. [Este é o último post do texto “Permanecer inexistente”, relativo ao projeto Sete Círculos].


C7.M - Covas de Ferro. Sintra - 38º52’5.56”N / 9º15’21.00”W - 12.12.2013_10:32

quinta-feira, 10 de março de 2016

Casa do Abade de Baçal

[pst 139] Francisco Manuel Alves nasceu em Baçal, concelho de Bragança, em 1865. Estudou no seminário, foi ordenado padre em 1889 e, posteriormente, nomeado reitor de Baçal. Ao longo de toda a sua vida percorreu, apaixonadamente, todo o distrito de Bragança na recolha de documentação histórica, arqueológica, artística e etnográfica. Entre 1934 e 1948 publica os onze volumes que constituem a obra Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança. Personalidade forte e desassombrada, representa um caso exemplar de erudição inteligente, de compreensão da terra e de fidelidade às tradições transmontanas.

Casa do Abade de Baçal — Baçal. Bragança. 15 de maio de 1996

quarta-feira, 9 de março de 2016

Rio de Macedo

[pst 138] Os moinhos de água foram provavelmente introduzidos na Península Ibérica pelos Romanos. Jorge Dias encontrou várias mós em vales próximos de Conimbriga. Substituíam modos mais arcaicos, muitas vezes manuais, de moer cereais. Hoje, a força das águas praticamente deixou de ser utilizada para este fim. Estas construções, muitas vezes em ruínas, continuam a pontuar as margens de rios e ribeiros.

Rio de Macedo ou do Zoio — Ponte de Vilares. Mirandela. 29 de janeiro de 1990

terça-feira, 8 de março de 2016

Carrossel

[permanecer inexistente_11] Começara com os pés dentro do mar numa manhã fria do outono, como que chegado de uma imensa viagem oceânica. Gravitara em torno da maior cidade ibérica, navegar num mundo estranho de movimento, a loucura de um carrossel impossível de deter. Enorme viagem para encontrar o frio intenso, onde a chuva principiava, luz em queda sobre a noite, sentimentos dispersos e desconexos, entre o passado que une o amor, a perda, as fotografias de um arquivo vivo e infindável, projetos de lugar, caminhar humano. Acabava a recolha fotográfica ao largo do farol do Bugio, inverno entrado, como se aí, finalmente, descobrisse o coração simbólico de toda a área metropolitana de Lisboa, centro periférico, exterior ao seu espaço urbano, mas de onde era possível pressentir a cidade, a sua razão de existir, a lógica possível do seu povoamento. Era um local afirmado, de sobremaneira, pela própria existência do farol, um ponto luminoso na escuridão. Ao contrário de todos os pontos que procurava, que tinha fotografado, lugares para observar o mundo em redor, aquele ponto luminoso era como que um ponto de chegada e não de partida, era um ponto para atrair o nosso olhar e não para divergir a nossa mirada, era um ponto de orientação. O Bugio colocava-nos perante a questão de partida, com que se iniciara este jogo: o que é um ponto? No início era um desafio de descoberta, chegados ao derradeiro ponto, era o pensamento derramado, incontido, por um espaço-tempo enorme, infinito, era a perplexidade que nos oferece a reflexão humana que de um nada constrói uma cosmogonia, um sentido de existir, apenas, talvez, um modo de olhar a vida, um erro, um desvio.


C7.L - Mem Martins, Sintra - 38º48’46.15”N / 9º20’41.59”W - 12.12.2013_11:27

segunda-feira, 7 de março de 2016

Medas

[pst 137]  Em 1948 era publicado, pelo Centro de Estudos de Etnologia Penínsular, do Instituto para a Alta Cultura a obra:  Vilarinho da Furna — Uma Aldeia Comunitária. Quando ultimava os estudos para este trabalho, Jorge Dias passava pela primeira vez em Rio de Onor onde encontraria uma "organização arcaica ainda mais completa" e "o caso mais típico da organização comunitária em Portugal". Publicava então, mais tarde, Rio de Onor — Comunitarismo Agropastoril. Jorge Dias, "caminhante das serras e aldeias, amou Portugal e o seu povo como poucos o fizeram, apresentando a cultura e o valor da vida popular rural para que outros também a respeitassem e amassem" (João Eduardo Pinto Basto Lupi,  A Concepção da Etnologia em António Jorge Dias). Nem todas as suas interpretações antropológicas resistem à crítica mas o seus trabalhos exerceram uma enorme influência na sua época.

Medas — Rio de Onor. Bragança. 10 de setembro de 1990

sábado, 5 de março de 2016

Tourém

[pst 136]  Tourém é uma aldeia serrana marcada pelo comunitarismo agropastoril, de que ainda subsistem vestígios, como seja o forno do povo, onde era cozido todo o pão da aldeia. Deverá ter origem nesta organização social a estremada e invulgar qualidade do talhe da pedra dos seus edifícios. "Casas e ruas confundem-se numa só cor — a do granito." Tourém — uma aldeia comunitária do Barroso, de Paula Bordalo Lima, descreve o ambiente do povoado e a vida da comunidade.

Tourém. Montalegre. 25 de agosto de 1991

Descrever, interpretar

[permanecer inexistente_10] Num discurso fotográfico documental, mesmo num território em que fronteiras, classificações, entre linguagens descritivas e interpretativas deixam de fazer sentido, estes pontos acabam por representar um limite de possibilidade. Esse limite prende-se com a representação do ser, com os limites da linguagem, da capacidade de comunicar, espaço entre o ensurdecedor ruído e o silêncio do cosmos. O documentalismo assume a forma perfeita de arte maior, ao captar o impalpável, ao levar à experiência da vertigem do tempo como espaço infinito, a sensação plena de estarmos integrados numa cosmogonia onde a vida se revela, então, no seu absurdo, na loucura que é a consciência, nesse despertar da angústia e do medo, longe das constâncias cósmicas reveladas em fórmulas matemáticas, os movimentos celestes, as explosões incomensuráveis, os buracos negros.


C7.J - Cova do Coelho, Cascais - 38º43’29.29”N / 9º19’33.80”W - 12.12.2013_12:24

quinta-feira, 3 de março de 2016

Alto da Caroceira — Serra da Nogueira

[pst 134] A floresta de carvalhos da serra da Nogueira representa um dos últimos redutos densos desta árvore. Antigamente teve um papel muito importante no fornecimento de matéria prima para a construção. Ainda hoje a sua madeira perdura em muitas povoações: no travejamento dos telhados das casas, nos soalhos, nas varandas ou no mobiliário escasso das habitações pobres. No entanto, devido ao seu demorado crescimento, deixou praticamente de ser plantada, pois quem o fizesse, deixaria para filhos ou netos, o proveito desse gesto. A riqueza destas florestas foi-se perdendo, dando lugar a pinheiros ou eucaliptos.

Alto da Caroceira — Serra da Nogueira, Rebordãos. Bragança. 15 de maio de 1996

quarta-feira, 2 de março de 2016

Abstração num mapa

[permanecer inexistente_09] Esta era uma proposta que acabava por se revelar um tremendo exercício de liberdade, ponto de partida de caminhos insuspeitos. Por onde nos leva o acaso do determinismo geográfico? Havia, talvez, aleatoriedade nas escolha dos pontos, mas era esta intencionalidade que tornava a procura de campo sedutora. Havia um jogo inicial de persecução de um ponto abstrato num mapa. Depois, o conjunto definia uma geometria estranha, mas, de alguma forma, essa era uma imagem real de um território. Não havia a escolha prévia de pontos de interesse, determinados por uma qualquer intenção cultural, as sugestões deixadas pela história de edifícios notáveis inscritas em tomos de história da arquitetura, seguindo uma lógica determinada à partida. Havia a evidência de que os doze pontos fotografados eram completamente insignificantes no retrato de um lugar, de uma paisagem, de um território, mas era essa constatação, de um mínimo estatístico, que, contraditoriamente, tornava estes encontros especiais. O fascínio do visível estava presente. Não nos podíamos ater a um conceptualismo de regras feitas. Havia opções a tomar, diferentes modos de ver e captar a fotografia, havia o perene mistério de uma beleza, de um conceito de belo, que não podemos ignorar como um dos grandes motores da vida consciente.

C7.I - Bugio - 38º39’27.23”N / 9º17’51.05”W - 10.01.2014_12:33


terça-feira, 1 de março de 2016

Cornos das Alturas

[pst 133]  O planalto barrosão prolonga para norte a alta barreira do Marão e do Alvão. Encastoado entre as serras do Larouco, do Gerês e da Cabreira, atinge as maiores altitudes nas Alturas. Os Cornos das Alturas são um dos acontecimentos paisagísticos mais singulares deste conjunto orográfico. A designação de Terra de Barroso aparece em documentos medievais portugueses; mas teve povoamento anterior como o atestam os vestígios castrejos existentes no cabeço dos Cornos, à esquerda na fotografia.

Cornos das Alturas — Alturas do Barroso. Boticas. 5 de junho de 1996