[permanecer inexistente_11] Começara com os pés dentro do mar numa manhã fria do outono, como que chegado de uma imensa viagem oceânica. Gravitara em torno da maior cidade ibérica, navegar num mundo estranho de movimento, a loucura de um carrossel impossível de deter. Enorme viagem para encontrar o frio intenso, onde a chuva principiava, luz em queda sobre a noite, sentimentos dispersos e desconexos, entre o passado que une o amor, a perda, as fotografias de um arquivo vivo e infindável, projetos de lugar, caminhar humano. Acabava a recolha fotográfica ao largo do farol do Bugio, inverno entrado, como se aí, finalmente, descobrisse o coração simbólico de toda a área metropolitana de Lisboa, centro periférico, exterior ao seu espaço urbano, mas de onde era possível pressentir a cidade, a sua razão de existir, a lógica possível do seu povoamento. Era um local afirmado, de sobremaneira, pela própria existência do farol, um ponto luminoso na escuridão. Ao contrário de todos os pontos que procurava, que tinha fotografado, lugares para observar o mundo em redor, aquele ponto luminoso era como que um ponto de chegada e não de partida, era um ponto para atrair o nosso olhar e não para divergir a nossa mirada, era um ponto de orientação. O Bugio colocava-nos perante a questão de partida, com que se iniciara este jogo: o que é um ponto? No início era um desafio de descoberta, chegados ao derradeiro ponto, era o pensamento derramado, incontido, por um espaço-tempo enorme, infinito, era a perplexidade que nos oferece a reflexão humana que de um nada constrói uma cosmogonia, um sentido de existir, apenas, talvez, um modo de olhar a vida, um erro, um desvio.
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C7.L - Mem Martins, Sintra - 38º48’46.15”N / 9º20’41.59”W - 12.12.2013_11:27 |