[A Construção da Fuga #8] A ideia de um atlas para que alguém se possa perder. Estes são aspetos de entrada num mundo pessoal intrincado e demorado. Demorado porque levou vários anos a construir. Labiríntico porque se expõe a diversas interpretações e sugere múltiplos caminhos. Um deles pode ser o registo da imagem de um país, Portugal, o outro são os vestígios de um fazer, de um ofício, que, como numa paisagem, se vai embrenhando em si próprio.
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
quarta-feira, 28 de março de 2012
sexta-feira, 23 de março de 2012
Sentido
Vértice geodésico de São Gabriel. Vila Nova de Foz Côa. 1995 |
[A Construção da Fuga #7] Caminhar por opções de sentido. Há a consciência, vertida depois em palavra, de um movimento involuntário. Este é um jogo de regressos a tempos passados, eventualmente ao futuro, lugares onde deixámos algo que na altura não tínhamos a consciência plena do significado desse lapso, desse intervalo. A fuga é o diálogo com tempos e espaços passados, revelados em fragmentos num número imenso de fotografias e da sua desconcertante capacidade de transporte.
quinta-feira, 22 de março de 2012
Descentramento
Renault 4 com que foi feito todo o levantamento fotográfico para a obra Portugal - O Sabor da Terra. Deslocação entre Troia e Setúbal. 1997 |
[A Construção da Fuga #6] A fuga é um descentramento, é um movimento determinado, mas com destino vago, ausente. É a própria essência de uma opção de vida, com elevado risco de sentido. Como caminhar numa dimensão oculta numa cidade invisível, em que cada passo se faz apenas sobre o que o precedeu, sem visível futuro. Não há uma distinção entre diferentes esferas contidas dentro de um ser. Todo define a cosmogonia que se relaciona com uma recriação de tempo e de espaço.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Dafne
www.dafne.com.pt |
A arquitetura portuguesa contemporânea é das mais notáveis áreas da produção intelectual produzida em Portugal e uma respeitada referencia a nível internacional. Com o rigor de um projeto de arquitetura, a Dafne (www.dafne.com.pt) é uma forma singular e bela de fazer arquitetura. É uma arquitetura em forma de livro com que todos os arquitectos se identificarão, quer trabalhem em projeto, quer trabalhem nas mais diversas áreas. Antes de ser matéria, a arquitetura é a permanente procura de um mundo melhor, é o desenho de um território humano em devir. É o sonho de uma paisagem plena e integrada que quer transportar em si um sociedade justa e igualitária. É também a afirmação da singularidade de um pensamento transformado em matéria. Os livros podem ser arquitetura e neles viajarmos por um mundo da frontalidade de pensamentos elaborados, complexos e únicos, que no espaço vêem o desígnio de um tempo em que as cidades definem paisagens de equilíbrio. No Portugal de hoje estes livros mostram-nos a perseverança, a resistência e tenacidade, não apenas da arquitetura que encerram, mas da não-desistência, da luta do saber contra a lógica de mercados que enriquece muito poucos com o prejuízo de quase todos e, seguramente, com a perda de uma condição humana sustentável.
terça-feira, 20 de março de 2012
Decurso
Centro de Arte e Imagem. Tomar. 12 de março de 2012 |
No terceiro e ultimo momento foi montada a exposição. Havia um prazo limitado e esse facto foi determinante para o resultado final. Se no inicio as decisões passavam todas por Nuno Faria ou por mim, com o decorrer do tempo, espontaneamente, os alunos começaram a tomar as suas próprias decisões de forma individual ou em pequenos grupos. Com o aproximar da data de abertura ao publico, tudo se precipitou numa forma final. A exposição poderia ter outra face, mas o resultado obtido foi extremamente interessante. Foi obtida uma realização plena dos objectivos inicialmente expectados, tendo sido estes mesmo superados. As fotografias, encaradas como documentos de um processo de trabalho, foram expostas na primeira sala, na vertical, na parede com a colagem simples de fita adesiva. Não foi usado qualquer outro suporte para os vários elementos. Na segunda sala, a que apenas se acede pela primeira, foram expostas as fotografias de paisagem, agora em planos horizontais. Houve como que a subversão de expor documentos e mapas na vertical e fotografias na horizontal.
Sobre a navegação
Fotografia de Álvaro Domingues, in Vida no Campo (pp.192-193), Dafne Editora, Porto, 2012 |
Sobre Portugal e a vida, a partir de duas fotografias de Álvaro Domingues,
de A Vida no Campo.
A casa no lago é como que uma metáfora da relação que hoje estabelecemos com a terra, com o habitar, com a escala dos nossos gestos. Uma casa sobre uma jangada é um desejo de povoamento de todos os lugares, é o movimento ubíquo, improvável, de conquista do espaço. A segunda fotografia é a última do livro Vida no Campo e distingue-se de todas as outras pelo movimento e pela tensão que encerra.
O Portugal contemporâneo joga-se entre estes dois lugares: as águas tranquilas, mas enigmáticas, de um lago e um rio que enfrentamos na precariedade de uma barca pequena e frágil. Em momentos da nossa história comum conseguimos a vitória improvável sobre forças que nos eram superiores, outras vezes claudicámos e mergulhámos em tempos sombrios. Sempre sobrevivemos como povo e como cultura, mas as coisas foram mudando. Hoje a questão que se coloca é o que nos vai sobreviver? Neste aprofundamento do significado de cada vida, de cada ser humano, do indivíduo que somos antes de sermos comunidade, qual o preço de uma nação? Marginal ao problema da nacionalidade, a fotografia de um homem que enfrenta a corrente poderosa de um rio abre o diálogo com a Natureza, com as forças que nos rodeiam, que nos são exteriores e imensamente superiores à nossa capacidade de as enfrentar. Se a primeira fotografia vemos a relação económica que estabelecemos com o que nos rodeia e a possibilidade que alguns meios financeiros nos podem proporcionar, pondo a nu o eventual ridículo de mentes pobres e simples, na segunda fotografia o jogo já não será entre possibilidades e escolhas, de habitar aqui ou ali. A primeira imagem é o retrato de uma cultura; na segunda fotografia há uma luta milenar pela sobrevivência, por tudo o que de mais despojado temos, que quase se pode reduzir à condição de respirar. Num livro que interpreta um retrato, por vezes cruel, do que somos como portugueses, o discurso acaba com uma fotografia de um homem só frente à torrencialidade de um rio. Há um futuro em aberto, sempre o soubemos, mas o lugar que estamos a construir para habitar assenta em diálogos, muitas vezes surdos, que esquecem fatores importantes de equações complexas que não podemos simplificar.
A casa no lago é como que uma metáfora da relação que hoje estabelecemos com a terra, com o habitar, com a escala dos nossos gestos. Uma casa sobre uma jangada é um desejo de povoamento de todos os lugares, é o movimento ubíquo, improvável, de conquista do espaço. A segunda fotografia é a última do livro Vida no Campo e distingue-se de todas as outras pelo movimento e pela tensão que encerra.
O Portugal contemporâneo joga-se entre estes dois lugares: as águas tranquilas, mas enigmáticas, de um lago e um rio que enfrentamos na precariedade de uma barca pequena e frágil. Em momentos da nossa história comum conseguimos a vitória improvável sobre forças que nos eram superiores, outras vezes claudicámos e mergulhámos em tempos sombrios. Sempre sobrevivemos como povo e como cultura, mas as coisas foram mudando. Hoje a questão que se coloca é o que nos vai sobreviver? Neste aprofundamento do significado de cada vida, de cada ser humano, do indivíduo que somos antes de sermos comunidade, qual o preço de uma nação? Marginal ao problema da nacionalidade, a fotografia de um homem que enfrenta a corrente poderosa de um rio abre o diálogo com a Natureza, com as forças que nos rodeiam, que nos são exteriores e imensamente superiores à nossa capacidade de as enfrentar. Se a primeira fotografia vemos a relação económica que estabelecemos com o que nos rodeia e a possibilidade que alguns meios financeiros nos podem proporcionar, pondo a nu o eventual ridículo de mentes pobres e simples, na segunda fotografia o jogo já não será entre possibilidades e escolhas, de habitar aqui ou ali. A primeira imagem é o retrato de uma cultura; na segunda fotografia há uma luta milenar pela sobrevivência, por tudo o que de mais despojado temos, que quase se pode reduzir à condição de respirar. Num livro que interpreta um retrato, por vezes cruel, do que somos como portugueses, o discurso acaba com uma fotografia de um homem só frente à torrencialidade de um rio. Há um futuro em aberto, sempre o soubemos, mas o lugar que estamos a construir para habitar assenta em diálogos, muitas vezes surdos, que esquecem fatores importantes de equações complexas que não podemos simplificar.
Fotografia de Álvaro Domingues, in Vida no Campo (pp.318-319), Dafne Editora, Porto, 2012 |
segunda-feira, 19 de março de 2012
Momento
Centro de Arte e Imagem. Tomar. 12 de março de 2012 |
O segundo momento, após a sistematização de toda a informação, foi o da elaboração se um estrutura para a exposição. Havia a necessidade de definir um fio condutor que deveria funcionar apenas como amarração de um arranque do trabalho. Não se queria condicionar um devir, numa planificação prévia que não existia, mas permitir uma liberdade de desenho o mais plena possível. Um mapa foi o primeiro elemento a ser colocado na parede. Depois uma linha de fotografias foi colada ao nível do olhar a toda a extensão da única parede que iria ser ocupada na primeira de duas salas. As escolha das fotografias para esta parede foi feita pelos alunos, não em processo de diálogo que todos envolvesse, mas como a junção de fragmentos em que todos os alunos participavam. Este foi o conceito base para toda a exposição. Não se pretendia algo que nascesse de um único pensamento, ou um conjunto limitado de participantes em diálogo, mas a participação de todos no processo com as mais diversas ideias e opções.
Vida no Campo
Vida no Campo (Dafne Editora) é trabalho de Álvaro Domingues e uma reflexão sobre o Portugal contemporâneo. Não é especificamente sobre a arquitetura ou sobre as cidades, é sobre as marcas hoje deixadas nas paisagens. Há aqui uma incidência particular no detalhe e é este pormenor que nos transporta para um devir que já habitamos. Tenho, no meu trabalho, procurado o registo sistemático de um tempo longo em Portugal, a leitura e interpretação de diversos elementos, de diferentes tempos, que de forma específica marcam a singularidade de sucessivas vagas de povoamento de território hoje Portugal. Com uma ironia que se identifica com os próprios elementos que fotografa, Álvaro Domingues constrói um discurso sobre o que é atualmente o mundo rural. Existe aqui como que uma simetria temporal em relação ao meu próprio trabalho: se eu fotografo o 'passado', Álvaro Domingues fotografa o futuro, fragmentos de um tempo que, cada vez mais, são a imagem de um território vindouro. Há, na Vida no Campo, uma leitura, sem nostalgia, de um imaginário vernacular que todos parecemos admirar mas que ninguém quer já habitar. É um livro que nos dá conta de uma 'fuga' do campo, de como estas paisagens agrícolas vão sendo reinterpretadas num sistema democrático em que cada gesto é a interpretação da liberdade individual de cada um nós. Esta é uma intervenção directa na nossa face e na frente mais exposta da nossa identidade. Este é o sentido da sua crueza. Estamos a construir cicatrizes. São as marcas da diferença, da liberdade, da fragilidade, da incapacidade em lidar com todas as descontinuidades e contradições de uma globalização que se espalha numa dimensão fractal por todas as paisagens conhecidas. Este é o labor de um marcado afastamento da Natureza-mãe, de todo o desconforto e insegurança que ela nos dá. O texto e as fotografias de Álvaro Domingues colocam-nos perante esta perplexidade: a liberdade e a ausência do medo conduzir-nos-ão por paisagens insondáveis.
[A Vida no Campo teve sessão de lançamento no dia 17 de março de 2012, na Casa do Conto, no Porto e contou com apresentações de André Tavares, Valter Hugo Mãe (com texto lido por Nuno Grande), Graça Castanheira, Carlos Magno, Duarte Belo, Fernando Oliveira Baptista, Nuno Portas, Sílvia Bérény, Jorge Gaspar e João Gesta].
domingo, 18 de março de 2012
Processo
Centro de Arte e Imagem. Tomar. 12 de março de 2012 |
Durante o processo de montagem assistimos a vários momentos. Um primeiro foi o do contacto inicial dos estudantes com todas as fotografias e documentação que poderia ser utilizada na exposição. Os elementos disponíveis eram em número bastante elevado, pelo que havia que fazer opções, escolhas. Foram sistematizados conjuntos de imagens, tipologias, a partir da base inicial que era constituída por mapas de trabalho, sobretudo elaborados para a obra Portugal - O Sabor da Terra, copias de páginas de diversos cadernos de campo, listas de fotografias, apontamentos químicos sobre a revelação de película e alguns desenhos de viagem; fotografias de processo em que se podiam distinguir várias fases de diversos trabalhos, nomeadamente referentes à transição do analógico para a fotografia digital; havia ainda um conjunto de provas em papel de brometo de prata, que deveria ocupar uma segunda sala onde, mais tarde, se decidiu mostrar também provas tipográficas do conjunto de volumes já referido Portugal - O Sabor da Terra.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Objetivo
Centro de Arte e Imagem. Tomar. 12 de março de 2012 |
Depois da reunião prévia de uma série de elementos relacionados com os meus fazeres e as metodologias do processo fotográfico, parto para Tomar, no dia 12 de março de 2012. O objetivo era a realização de uma exposição com curadoria de Nuno Faria. Mas esta exposição partia de premissas nunca por mim experimentadas, pois ia ser desenvolvida por alunos de um curso de mestrado de fotografia, do Instituto Politécnico de Tomar, orientado pelo próprio Nuno Faria. Não havia, assim, uma planificação antecipada da exposição, mas apenas um conceito subjacente: a ideia de atlas, de acordo com o desenvolvimento programático do curso e com a experimentação anterior dos alunos. O atlas era algo que não reunia especificamente um conjunto de mapas, mas imagens que levaram à construção do meu trabalho de mapeamento do território português. O atlas, ao contrário de um mapa que nos localiza e nos pode mostrar um destino, é aqui um conjunto de imagens que estabelecem ligações ambíguas entre si. Ao contrário do mapa, o objetivo deste atlas é o de nos perdermos, de imaginarmos viagens sobre uma paisagem, ficção de existir.
quinta-feira, 15 de março de 2012
A Construção da Fuga
Queluz. 1992 |
Com a exposição A Construção da Fuga: Território, Mapeamento e Processo em Duarte Belo, pensada e concebida como um exercício no contexto do Mestrado em Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar, propõe-se uma reflexão sobre e a partir do processo de trabalho de um dos autores cuja actividade há mais tempo e mais sistematicamente vem incidindo na relação de constituição que se estabelece entre a imagem e o território.
Fotografias, mapas, textos, desenhos, apontamentos, itinerários. Materiais que documentam um caminhar e, de alguma forma, elucidam sobre o processo e metodologias subjacentes à gestão de uma grande quantidade de informação e à constituição de um arquivo que é, ele próprio, um lugar que se desvincula do seu referente, do espaço fotografado que representa. A Construção da Fuga é um processo de leitura do território, dos fazeres humanos sobre a terra, sobre a paisagem, é a fabricação de um lugar entre o real e o imaginário.
Fotografias, mapas, textos, desenhos, apontamentos, itinerários. Materiais que documentam um caminhar e, de alguma forma, elucidam sobre o processo e metodologias subjacentes à gestão de uma grande quantidade de informação e à constituição de um arquivo que é, ele próprio, um lugar que se desvincula do seu referente, do espaço fotografado que representa. A Construção da Fuga é um processo de leitura do território, dos fazeres humanos sobre a terra, sobre a paisagem, é a fabricação de um lugar entre o real e o imaginário.
Curadoria de Nuno Faria
Centro de Arte e Imagem - Galeria do Instituto Politécnico de Tomar
13 de março a 22 de abril de 2012
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