A forma de uma esfera. Todas as pedras pareciam estar próximas dessa forma. Depois de um olhar mais atento via que a presença de um mínimo que fosse de simetria já era algo de raro. Estava na praia do Castelejo, no sul da costa Vicentina. Uma praia que habitualmente está coberta de areia no horizonte de rebentação das ondas. Naquele ano não havia areia, mas apenas os calhaus rolados que aquela habitualmente esconde. Não me era possível fazer uma quantificação, mas deparava-me com milhares de pedras, de calhaus arredondados pela força do mar, de diferentes dimensões. Decidi procurar uma pedra cuja forma se aproximasse a uma esfera. Não recordo o tempo de demora da tarefa. Não terá sido pouco. Esta procura começava a ter qualquer coisa de obsessivo, era aí que começava um curioso jogo de aproximação e fuga, de autodomínio, de controlo de todas as procuras, síntese de um caminhar humano. Encontrei um pedra-ovo de uma simetria quase perfeita, uma pedra de matéria uniforme, quase preta, quase sem veios. Aproximava-se um pouco da forma esférica com que começara a minha procura. Trouxe a pedra comigo e juntei-a a outras, poucas, que me transportam a lugares distantes.
Um dia o meu filho mais novo, de três anos, tendo atingido uma estatura que lhe permitia ver as pedras, arrastou uma cadeira para chegar ao local onde se encontravam. Pegou na pedra-ovo, na não-esfera, e tornou-a sua.
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