terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Ao mesmo tempo

[arquivo cidade 057] Recordava os tempos em que as noites em campo aberto não eram tanto uma opção mas a única possibilidade de viajar por lugares distantes. Depois acabou por ser procurado esse silêncio, essa independência momentânea da civilização, da eletricidade, das televisões, do fogão, do duche, de quase tudo. Ao mesmo tempo havia dureza nesta opção, havia esforço continuado, havia a procura de um local de pernoita como um animal procurará a sua toca. O frio, a chuva, o vento, o sol tórrido, a água escassa, tudo para nos lembrar que a vida é uma conquista diária, que somos, de facto, máquinas de sobrevivência.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Regressar à noite

[arquivo cidade 056] Regressar ao campo, às noites em repouso sobre a terra seca; ouvir o vento nas árvores, a sentir a humidade do ar; uma extrema acuidade auditiva, como se aí estivesse uma arma defensiva em terra desconhecida. Sentir de novo o corpo integrado na natureza, a condição animal que nos ergue.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Da terra

[arquivo cidade 055] Podemos ler numerosos livros, ver cinema, teatro, televisão, diferentes interpretações da realidade, seja ela mais ou menos abrangente, mas na terra temos os sinais muito particulares de um mundo concreto, habitado por pessoas, por seres, muitas vezes, esquecidos, abandonados ao seu próprio destino, construtores de um mundo em perda, herdeiros de uma secular forma de relação com o solo. As cidades são máquinas evolutivas.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Lugares de reflexão

[arquivo cidade 054] Regressar ao campo, ao contacto com o mundo rural e a essa humanidade que vive num limbo entre dois tempos, entre dois mundos - uma existência arcaica no meio de uma natureza áspera e as cidades, com a sua dinâmica evolutiva própria e, em muitos aspetos, desgastante, mas inevitável. O silêncio rural pode ser opressivo, mas é um espaço para refletir sobre os lugares da condição humana. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Verdade particular

[arquivo cidade 053] Não há aqui qualquer modelo que se possa seguir ou sugerir, mas apenas os passos da viabilização de uma verdade particular que se procura. Agarramos os fragmentos do imenso saber de quem nos ergue ao longo de muitas gerações de conhecimento acumulado; construímos, a partir daí, uma morada para habitarmos. Há opções que nascem de necessidades concretas e este olhar poderá ter esse selo, o de procurar, em liberdade e precariedade, possibilidades.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Arquitetura popular contemporânea

[arquivo cidade 052] A arquitetura popular tradicional mostrou-nos exemplos extraordinários de sabedoria e de conhecimento, de adaptação. Hoje, as construções sem recurso a arquitetos ou engenheiros continuam a existir com grande dinamismo. Ocupam lugares de franja, não o centro das cidades, mas as suas periferias, longe dos centros de poder e onde a pobreza de recursos é mais acentuada. Ironicamente, foi também esta que impulsionou algumas das nossas mais belas peças de arquitetura popular tradicional, muitas delas que hoje apenas permanecem em fotografias.
Sesminho, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Expressão em desaparecimento

[arquivo cidade 051] A arquitetura popular tradicional, como a conhecíamos, tende a desaparecer na sua expressão em territórios contínuos e integrados com o meio ambiente. Nas fotografias ficará fixada a sua imagem. São estas representações que nos demonstram, na sua imobilidade, a passagem do tempo e a transformação que este opera sobre os habitats humanos ou sobre o espaço natural. Nada detém a erosão dos elementos, o envelhecimento dos seres, a sucessão de ciclos de vida de indivíduos, de espécies, a morte.